Foram 53 pessoas de movimentos populares do Estado de São Paulo, junto a bispos, presbíteros, diáconos e agentes de pastorais, refletindo, debatendo e buscando sinergias para enfrentar os problemas sociais e ambientais que eclodem no mundo, no Brasil, mas também no Estado de São Paulo.
Para abrir o encontro, Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo da Diocese de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, acolheu os participantes e disse da sua alegria ao ver ações de esperança e resistência neste espaço. Lembrou que é necessário mobilizar, articular e reverter essa pirâmide onde os poucos de cima esmagam a base. E finalizou que este ano teremos esta possibilidade.
Em seguida, Dom Reginaldo Andrietta, bispo da Diocese de Jales e referencial para a 6ª Semana Social Brasileira no Regional Sul 1 da CNBB, fez sua saudação e explicou que a roda de conversa tem o intuito de articular as ações que hoje realizamos de forma isolada. Dessa forma, teremos impactos mais contundentes, que realmente podem contribuir para essa nova construção de um projeto popular para o Brasil. Diferente da realidade do país, a igreja passa por um bom momento e está aberta ao diálogo, pensando ações sociais mais pujantes a articuladas com os movimentos sociais. “Precisamos criar um pacto coletivo a partir da articulação das ações individuais. Só assim vamos conseguir interromper a política de genocídio perpetuada pelo governo atual”.
Pe. José Nelson da Silva, assessor das Pastorais Sociais do Regional, ressaltou a necessidade de olhar para o outro independente da fé. “É necessário enxergar a dor do outro como se fosse a minha, assim como a luta em busca de uma vida em plenitude, que deve ser uma luta de todos”. Para isso, Pe. José acredita que precisamos refletir a partir da nossa realidade e do nosso trabalho, pensar a realidade que queremos e então construir uma agenda em comum.
O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos. Este é o esperançar de Alessandra Miranda, secretária nacional da 6ª Semana Social Brasileira. Ela trouxe os informes e a agenda da 6ª SSB para este grande mutirão nacional. Resgata as palavras de Papa Francisco quando diz que os lutadores e lutadoras do povo são “poetas e poetisas sociais”, porque temos a capacidade e a coragem de criar esperança onde só aparece rejeição e exclusão. Explica que nos mutirões do Brasil que Temos há duas centralidades de diálogo: o cenário dos territórios e a violação dos direitos humanos e da natureza nos territórios. “A proposta dos mutirões nesta etapa será identificar as principais violações e problemas nos territórios, sinais de experiência e resistência e caminhos para as mudanças”, descreveu a secretária.
Em seguida, Eliane Martins, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), trouxe sua contribuição para a roda de conversa. Destacou que estamos passando por um momento de embate na economia, mas não podemos esquecer que o mesmo ocorre na cultura. “Ao articularmos na base, vamos nos deparar com sujeitos que há 30 anos aprenderam a defender seus direitos de forma individual. Essa lógica teve como consequência 70 milhões de pessoas em situação precária de trabalho. Ou seja, estamos em um momento no qual há demanda de pessoas militantes, dispostas a lutar por alguma causa”.
Eliane acredita que nosso problema, entretanto, não é de metodologia e nem conteúdos, mas um descompasso de estratégias. Para ela, o braço institucional fez uma jornada e o braço popular fez outra. “Temos que retomar nossas ações junto às organizações de base, precisamos nos reconectar e manter a esquerda próxima da classe trabalhadora. Precisamos ter força social organizada a partir da base. Nosso desafio, portanto, é estruturar novos militantes e mudar a política social para uma cultura de cooperação. Precisamos encontrar um caminho de participação em massa e, para isso, é necessária a formação de novos militantes. É necessário ampliar o diálogo, a articulação e, principalmente, a ação”.
Na sequência da roda de conversa, vinte pessoas, representantes de movimentos sociais, pediram a palavra. Destas falas foram sistematizados aspectos que demandam trabalho de elaboração, encaminhamentos concretos e um nível de organização, cujos objetivos sejam comuns a esta articulação.
As falas foram unânimes sobre a necessidade de reforçar e valorizar a sintonia política que já existe entre eles. É necessário que haja mais espaços de participação, que reconheçam as práticas e ações populares em curso. As pessoas querem participar democraticamente, serem escutadas, ouvidas, consideradas em suas reflexões e não apenas convocadas para o AGIR. É necessário romper com o método das agendas, dos eventos, dos projetos e calendários que em geral alimentam a fragmentação e a descontinuidade das ações. As falas destacaram ainda que estas críticas devem ser seguidas com a formulação de propostas, tanto de conteúdo como de método, de modo que avance para proposições de políticas pública, social, popular e de forma integrada. Popular porque não é para as pessoas, mas com as pessoas, que precisam sair da condição de usuárias e ou beneficiárias para a condição de sujeitas participes. Isso envolve a atuação espaços com condições de reflexão, decisões, ações e corresponsabilidades.
Para terminar o encontro, por unanimidade, acolheu-se a proposta da construção de uma agenda que unifique as ações de militantes territoriais, históricos e também a mobilização de uma nova geração, a juventude. Deve-se mapear, encontrar, visitar, ouvir, convidar, propor ações e espaços de participação com reflexão. Convergir em 2022 para espaços comuns de identidades diversas como lutas, contra a fome, ambientais, culturais, de gênero, de políticas públicas etc. Nossa perspectiva deve ser formativa, da integração e sinergia de processos e lutas. Tudo com muito afeto, carinho e cuidado. Estamos vivendo sob muitas angústias e pressões, por isso, a nossa mística, a nossa fé e a nossa militância devem nos trazer esperança, força e energia na caminhada.
Texto, informações e foto: Regional Sul 1 da CNBB