HOMILIA DA ORDENAÇÃO DIACONAL DE
DOMINGOS ALONSO DE JESUS E ULISSES BENEDITO RAMOS JÚNIOR
CATEDRAL DE SANT’ANA – MOGI DAS CRUZES – 12 DE DEZEMBRO DE 2020
Nesse tempo do Advento, a diocese de Mogi das Cruzes se reúne, exultante de alegria, para celebrar a ordenação diaconal de Domingos Alonso de Jesus e Ulisses Benedito Ramos Júnior. Rendemos graças a Deus, Pai das vocações, e a seu Filho Jesus Cristo, Pastor supremo e Senhor da messe, que em sua imensa generosidade, tem suscitado, nessa diocese, vocações para o ministério ordenado.
Hoje, 12 de dezembro, a Igreja celebra festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. Maria é a figura daquela que está sempre atenta a responder ao chamado de Deus. Sua pessoa, mais do que ninguém, inspira os cristãos e os vocacionados a darem uma resposta positiva, na fidelidade à Palavra de Cristo e seu apelo: “aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor (diakonoV), e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo (douloV) de todos” (Mc 10,45).
Em Maria, a dimensão do serviço aparece clara na resposta ao anjo, no momento da anunciação: “eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela mostra-se servidora logo depois, quando, decidida, “partiu apressadamente” para a casa de Isabel, com o intuito de ajudar sua prima. Maria entende que quem necessita tem pressa.
A festa de Nossa Senhora de Guadalupe evoca uma das tantas manifestações em que Maria, no decorrer da história da Igreja, aparece como medianeira da graça de Deus. A aparição a San Juan Diego, na Cidade do México, em 1531, revela uma mediação universal e uma presença inculturada da Igreja, visto que, a partir daquela aparição, o culto a Maria se propagou rapidamente e muito contribuiu para a difusão da fé entre os povos indígenas.
A ordenação diaconal de Domingos e Ulisses, numa festa mariana, se insere no contexto de uma vida marcada pela presença e inspiração de Nossa Senhora, cuja devoção marca a vida das nossas famílias, de cada batizado na Igreja e, particularmente, dos vocacionados, no tempo de formação no seminário.
Entre eles há diferenças de idade, proveniência (e até mesmo na estatura!). Contudo, construíram uma sólida amizade, desde que se encontraram na pastoral vocacional, no seminário, no mês missionário no Maranhão, e hoje, recebem juntos a ordenação diaconal. Faz lembrar o modo como Cristo enviava os discípulos pelo mundo, dois a dois, para anunciar o evangelho.
Eles têm virtudes que os caracterizam como pessoas de Deus e da Igreja. E os capacitam para o ministério diaconal. Domingos tem a marca da disponibilidade para o trabalho, inclusive braçal, tendo prestado valiosos serviços na manutenção do seminário. Traz consigo um testemunho de vida edificante e um grande exemplo de superação e perseverança. Ulisses muito contribui para a vida em comunidade, com seu espírito de liderança, caráter aguçado e perspicácia no agir, capaz de criar ambiente de alegria e união fraterna. Para a ordenação diaconal, cada um escolheu um lema diferente, como inspiração para esse tão significativo momento.
Domingos escolheu o versículo que corresponde às palavras do pai misericordioso, quando da volta do filho pródigo: “pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!” (Lc 15,24). Deus é esse Pai cheio de compaixão, enquanto cada ser humano é esse filho necessitado do perdão, do abraço da acolhida e da festa. E é assim que a Igreja e seus ministros são chamados a serem agentes da misericórdia do Pai. Certamente, para o Domingos, essa lema exalta a experiência da misericórdia de Deus em sua própria vida.
Ulisses escolheu a citação de um salmo de louvor e ação de graças: “que poderei retribuir ao Senhor Deus por tudo aquilo que ele fez em meu favor?” (Sl 115/116,12). Assim, Ulisses agradece e convida a todos a agradecermos a infinita bondade do Senhor. A pergunta retórica do salmista: “que poderei retribuir?” equivale a dizer “nós não temos com que retribuir” à bondade de Deus. Sobretudo, palavras humanas são insuficientes para uma oração à altura de corresponder ao amor de Cristo que disse: “Permanecei no meu amor ... para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11).
Na experiência dessa verdadeira alegria e no esforço de retribuir o amor de Deus, é que o diácono se apresenta para “ser consagrado ao serviço da Igreja”, “com humildade e amor”, abraçando “para sempre o celibato por amor do Reino dos céus”, disposto a “perseverar e progredir no espírito de oração”, prometendo “respeito e obediência” ao bispo e seus sucessores. Tais propósitos e promessas tornam o diácono digno para o serviço das três mesas: a mesa da Palavra, a mesa do Altar, a mesa da Caridade.
Na liturgia da Palavra, o salmo responsorial também convida ao louvor e ação de graças: “Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, de geração em geração eu cantarei vossa verdade” (Sl 88/89,1). Há outros salmos através dos quais damos voz ao sentimento de gratidão a Deus e profundo reconhecimento das maravilhas que Ele realiza em nós e por meio de nós, exclamando “como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo! Anunciar pela manhã vossa bondade e o vosso amor fiel a noite inteira” (Sl 91/92,2-3).
No início do Livro de Jeremias (Jr 1,4-9), Deus chama, de modo claro e contundente, para o anúncio e para a profecia: “antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, ... te consagrei e te fiz profeta das nações ... Não tenhas medo pois estou contigo ... Ponho minhas palavras em tua boca”.
O apóstolo São Paulo (2Cor 4,1-2.5-7) exorta à coragem e à perseverança, ancorado no próprio testemunho pessoal, ao dizer que “não desanimamos no exercício deste ministério que recebemos da misericórdia divina”. É enfático quando diz: “Anunciamos Jesus Cristo, o Senhor!” Não importa se “trazemos esse tesouro em vasos de barro”, que são as fragilidades humanas. Não importam mesmo “os espinhos na carne”. Segundo ele, isso acontece para que sejamos humildes e “para que todos reconheçam que este extraordinário poder vem de Deus e não de nós”.
Queridos filhos, nesta festa de Nossa Senhora de Guadalupe, aprendamos mais uma vez de Maria o entusiasmo evangelizador que, no Magnificat, anuncia com ardor que a misericórdia do Senhor se estende a todas as gerações. Inspirados nesse mesmo cântico, abracem vocês também, com coragem e vigor profético, a predileção pelos pobres, pois nosso Deus eleva os humildes e sacia de bens os famintos. A santidade de Maria, mãe das vocações, sempre será, para diáconos, presbíteros e consagrados, modelo e socorro na vivência do celibato e dos demais conselhos evangélicos.
Queridos filhos, a graça de Deus os precede e os acompanha! E que a graça seja acrescida do contínuo esforço para permanecerem fieis no amor de Cristo, que disse: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13).
A Santíssima Virgem é hoje testemunha da consagração de vocês. Imitando a ela, que vocês possam, com alegria, serem fiéis às promessas de fidelidade a Cristo e à Sua Santa Igreja.
A Virgem Imaculada será refúgio e intercessão no ministério que hoje vocês assumem. Interceda também a gloriosa padroeira Sant’Ana e São José, que há 150 anos foi proclamado Patrono da Santa Igreja Católica. A ele, o Papa Francisco está dedicando um “Ano” especial, a partir de até 8 de dezembro de 2021. Que a exemplo dele, sejais justos no cumprimento dos vossos deveres, bem como operosos e determinados na missão, pois Cristo disse: “eu vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16).
Que o Senhor leve a bom termo a obra em começada em vocês. Amém.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 12 de dezembro de 2020
“Que o Espírito Santo de Deus nos encha de alegria, e a Virgem Maria nos proteja e nos ajude a esperar com alegria a chegada do Senhor. Possamos sempre exaltar as maravilhas que Ele realiza em nós e para o mundo” (Dom Orani João Tempesta)