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Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

Romaria do Clero de Mogi das Cruzes – 04.08.2020

Santuário Nacional de Aparecida

 

Vós sereis meu povo e eu serei vosso Deus (Jr 30,22)

 

Vós sereis meu povo e eu serei vosso Deus (Jr 30,22). Este pensamento do Profeta Jeremias, extraído da 1ª. leitura, ilumina e inspira nossa reflexão, nesta Eucaristia, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, onde, mais uma vez, o clero da Diocese de Mogi das Cruzes se reúne, em romaria, para celebrar, como pastores mas também como peregrinos, a festa de São João Maria Vianney, o Cura D’Ars, padroeiro dos padres diocesanos.

 

São João Vianney foi pároco da pequenina cidade de Ars, na França, país em que nasceu, em 1786, e morreu, na noite de 4 de agosto de 1859, aos setenta e três anos de idade. Um santo sacerdote do século XIX. A oração da missa já recorda que ele foi um “pároco admirável”, movido de grande “solicitude pastoral”, com incansável e perseverante desejo de “conquistar no amor de Cristo os irmãos e irmãs” para Deus. É dele o sábio provérbio: “o sacerdote é o amor do Coração de Jesus”.

 

Esta romaria acontece nesse período difícil da pandemia que atingiu o Brasil e continua a se propagar. Rezemos pelos mortos (incluindo 21 sacerdotes e 2 bispos), pelos doentes e pelos profissionais de saúde. O Santuário de Aparecida também permaneceu alguns meses com as portas fechadas para a celebração das missas, que puderam ser acompanhadas graças ao precioso serviço de transmissão dos meios de comunicação. Felizmente, suas portas puderam-se abrir novamente e com isso o clero de Mogi das Cruzes vive esse momento de alegria e ação de graças ao celebrar com a presença dos romeiros. Louvado seja Deus!

 

A Igreja de Cristo é a porção do povo de Deus, cuja missão é ser sinal visível do Reino de Deus. Como sacramento de salvação, povo sacerdotal e nação santa, necessita, em meio a tantos sofrimentos do tempo presente, congregar-se para celebrar os santos mistérios e, dessa forma, renovar a aliança com Deus que proclama (cf. a 1ª. Leitura): “vós sereis meu povo e eu serei vosso Deus” (Jr 30,22).

 

A aliança encontra seu fundamento no amor de Deus que liberta e salva. Ele mesmo vem em socorro do seu povo, para glorificá-lo e não humilhá-lo (cf. Jr 30,19b). Diz Jeremias que, diante da incurável ferida e da maligna chaga, sem diagnóstico e sem remédio e diante da dor insanável (cf. Jr 30,12.13.15), o Senhor vem em socorro com palavras de consolo: “trarei o remédio e curarei as feridas” (cf. Jr 30,17), “mudarei a sorte das tendas de Jacó e terei compaixão de suas moradas, a cidade ressurgirá das suas ruínas e uma casa terá lugar com sólidas fundações; de lá sairão cânticos de louvor e sons festivos. Teus filhos serão felizes como outrora, e sua comunidade, estável na minha presença” (Jr 30,17.18-19a,20).

 

Sim, Jeremias tem certeza de que “aquele que dispersa Israel o reunirá. Ele o guardará como pastor a seu rebanho” (Jr 31,10). O Deus da Aliança é representado na figura do pastor. Já no início do livro de Jeremias, Deus promete: “dar-vos-ei pastores segundo meu coração, que vos apascentarão com conhecimento e prudência” (Jr 3,15). E continua: “eu mesmo reunirei o resto de minhas ovelhas ... e as farei retornar às suas pastagens ... estabelecerei pastores para elas, que as apascentarão ...” (Jr 23,3.4).

 

Ezequiel profetiza contra os maus pastores “de Israel que se apascentam a si mesmos” em vez de “apascentar o seu rebanho” lembrando que “por falta de pastor, as ovelhas se dispersaram” (Ez 34,2.5). Por isso, diz o Senhor: “eu mesmo cuidarei do meu rebanho e dele me ocuparei. Como um pastor cuida do seu rebanho ... assim cuidarei das minhas ovelhas e as recolherei de todos os lugares por onde se dispersaram em dia de nuvem e de escuridão ... (Ez 34,11.12).

 

Assim diz o Senhor: “suscitarei para eles um pastor que os apascentará ... Serei o seu Deus e meu servo Davi será príncipe entre eles ... concluirei com eles uma aliança de paz ... (Ez 34,23.24.25). Depois, fala diretamente ao povo: “E vós, minhas ovelhas, vós sois o rebanho humano do meu pasto e eu sou o vosso Deus” (Ez 34,31). 

 

Em resumo: Deus é o pastor e suscita bons pastores para apascentar suas ovelhas. Mais ainda, envia o descendente do pastor Rei Davi, isto é, o Filho unigênito, Jesus Cristo, o supremo pastor (1Pd), que diz: “eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida por suas ovelhas ... Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem ... Eu dou a vida por minhas ovelhas; eu lhes dou a vida eterna (Jo 10,11.14.15.28).

 

A missão do Cristo pastor continua através da Igreja, por isso Ele escolhe, chama e envia os doze apóstolos, seus sucessores (os bispos) e seus colaboradores (os padres). Pela graça do sacramento da Ordem e pela unção do Espírito Santo “os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor (cf. PDV 15). Configurados a Cristo, agindo “na pessoa de Cristo” e movidos pela caridade pastoral, os sacerdotes se consagram ao serviço do povo de Deus, a partir da tríplice missão de Cristo: sacerdote, profeta e pastor.

 

Eles alimentam a vida espiritual dos cristãos e das pessoas que os procuram, apresentando a Deus, na Eucaristia, a oferenda do povo unida ao oferecimento da própria vida. Pela oração do sacerdote, como proclamou o salmo responsorial, Deus “ouvirá a oração dos oprimidos e não desprezará sua prece”, pois o Senhor “inclinou-se de seu templo nas alturas e olhou a terra do alto céu, para os gemidos dos cativos escutar e da morte libertar os condenados” (Sl 101/102,18.20.21).

 

A graça sacramental da ordenação, a consagração pelo Espírito Santo, a identificação com Jesus Cristo e a centralidade da Eucaristia são elementos basilares de uma espiritualidade que torna os ministros sagrados firmes na fé, alegres na esperança e constantes na caridade, encontrando a verdadeira alegria na missão pastoral de zelar pelas famílias, orientar os jovens, consolar os aflitos, socorrer os pobres, reconciliar os pecadores, levando esperança em meio às dores. Proclamarão, com convicção e firmeza, a verdade que dissipa a cegueira e não deixa que o rebanho do Senhor caminhe desorientado como uma multidão de “cegos guiando cegos” (Mt 15,14) (evangelho). E quanta cegueira nos dias de hoje! 

 

Na festa do Santo Cura D’Ars, os cristãos católicos louvam e agradecem pela presença de um sacerdote em sua vida e em suas paróquias; os padres, por sua vez, louvam e agradecem pelo dom de sua vocação e pela beleza de seu ministério; os bispos louvam e agradecem pela graça de poder contar com valiosos e indispensáveis colaboradores. “A Igreja caminha com os pés dos padres”, já afirmou Dom Cláudio Hummes. E, por meio deles, está presente em tantos ambientes: escolas e universidades, orfanatos e asilos, nos hospitais, nas forças armadas (com a capelania militar), nas obras sociais e nas periferias, entre os dirigentes cristãos de empresas e tantos outros ambientes. É bonito ver a demonstração de amizade, respeito, carinho e gratidão do povo para com aquele que, servindo a Igreja, representa o próprio Cristo, testemunhando os valores humanos e apontando as realidades do alto.

 

A Diocese de Mogi das Cruzes completa, este ano, 58 anos de criação e instalação. E, como não recordar nosso primeiro bispo, Dom Paulo Rolim Loureiro e seu fecundo pastoreio. O mês de agosto marcou sua vida: nasceu (dia 10), foi ordenado padre e bispo (dia 15) e, há 45 anos, também neste mês, (dia 2) faleceu. Mas nosso coração também se une a Dom Paulo Mascarenhas Roxo, nosso bispo emérito, que conosco convive, e, neste mês, completa 68 anos de vida sacerdotal. Bendito seja Deus!

 

Rezemos pelos padres de Mogi das Cruzes: os que trabalham na diocese e os que estão em missão, especialmente no Amazonas e na África. São João Maria Vianney os inspire a trilhar caminhos de Santidade. Rezemos pelos doentes e peçamos a graça de sermos todos, pastores e rebanho, instrumentos de reconciliação e de Paz. Amém!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 04 de agosto de 2020

Festa de São João Maria Vianney