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Palavra do Bispo | Homilia - 17/04/2025

Homilia - 17/04/2025

Missa dos Santos Óleos – 17 de abril de 2025

Is 61, 1-3a.6a.8b-9; Sl 88(89), 21-22.25.27; Ap 1, 5-8); Lc 4, 16-21

 

Consagrados em Cristo e testemunhas da redenção

 

A Missa do Crisma marca o fim da Quaresma e o prenúncio do Tríduo Pascal. É também chamada Missa dos Santos Óleos, pois nela se abençoam o óleo dos catecúmenos (para o batismo) e dos enfermos, e se consagra o santo crisma, isto é, o santo óleo utilizado na crisma e ordenação sacerdotal e episcopal, razão pela qual, é o momento solene em que os presbíteros, em comunhão com o bispo, com todo o clero e o povo de Deus, renovam as promessas sacerdotais.

 

A oração da coleta proclama com clareza o sentido desta solene celebração. Proclama que Jesus Cristo, ungido pelo Pai com o Espírito Santo, foi constituído “Cristo e Senhor”, conforme proclamam a primeira leitura (Is 61) e o evangelho (Lc 4): o Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para da a boa-nova aos humildes (Is 61, 1; Lc 4, 18).

 

A oração proclama que sendo Cristo consagrado com a unção, também os cristãos, por inefável dádiva e divina graça, “participam de sua consagração” (cf. oração), para tornarem-se, “no mundo, testemunhas da redenção que Ele nos trouxe” (ibidem). Sim, consagrados em Cristo e testemunhas da redenção!

 

O salmo responsorial (Sl 88/89) proclama a consagração de Davi, conforme as palavras do Senhor: escolhi a Davi e o ungi, para ser rei, com meu óleo consagrado (v. 21). O reinado de Davi prefigura o reinado de Jesus Cristo, ungido como Rei do Universo. N’Ele cumpre-se a palavra do salmo: minha verdade e meu amor estarão sempre com ele (v. 25). O homem Jesus é a encarnação da verdade e do amor de Deus Pai. Ele é o Cristo: profeta da verdade, sacerdote da oferta perfeita ao Pai e rei para guiar o povo como pastor e servidor. Sim, Cristo é mestre, sacerdote e pastor.

 

A segunda leitura (Ap 1, 5-8) confirma o sacerdócio e a realeza de Jesus Cristo ao proclamar que Ele é “a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra” (Ap 1,5). O Apocalipse (2ª leitura) o proclama com os seguintes dizeres: Ele nos ama, por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1, 5.6).

 

Quando a Escritura fala de Reino de Deus, está se referindo à soberania de Deus já no que concerne às realidades da Terra, isto é, o fato que o Reino definitivo e escatológico, se faz presente, por meio de sinais, na História humana. O sacerdócio indica o caráter escatológico do Reino de Deus, visto que os sacerdotes têm a missão de ligar as realidades imanentes às transcendentes, as terrestres às celestes, as passageiras às eternas, o que é perecível ao que é incorruptível, para usar categorias da teologia paulina. Ser povo sacerdotal significa que cada fiel, batizado, vivendo em meio às vicissitudes do mundo, estão ligados às coisas do alto, onde está Jesus Cristo ressuscitado, à direita do Pai. Este é precisamente o sentido da palavra ‘religião’: religar.

 

Já afirmamos que os cristãos são, em relação a Cristo, “participantes da consagração e testemunhas da redenção” (cf. Oração). Os ministros ordenados, contudo, participam de modo ainda mais especial da consagração de Cristo. Padres e bispos são ungidos com o óleo da alegria e se tornam sacerdotes do Senhor e ministros do nosso Deus (Is 61, 6). Uns e outros, ao receberem o Sacramento da Ordem, são consagrados com o óleo da unção, o santo crisma. Os padres têm ungidas as suas mãos, enquanto que, para os bispos, o óleo do crisma é derramado sobre a cabeça.

 

Os sacerdotes, com suas mãos são ungidas e agindo in persona Christi, recebem a missão sagrada de consagrar as espécies do pão e do vinho, “fruto da terra, da videira e do trabalho humano”. Abençoam o povo de Deus, levando conforto aos sofredores e tornam-se exemplos de vida, pela oração e intensa espiritualidade. Como presbíteros, são pastores a guiar o rebanho de Cristo, a Igreja, cuidando de modo especial dos pobres, os preferidos de Deus.

 

O Documento de Aparecida intitula os presbíteros de “discípulos-missionários de Cristo bom pastor” (DAp 5.3.2). Os bispos, por sua vez, são chamados de “discípulos-missionários de Jesus Sumo Sacerdote” (DAp 5.3.1). Continua o documento, afirmando que “o bispo é princípio e construtor da unidade de sua Igreja particular e santificador de seu povo, testemunha de esperança e pai dos fiéis, especialmente dos pobres. Sua principal tarefa é ser mestres da fé, anunciadores da Palavra de Deus e da administração dos sacramentos, como servidores do rebanho” (DAp 189).

 

Os santos óleos visibilizam de forma sacramental a dimensão sacerdotal da Igreja, expressa no sacerdócio comum dos fieis e no sacerdócio ministerial. Bento XVI afirma que “o óleo é sinal da bondade de Deus que nos toca: no Batismo; na Confirmação (como sacramento do Espírito Santo); nos vários graus do Sacramento da Ordem; e, finalmente, na Unção dos Enfermos, no qual o óleo nos é oferecido como medicamento de Deus, que revigora e consola, mas ao mesmo tempo aponta para a cura definitiva, a ressurreição (cf. Tg 5,14)” (homilia para a missa crismal de 1.4.2010). Afirma ainda que na Missa Crismal, o sinal sacramental do óleo nos é apresentado como linguagem da criação de Deus.

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano