Assembleia Eclesial: uma semana em que a presença foi misturada com uma virtualidade que já provocou mais de 80 mil interações e 400 mil pessoas alcançadas nas redes sociais, com 100 mil visualizações de vídeos e 25 mil pessoas acompanhando ao vivo no YouTube. Encerramento neste domingo.
Ser uma Igreja sinodal é sentir que somos um povo, que estamos unidos àqueles com quem caminhamos dia após dia e que nos esperam na Casa do Pai. Lembrar as vítimas da pandemia foi o fio condutor da oração de abertura do penúltimo dia de trabalho da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que neste domingo se encerra com a celebração eucarística na Basílica de Guadalupe.
Tudo começou com o silêncio, símbolo dessa unidade, em um dia em que os membros da assembleia foram chamados a escolher, em discernimento sinodal, os novos caminhos que o Senhor nos convida a seguir e construir. É o fruto de uma semana, embora pudéssemos voltar muito mais atrás no tempo, uma semana em que a presença foi misturada com uma virtualidade que já provocou mais de 80 mil interações e 400 mil pessoas alcançadas nas redes sociais, com 100 mil visualizações de vídeos e 25 mil pessoas acompanhando ao vivo no YouTube.
Na saudação de abertura do dia, Rodrigo Guerra, Secretário Geral da Pontifícia Comissão para a América Latina, convidou os participantes a “aprender que estamos começando a aprender”, a experimentar que a fragilidade e os limites da condição humana não são sinais de fraqueza e não devem estar relacionados a uma percepção negativa de todas as iniciativas que estão sendo desenvolvidas nesta área. Por esta razão, ele insistiu que o chamado de Deus à missão é baseado na humildade e que não devemos recusar a atitude corajosa de pedir perdão, porque a Assembleia Eclesial é apenas um passo no grande processo conhecido como sinodalidade.
A sinodalidade da Igreja foi o tema da última reflexão da Assembleia, desta vez com duas vozes, Rafael Luciani e Maria Dolores Palencia, que afirmaram ver na América Latina “sinais emergentes de um novo modelo eclesial em chave sinodal”, nas palavras da religiosa mexicana. A conversão e a escuta aparecem como elementos que devem estar presentes, buscando chegar a um consenso, a “relações horizontais fundadas na dignidade batismal e no sacerdócio comum de todos os fiéis”.
O objetivo é “superar relações desiguais, de superioridade e subordinação, características do clericalismo, e apostar na necessidade recíproca e trabalhar juntos”, para tomar decisões pastorais, o que é algo que “se traduz efetivamente em mudanças concretas que ajudam a superar o atual modelo institucional clerical”. O que deve prevalecer é o Povo de Deus, buscando “novas e diversas formas de viver a autoridade e de tomar decisões”. Os oradores afirmaram que “esta Assembleia Eclesial conduzirá a uma autêntica sinodalização de toda a Igreja”.
Como todos os dias, a coletiva de imprensa, que na sexta-feira 26 de novembro contou com a presença do Cardeal Marc Oullet, da jornalista Lisandra Chaves, do Padre Venancio Mwangi e da Irmã Blanca Karina Farias, foi um momento de troca de informações com os jornalistas, para definir o que esta Assembleia está sendo, considerada como “uma iniciativa que quer promover um caminho conjunto em todos os níveis da Igreja”, nas palavras do Cardeal, que também a vê como “uma experiência de fé, uma experiência de Deus”. Ou como “um exemplo para a Igreja universal, que nos envolve em viver com responsabilidade e compromisso o dom e a tarefa de sermos discípulos missionários”, de acordo com a Irmã Karina.
Foram abordadas questões relacionadas ao papel da mulher na Igreja, a sinodalidade, os migrantes, a realidade das pessoas de ascendência africana e sua relação com a Igreja. Também a questão do abuso e o que está sendo feito na Costa Rica, onde Lisandra Chaves faz parte da comissão de proteção. Nesta Igreja sinodal, o Prefeito da Congregação para os Bispos defendeu estruturas de consulta e insistiu que “não existe o Povo de Deus e uma Igreja hierárquica, a hierarquia faz parte do Povo de Deus”, e que “os bispos devem comportar-se como os fiéis, em fraternidade com todos”.
Mais uma vez, os testemunhos dos membros da Assembleia, que fizeram parte dos trabalhos das tardes ao longo da semana, merecem ser mencionados. Estes testemunhos podem ser vistos como um impulso, mostrando que há pessoas que estão dispostas a dar suas vidas para tornar esta Igreja sinodal uma realidade.
A parte orante do dia foi marcada por uma leitura orante e a celebração da Eucaristia. Em sua homilia, o Cardeal Mario Grech falou sobre os pequenos rebentos, que à primeira vista podem passar despercebidos. O secretário do Sínodo dos Bispos comparou esta imagem com a vida eclesial de hoje, chamando a conhecer os frutos da vida, por menores que sejam. Recordando as palavras do Papa na abertura do Sínodo em 9 de outubro, ele disse que “este é o desafio para uma Igreja diferente, aberta à novidade que Deus quer lhe sugerir”, quando chamou a estar aberta à novidade do Espírito, a caminhar junto com ele, “criador de comunhão e missão, isto é, com docilidade e coragem”.
Falando da Assembleia Eclesial, ele destacou a consulta capilar do Povo de Deus e a definiu como “uma nova expressão do rosto latino-americano e caribenho”. Na primeira fase do caminho sinodal, baseado na escuta mútua e profunda, ele nos lembrou que Jesus nos chama a não nos concentrarmos apenas em grandes coisas, a não esperar eventos sensacionais, a não dialogar apenas com o perfeito.
Da mesma forma, ele apontou a necessidade de superar o “sempre foi feito desta maneira”, o risco de imobilidade, o que leva à procura de remendos. O cardeal insistiu em saber observar os pequenos rebentos, compreender os parâmetros de Jesus, entrar no caminho da conversão. Estamos diante de algo que “nos dá esperança no início da jornada sinodal”, pedindo que “a jornada sinodal nos leve a não privar o mundo do mistério da esperança”.
O dia foi preenchido com diferentes testemunhos sobre sinodalidade, pessoas de todos os estilos de vida, condições, inclusive eclesiásticas, e responderam às perguntas: O que é sinodalidade para você? E com que Igreja você sonha nesta Assembleia Eclesial? Perguntas que depois deste tempo que viveram de uma forma sem precedentes podem ajudar a construir aquela Igreja que se esforça para caminhar juntos, todos nós, não apenas com aqueles que escolhemos.
Texto e informações: Vatican News