O bispo diocesano de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, dom Pedro Luiz Stringhini, visitou organismos da Cúria Romana entre os dias 19 e 23 de setembro. Audiência com o Papa Francisco fez parte da programação do primeiro grupo do episcopado do Estado de São Paulo no Vaticano por ocasião da Visita Ad Limina Apostolorum.
AUDIÊNCIA
O Papa Francisco recebeu os bispos das Províncias Eclesiásticas de São Paulo, Aparecida e Sorocaba no último dia 23 de setembro. O encontro, parte importante da programação da Visita Ad Limina Apostolorum, aconteceu na Biblioteca Vaticana. “Num ambiente alegre e descontraído, que possibilitou uma forte experiência de amizade e fraternidade, geradora de entusiasmo e ânimo para os bispos, suas dioceses e todo o povo de Deus”, o episcopado paulista teve a oportunidade de interagir com o Pontífice por meio de perguntas e intervenções diversas.
O bispo diocesano de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, dom Pedro Luiz Stringhini, detalha pontos do diálogo em entrevista.
PARTILHA
A Visita Ad Limina Apostolorum de parte dos bispos do Regional Sul 1 aconteceu na segunda quinzena de setembro. Quando o episcopado se reuniu com o Santo Padre e como foi esse encontro?
Dom Pedro - O Papa Francisco recebeu em audiência, no dia 23 de setembro de 2022, os arcebispos e bispos das Províncias eclesiásticas de Aparecida, São Paulo e Sorocaba, do Regional Sul 1 da CNBB, que realizavam a Visita Ad Limina Apostolorum. Na entrada, o Santo Padre saudou os bispos um a um, recebendo deles algumas lembranças e correspondências. Iniciando a audiência, permitiu a cada bispo que desejasse fazer uso da palavra. A primeira intervenção foi o agradecimento ao Papa pela boa acolhida dispensada aos bispos nos dez dicastérios em que foram recebidos, num clima diálogo, escuta e troca de experiências. Foi dito ao Santo Padre que tal espírito de fraternidade foi compreendido como reflexo de sua orientação e seu modo de conduzir a Igreja, em que deve prevalecer a dimensão do serviço.
Ainda no contexto da acolhida, alguma outra intervenção pode ser destacada?
Dom Pedro - Outro irmão bispo recordou e agradeceu ao Santo Padre Francisco pela sua clara e explícita opção pelos pobres, seu empenho na defesa da criação e interesse pela preservação da Casa Comum, o Planeta Terra, conforme a Encíclica Laudato Si’ (2015) e os esforços em favor da Paz mundial. Mencionou-se a guerra na Ucrânia e a difícil situação do Líbano. Perguntado sobre a possibilidade de uma visita ao Líbano, o Papa respondeu afirmativamente.
O Papa Francisco tem expressado, em diversas ocasiões, seu desejo de que os bispos tenham “o cheiro das ovelhas”. Alguma exortação nesse sentido por parte do Pontífice?
Dom Pedro - Aos bispos – pastores da Igreja à frente de suas dioceses – o Papa exortou que sejam pastores segundo o coração de Deus. Disse que “a proximidade é o estilo de Deus” e que “não se pode ser pastor sem proximidade”. Lembrou quatro dimensões dessa proximidade: “com Deus, pela oração; entre os irmãos bispos, no exercício da unidade e da comunhão; com os sacerdotes, na fraternidade presbiteral e afeto ao clero, e com o povo, no cuidado das pessoas, especialmente dos que sofrem e dos pobres.
Antes de ser escolhido para Bispo de Roma (como prefere tratar sua escolha para sucessor de Pedro), o Papa Francisco, ainda cardeal Bergoglio, participou ativamente da Conferência de Aparecida. O Documento editado naquela ocasião completou 15 anos em 2022. Os bispos tiveram a oportunidade de recordar esse fato?
Dom Pedro - No momento em que o Documento de Aparecida foi mencionado, o Papa recordou as anteriores conferências episcopais latino-americanas, citando Dom Luciano Mendes de Almeida como aquele que garantiu se chegasse a bom termo o Documento de Santo Domingo (1992). Recordou a linha ecológica do Documento de Aparecida (2007), ressaltando que, para a elaboração da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, ele mesmo se inspirou em Aparecida e na Exortação Apostólica de São Paulo VI, Evangelii Nuntiandi (8 de dezembro de 1975), sobre a evangelização.
A questão do “clericalismo” é recorrente nas falas do Santo Padre. Muito se falou sobre esse assunto na fase diocesana das consultas do Sínodo dos Bispos 2023. Alguma pista de ação oferecida por Francisco?
Dom Pedro - Um dos bispos agradeceu o Santo Padre pelo Sínodo, cuja assembleia será em 2023 e cujo processo de consulta, preparação e vivência prática está acontecendo nas dioceses, a partir do tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Falou-se do esforço de superação do clericalismo, e para tanto, completou o Papa, é necessário revisitar o texto da Lumen Gentium (LG) com sua chave de compreensão que é o conceito de Igreja Povo de Deus. O Papa lembrou ainda ser propício, no momento atual, retomar as quatro constituições conciliares: Lumen Gentium, Dei Verbum, Sacrosanctum Concilium e Gaudium et Spes.
A Audiência com o Papa, no dia 23 de setembro, foi norteada por algum outro assunto?
Dom Pedro - Abordaram-se ainda outros temas de grande importância: os tribunais eclesiásticos diocesanos, sobretudo no encaminhamento e solução para processos matrimoniais; a comissão de proteção aos vulneráveis e a tolerância zero em relação aos abusos; o cuidado e a evangelização da juventude, com destaque às Jornadas Mundiais da Juventude e a presença da Igreja nas escolas, não só confessionais e particulares, mas sobretudo nas públicas; a importância e abrangência da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia (19 de março de 2016), sobre o amor na família, dirigida especialmente aos esposos cristãos.
Partilhas pastorais também foram realizadas, não é mesmo?
Dom Pedro - O Papa Francisco abriu aos bispos a possibilidade de relatar alguma experiência de prática pastoral junto aos mais pobres. Foram mencionadas experiências ligadas às pastorais sociais e às Cáritas Diocesanas.
O Papa Francisco pede, com frequência, orações pelo nosso país. No último domingo, tivemos as eleições. O Santo Padre tem acompanhado o debate político nacional?
Dom Pedro - Fez-se referência ao momento atual do Brasil, a poucos dias das eleições para deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República. O Papa mostrou-se solidário aos esforços da Igreja e de toda a sociedade organizada para serenar os ânimos e evitar a violência. Sobretudo, haja vigilância para que os resultados das eleições sejam reconhecidos e a democracia seja preservada e fortalecida.
Qual o balanço do encontro com o Papa Francisco?
Dom Pedro - O encontro foi rico em conteúdo, num ambiente alegre e descontraído, que possibilitou uma forte experiência de amizade e fraternidade, geradora de entusiasmo e ânimo para os bispos, suas dioceses e todo o povo de Deus. Os bispos colheram do Papa Francisco seu testemunho e sua bênção.
Entrevista: Regional Sul 1 da CNBB
Fotos: Vatican Media
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