Este artigo apresenta, de modo bastante resumido, a vida de São Romualdo de Ravena e alguns aspectos da Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento nascida a partir do exemplo desse santo.
Romualdo – descendente de uma família nobre, de sobrenome Honesti –, nasceu, por volta do ano 952, em Ravena, no Centro Norte da Itália. De início, a fé pouco lhe importava, embora a contemplação da natureza já lhe despertasse um latente desejo das coisas eternas e da solidão para se ocupar só de Deus. Aos vinte anos, no entanto, Romualdo presenciou – forçado por Sérgio, seu pai –, um duelo entre este e um parente próximo numa disputa por terras. No combate, Sérgio matou seu oponente. Ora, isso fez nosso futuro santo se sentir, de algum modo, culpado e desejar, por isso, expiar sua culpa. Foi, então, passar 40 dias no mosteiro de Santo Apolinário, em Classe, perto de Ravena. Concluída a fase de expiação, Romualdo teve uma visão do santo patrono do mosteiro e decidiu tornar-se monge naquela comunidade.
Dada a seriedade com que levava a vida monástica, despertou certo desconforto nos seus irmãos de hábito. Deixou, então, o mosteiro e, com Marino, passou a viver por algum tempo, uma vida eremítica. A convite dos monges de São Miguel de Cusan, na França, aí habitou por quatro anos e, graças ao abade Guarino, adquiriu boa cultura monástica. Por inspiração de Deus, começou a restaurar e a construir mosteiros em vários regiões e a enviar monges para terras de missão. O próprio Romualdo, aliás, desejoso de ser mártir, partiu para evangelizar outros povos, mas, impedido por problemas de saúde, não conseguiu realizar essa santa aspiração.
Lembremo-nos, aqui, de que o seu mais famoso mosteiro foi edificado, em 1025, em Arezzo, na Itália, e chama-se Camáldoli. Daí o nome da Congregação: Camaldolense. Ao entregar sua alma a Deus, em 19 de junho de 1027, nosso santo vira a conversão de seu pai, que também se fez monge, e a expansão de seus filhos espirituais por várias terras (cf. São Pedro Damião. A Vida de São Romualdo. Camáldoli, 1988).
Sobre essa perdurável obra de Romualdo, o Bem-aventurado Rodolfo († 1088) escreve: “O eremitério de Camáldoli foi edificado pelo santo pai eremita Romualdo [...]. Tendo construído ali cinco celas, o santo estabeleceu nesse lugar cinco de seus irmãos companheiros [...]. Isso feito, encontrou mais abaixo um lugar chamado Fonte Boa, e construiu uma morada, estabelecendo ali um monge com três irmãos conversos para a acolhida dos hóspedes” (VV. AA. Como água da fonte. São Paulo: Loyola, 2009, p. 25). Em outras palavras, no alto, havia o eremitério; na planície, a casa de hospedagem que, com o tempo, tornou-se um mosteiro de vida comum.
Disso tudo, conclui-se o seguinte: “Camáldoli era uma comunidade monástica que vivia ao mesmo tempo – e quase que no mesmo espaço – a vida cenobítica-comunitária e a vida eremítica-solitária” (idem, p. 10). Em suma, é um modo de vida monástico plural. Sim, “a Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento é constituída por eremitérios e mosteiros. O elemento característico da tradição camaldolense é a unidade da família monástica no triplo bem de cenóbio-eremitério-evangelização. Três são os bens para aqueles que procuram o caminho do Senhor: para os noviços que vêm do mundo, o desejável cenóbio; para os maduros sedentos de Deus, a áurea solidão do eremitério; enfim, para aqueles que anseiam ‘dissolver-se e estar com Cristo’, o anúncio do Evangelho entre os pagãos” (ibidem, p. 11. Cf. São Bruno di Querfurt. Vita dei Cinque Fratelli. Camáldoli, 1951, p. 41).
Fiel à tradição já quase milenar, mas aberta aos sinais dos tempos, na obediência à Igreja, a Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento se faz presente em vários países, inclusive no Brasil. Aqui, depois de uma fundação que não prosperou, no século XIX, em Caxias do Sul (RS), os camaldolenses retornaram, em 1985, a convite de Dom Emilio Pignoli, então bispo da diocese de Mogi das Cruzes (SP), para fundar um mosteiro numa aprazível área rural desse município e aí estão a serviço de Deus e do próximo.
Para mais informações: delredo@hotmail.com (Prior).
Vanderlei de Lima é escritor
O artigo publicado originalmente em Aleteia.