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Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

Ordenação diaconal de GERALDO TOMAZ AUGUSTO

Igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Braz Cubas

26 de Dezembro de 2020 – Festa de Santo Estêvão

 

“Provai e vede como o Senhor é bom. Feliz quem nele se abriga”

(Sl 34,9)

 

A ordenação diaconal celebra o sentido profundo e sacramental do SERVIÇO na Igreja, isto é, a DIACONIA. Diácono significa SERVIDOR e pelo diaconado, o candidato se torna “ministro do evangelho, dos sacramentos e da caridade” (oração pós-comunhão).

 

O ponto de partida se encontra no exemplo de Jesus Cristo que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Ele mesmo que disse: “eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).

 

O serviço gratuito e generoso ao próximo, especialmente aos pobres, é a expressão maior da prática do mandamento do amor que Cristo anunciou. De fato, o testemunho do cristão – batizado, crismado, que se alimenta do pão eucarístico e celebra com a Igreja os sacramentos – se orienta na prática mandamento do amor, traduzido no serviço aos irmãos e irmãs. E nesta celebração, é oportuno evidenciar alguns desses testemunhos.

 

1. O primeiro testemunho é o do próprio Geraldo Tomaz Augusto e o caminho por ele percorrido até se apresentar, nesse momento, para receber o DIACONADO. Ele sentiu-se chamado, apresentou-se, preparou-se e aqui está para ser ordenado diácono, como decorrência natural desse percurso, em seu ideal de servir, de fazer o bem, de construir e proclamar (como no evangelho) que “o Reino de Deus está próximo de vós” (Lc 10,9).

 

De modo seguro, determinado e firme, Geraldo trilhou esse caminho, na família, na política, na Igreja. É um trajeto de longo tempo (nós temos a mesma idade), buscando a maturidade na vivência de uma fé integrada ao compromisso social, visando a construção de uma sociedade justa e fraterna. O diaconado acontece como um selo (impressão) e como um sinal (expressão) de tudo o que ele buscou ser e realizar em sua vida. Assumiu o serviço ao próximo como cerne de sua espiritualidade cristã comprometida. E agora, apresentando-se para ser diácono, ratifica sua resposta, como a do menino Samuel: “Tu me chamaste, aqui estou ... Fala, Senhor, que o teu servo escuta” (1 Sm 3,1-10).

 

2. O segundo testemunho é o do saudoso Pe. Francisco Deragil de Souza, que tinha programado nos acolher a todos neste momento, mas que, pelas circunstâncias do tempo que estamos vivendo e pelos misteriosos desígnios da vida, nos deixou, aos 53 anos, dia 8 de dezembro, para tristeza de todos nós. Em sua ausência, evocamos seu testemunho de amor a Deus e ao próximo no seu serviço à Igreja, em diversos lugares e por tudo o que ajudou nessa diocese, nos seus 23 anos de sacerdócio e, sobretudo, pelos anos em que foi pároco dessa Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no Distrito de Braz Cubas, Mogi das Cruzes. Pe. Francisco Deragil deixou um exemplo de bondade, serenidade, espírito conciliador. Sabia acolher e aproximar as pessoas e isso fez dele, em favor dos irmãos padres, o coordenador da pastoral presbiteral. Acolheu na Paróquia diversos grupos de leigos pertencentes a diferentes expressões da vida eclesial. Autêntico diácono, abria seu coração, seus braços e as portas da Igreja para socorrer os pobres, indo ao encontro deles, e dando apoio aos que cuidam dos necessitados.

 

3. O terceiro testemunho remete ao diácono Santo Estêvão, mártir, cuja festa a Igreja celebra hoje, imediatamente seguida ao dia de Natal. Santo Estêvão fez parte do primeiro grupo de sete diáconos, escolhidos para servir às mesas, isto é, o serviço da caridade. O livro dos Atos dos Apóstolos narram que deveriam ser escolhidos “homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria” (At 6,3). Desse modo, disseram os apóstolos, “nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra” (At 6,4). “Então escolheram Estêvão, “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6,5) e os outros. Foram como que ordenados pelos apóstolos que oraram e impuseram as mãos (At 6,6). Estêvão foi martirizado, como também o diácono São Lourenço, diácono da Igreja de Roma, martirizado no ano 258, no tempo do imperador Valeriano, o diácono São Vicente, da Igreja de Saragoza (Espanha) martirizado no ano 304, e outros diáconos martirizados no decorrer da História da Igreja.

 

Evocando a memória de santos diáconos, ressalto como motivo de ação de graças, a existência, nessa diocese, de um grupo de 41 diáconos permanentes. Eles confirmam a “variedade dos dons celestes”, enriquecem a Igreja em seus diferentes carismas e afervoram na Diocese sua missão evangelizadora. De fato, como Jesus falou no evangelho, “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10,2).

 

4. O quarto testemunho vem de Maria, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja, Nossa Senhora Aparecida, padroeira desta Paróquia e de todo o Brasil, inspiradora da Pastoral Afro, da qual Geraldo e tantos aqui fazem parte, intercessora em favor do povo negro, que luta para conquistar seus direitos e vencer toda espécie de escravidão, discriminação, violência e racismo. Como é belo o cântico de Maria, exaltando, no Magnificat, a misericórdia de Deus de geração em geração, elevando os humildes e saciando os que têm fome. Seu canto nos ensina a ter fome e sede de justiça e só assim poder engrandecer ao Senhor e exultar em Deus, o Salvador.

 

5. O quinto testemunho – maior e mais perfeito – é o de Jesus Cristo, que o Apocalipse descreve como “a Testemunha fiel (testemunha em grego é mártir) o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra, Aquele que nos ama, e que nos lavou de nossos pecados com seu sangue, e fez de nós um reino de sacerdotes” (Ap 1,5-6).

 

Ele, cabeça da Igreja, que é seu corpo, escolheu os apóstolos e os constituiu como alicerces e colunas. Esses, por sua vez, necessitam de colaboradores, tais como os presbíteros e os diáconos, os quais, pela ordenação, prometem “imitar sempre o exemplo de Cristo, de cujo corpo e sangue estarão sempre a serviço”.

 

Perseverantes na oração pessoal e auxiliados pela oração do povo de Deus, os ministros sagrados serão fieis aos compromissos assumidos. Interceda, pois, em favor do ministério diaconal de Geraldo, a nossa padroeira diocesana, Sant’Ana e a Beata Madre Esperança de Jesus. Ela ensina que “para se chegar a Jesus de todo o coração, com toda a alma e com todas as forças, é indispensável extirpar do nosso coração todas as afeições que não sejam por Jesus”.

 

Deus abençoe Geraldo e a todos os que ele encontrar no exercício de seu ministério diaconal. Amém.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 26 de dezembro de 2020