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Palavra do Bispo | São José

São José

Solenidade de São José

Instalação do Santuário São José

Salesópolis, 19 de março de 2020

 

Na alegria e na ação de graças pela instalação do Santuário São José, em Salesópolis, diocese de Mogi das Cruzes, é justo entoar o salmo que proclama: “felizes os que habitam vossa casa, para sempre haverão de vos louvar!” (Sl 83,5).

 

Todo santuário é a expressão visível e lugar privilegiado da presença de Deus, onde resplende a sua glória e de onde irradia sua santidade, fazendo ecoar sua própria voz que conclama: “Sede santos, como eu, o vosso Deus, sou santo (Lv 19,2). 

 

A fé cristã proclama que o verdadeiro santuário dessa presença gloriosa e santificadora de Deus é Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro Templo. Referindo-se ao templo de Jerusalém, Jesus o denomina, “a casa do meu Pai” (Jo 2, 16), a quem se dirige rezando: “o zelo por tua casa me devora” (Jo 2,17). De fato, quando afirma: “destruí este templo e em três dias eu o levantarei” (Jo 2,19), ele “falava do templo do seu corpo” (Jo 2,21).

 

Na cruz, quando de seu lado aberto pela lança fez jorrar sangue e água, se realiza, sem sombra de dúvida, o cumprimento da profecia de Ezequiel, segundo a qual, do santuário brota uma torrente de água e, “em todo lugar por onde passar a torrente, os seres vivos que o povoam terão vida”, isto é, “haverá vida em todo lugar que a torrente atingir” (Ez 47,9). Jesus Cristo é o santuário de onde brota a água viva, para que dela possa beber todo aquele que tem sede de Deus. Do lado aberto de Cristo, fonte de vida, jorra “uma torrente de graças”, isto é, os dons do Espírito Santo e os sacramentos da Igreja, de modo que todo santuário venha a ser, por excelência, o lugar sagrado da celebração da Eucaristia, verdadeira fonte de vida e santidade, banquete sacrifical que proclama a morte e ressurreição de Cristo para a glória de Deus Pai.

 

Contudo, é a Carta aos Hebreus que proclama Jesus Cristo como sumo e eterno sacerdote da nova aliança. Filho de Deus, Ele “é o resplendor de sua glória e a expressão do seu Ser” (Hb 1,3). Sim, o resplendor de um santuário é figura e imagem do Cristo, santuário de Deus, que é ao mesmo e altar, cordeiro imolado e sumo sacerdote. De fato, a Carta aos Hebreus afirma que Ele “é ministro do Santuário e da Tenda verdadeira” (Hb 8,2) e “sumo sacerdote dos bens vindouros (Hb 9,11). E que “o santuário construído por mão humana é réplica do verdadeiro” (Hb 9,21).

 

Passando para o livro do Apocalipse, vislumbra-se, no Cristo, Cordeiro imolado e ressuscitado, a realidade da Jerusalém celeste, “o novo céu e a nova terra” (Ap 21,1), “a tenda de Deus com a humanidade”, onde “nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor e nem dor, pois as coisas antigas se foram” e a voz de Deus se faz ouvir: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,3-5).

 

Este santuário de São José, cuja beleza e esplendor irradiam a presença e a glória de Deus, é casa de oração, lugar da presença de Cristo e do reino de verdade, santidade, justiça e paz por Ele proclamado. É também casa da Virgem Maria, arca da aliança, vaso espiritual e, nesse município, venerada também com o título de Nossa Senhora dos Remédios. Ela caminha com os peregrinos e os romeiros, apontando-lhes a direção de Cristo e orientando-os a que “façam tudo o que Ele lhes disser” (cf. Jo 2,5). E tem como padroeiro São José, “o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo” (Mt 1,16). No Evangelho dessa solenidade, ouviu-se o quanto José, justo, silencioso e obediente, com grande humildade, acolheu a vontade de Deus, pela palavra do anjo Gabriel: “José, Filho de Davi, não temas receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21).

 

O Documento de Aparecida afirma que “nossos povos nutrem um carinho e especial devoção por José, esposo de Maria, homem justo, fiel e generoso, que sabe se perder para se achar no mistério do Filho. São José, o silencioso mestre, fascina, atrai e ensina, não com palavras mas com o resplandecente testemunho de suas virtudes e de sua firme simplicidade” (Doc. Ap. 274).

 

Pai adotivo de Jesus, formou o Filho de Deus na tradição da fé judaica pois o próprio Deus Pai confiou a formação humana de seu Filho unigênito à paternidade de José, a quem confiou também “as primícias da Igreja” (cf. Oração da coleta), da qual ele se tornou patrono universal e, como tal, patrono de Igrejas diocesanas e paroquiais, como é o caso de Salesópolis, outrora chamada de São José do Paraitinga.

 

Sob sua intercessão e devoção, esta cidade nunca deixou arrefecer o ardor da fé cristã e da tradição católica, o que a destaca positivamente entre os demais municípios. Tal devoção e tal modo peculiar de expressar sua fé se integra aos demais aspectos da vida do povo salesopolense, com destaque aos valores da família e da fraternidade cidadã, cuja raiz e substrato se embasam no evangelho de Jesus Cristo, pela intercessão de Maria Santíssima e seu esposo São José. 

 

Hoje, a majestosa Igreja matriz de Salesópolis é elevada à categoria de Santuário Diocesano São José. Louvado seja Deus! Esta paróquia, pelos méritos dos atuais pároco, vigário, diácono e colaboradores, sucedendo a outros abnegados sacerdotes que por aqui anteriormente passaram, fez por merecer. Também concorreu para esse momento o empenho, esforço e colaboração da sociedade civil, à qual a Igreja quer expressar reconhecimento na pessoa do Exmo. Sr. Prefeito Municipal, Vanderlon Oliveira Gomes e demais autoridades da Estância turística de Salesópolis.

 

A riqueza da arte sagrada que adorna as paredes e o conjunto dessa imponente igreja, a arraigada devoção à Santíssima Eucaristia, o conjunto das demais capelas e comunidades cristãs que compõem essa Paróquia, o afluxo contínuo de peregrinos e romeiros de outras localidades que devota e fervorosamente para esse local acorrem, tudo isso e tantos outros fatores, solidificaram a posição a que foi alçada essa casa de oração e bênçãos de onde, pela celebração dos sacramentos, a graça de Deus se expande nos corações, nas famílias e a todos quantos imploram o auxílio divino.

 

O contraste entre a luminosidade e a beleza desse sublime momento contrasta, nos dias de hoje, com o cenário de incerteza, perplexidade, angústia e sofrimento que a todos aflige, pelo aparecimento e rápida difusão da pandemia Corona Vírus, a peste em tempos de pós-modernidade. Ninguém imaginava tal situação. Conforta recordar que, outrora, pela fé e oração desse povo, outra peste aqui foi vencida, dando origem à bela devoção à Santíssima Eucaristia, mantida viva até os dias atuais.

 

Mais do que nunca, é preciso que as portas desse santuário se abram para socorrer, consolar, abrigar, orientar e, sobretudo, para que ele seja o que de fato é: casa de oração, lugar de refúgio e refrigério, especialmente aos pobres. Seja esse santuário presença viva de Cristo bom pastor, aconchego dos braços maternos de Maria, presença silenciosa e eficaz do humilde e glorioso padroeiro São José.

 

Como a fumaça do incenso, suba até à vossa presença, Senhor, a prece do vosso povo aqui reunido (cf. Sl 140/141, 2) e de todos os que, unidos e suplicantes, imploram saúde, proteção e misericórdia. Deus abençoe o Município e o povo de Salesópolis! Deus abençoe a Paróquia e o Santuário Diocesano São José! Viva São José!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano

Salesópolis, 19 de março de 2020