Home

Nossa Diocese | Discurso de posse do diretor acadêmico da Faculdade Paulo VI

Preparei algumas palavras para agradecer a todos vocês, senhoras e senhores. Palavras sempre limitadas, tanto ou mais após termos celebrado o maior agradecimento de todos, a Santa Missa, Eucaristia, que é, em sua mais nuclear essência “ação de graças”.

 

Recordo-me do salmo 115: “Como poderei retribuir ao Senhor por todo o bem que me fez? Elevarei o cálice da vitória e chamarei o Senhor pelo nome.” – com efeito, foi isso o que acabamos de fazer: invocamos o nome santo do Senhor, princípio e fim de todas as coisas. Mistério da nossa fé.

 

Envolvidos por essa atmosfera festiva, reconheço ser muito significativo celebrar a conclusão de mais um ano acadêmico no interior desta Matriz. De fato, foi no salão da Catedral que a Paulo VI, ainda em germe, deu seus primeiros passos na década de 1980, projetando-se ao futuro alvissareiro que se fez história, na qual a história pessoal de tantos de nós se irmana pelo bem da Igreja. O lugar sagrado que nos acolhe, berço da nossa Faculdade, é também expressão do impulso vocacional para o qual ela nasceu. À semelhança das primeiras universidades do mundo, nascidas à sombra das torres das Catedrais, também nossa Faculdade reconhece por berço esta igreja, monumento de eloquente louvor à fé e à história do bom povo desta terra.

 

Enquanto cooperadora da Verdade, reconhecemos, assim, a orientação transcendental daquilo que a Faculdade Paulo VI acolheu por missão ao nascer: ser instrumento da razão que promove a fé e da fé que oferece à razão a sua estatura ideal.

 

Por conseguinte, a ocasião põe em relevo a dimensão eclesial inerente à vida da comunidade acadêmica constituída pelas diferentes instâncias componentes da Faculdade. Com efeito, é à luz da Tradição e do Magistério da Igreja que a instituição educativa se entende e se reconhece como tal. Faltando essa eclesialidade, os esforços e iniciativas se degeneram na fragmentação das ideologias, que corrompe a verdade e faz ruir a unidade sobre a qual se ergue o futuro certeiro tão almejado por todos nós. Eclesialidade é o caminho sobre o qual auspiciamos perseverar. É, igualmente, o critério decisivo para que nosso trabalho seja eco, não de projetos pessoais, mas resposta generosa às reais necessidades da Igreja no presente da história.

 

Nesse sentido, é ilustrativa a exortação do Papa Paulo VI, nosso patrono, quando do encerramento do Concílio Vaticano II. Dirigindo-se aos homens de pensamento e de ciência, a 8 de dezembro de 1965, afirmou:

 

“Talvez nunca como hoje, graças a Deus, foi tão bem-vinda a possibilidade de um profundo acordo entre a verdadeira ciência e a verdadeira fé, servindo uma e outra a única verdade. Não impeçais este precioso encontro. Tende confiança na fé, a grande amiga da inteligência.” (...) “Pensar é também uma responsabilidade: infelizes daqueles que obscurecem o espírito pelos mil artifícios que o deprimem, o tornam orgulhoso, o iludem, o deformam. Qual é o princípio básico para os homens de ciência senão esforçarem-se por pensar corretamente?”

 

Na qualidade de servidores da Verdade, caros amigos, não podemos improvisar, mas sim, somos chamados a viver responsavelmente a missão a nós foi confiada. No contexto atual, marcadamente relativista, quando o falso assume o lugar do verdadeiro, o esforço para pensar corretamente – como recordou Paulo VI – é urgente e necessário.

 

Nessa mesma direção, o Santo Padre, Papa Francisco, na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, carta magna que rege as universidades e faculdades católicas em todo o mundo, orienta:

 

“Efetivamente estes (os estudos eclesiásticos) não são chamados apenas a oferecer lugares e percursos de formação qualificada dos presbíteros, das pessoas de vida consagrada e dos leigos comprometidos, mas constituem também uma espécie de providencial laboratório cultural onde a Igreja se exercita na interpretação performativa da realidade que brota do evento de Jesus Cristo e se nutre dos dons da Sabedoria e da Ciência.”

 

A cidade de Mogi das Cruzes possui robusta e consolidada tradição universitária, referência para a região do Alto Tietê e para o Estado de São Paulo. Encorajada pela exortação do Papa Francisco, nossa comunidade acadêmica deseja continuar a enriquecer essa nuance própria da cultura local. Fa-lo-á buscando cada vez mais a excelência dos cursos de Filosofia e Teologia, em diálogo com a sociedade e atenção aos sinais dos tempos.

 

Por fim, apraz-me evocar, qual indicativo programático para a missão doravante a cumprir, o sábio conselho do Papa Francisco: “O bom teólogo e filósofo mantém um pensamento aberto, ou seja, incompleto, sempre aberto ao maius de Deus e da Verdade, sempre em fase de desenvolvimento” (Veritatis Gaudium). Esse conselho podemos, também, sugerir aos formandos 2021.

 

A consciência de que o labor de muitas pessoas nos precede e nos sucederá, adverte para a abertura sincera ao Divino Espírito Santo, vínculo de amor e fonte da comunhão. Abrir-se ao maius do Mistério é, por isso, deixar-se conduzir pedagogicamente pela Verdade que nos possui e empenhar-se na promoção da comunhão entre nós que compartilhamos a mesma missão.

 

Também Aristóteles – não poderia deixar de citá-lo – afirma: “Na medida do possível, precisamos nos comportar como imortais e tudo fazer para viver segundo a parte mais nobre que há em nós”. Para além da finalidade pastoral do ofício hoje assumido, reconheço também seu alcance sobrenatural. Realmente, zelar pela instituição que custodia o ensino da filosofia e teologia significa cuidar do ambiente vital de cuja seiva brota e floresce pessoas imbuídas de renovado humanismo.

 

Concluo partilhando o sentimento particular que me toma neste momento especial. Sinto-me em casa no reduto onde desenvolverei meu ofício. A Faculdade Paulo VI é minha alma mater. Nela fui iniciado na instigante tarefa de perscrutar a Verdade para, no ministério presbiteral, ir ao encontro das pessoas munido com o lume do Cristo, caminho, verdade e vida.

 

Assim sendo, o amor e a dedicação ao trabalho em prol da Faculdade hão de ser expressão concreta da minha gratidão para com a Diocese de Mogi das Cruzes, bem como reconhecimento da bela história que nos redime, pois retirando-nos da indigência, nos insere no caminho, cuja fonte e destino é o Mistério insondável de Deus.

 

Nesse caminho cada um é chamado a oferecer sua contribuição para o bem do Evangelho e da Igreja. Numa palavra: que a ciência devida ao professor que ensina e gerencia, esteja indissociavelmente unida à reverência do cristão e do sacerdote que acredita e celebra sua fé. Assim a Verdade triunfará sobre nós, no encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, em quem a vida descobre seu rumo decisivo.

 

 Obrigado.

 

Prof. Me. Pe. Thiago Cosmo

Mogi das Cruzes - 17 de dezembro de 2021