A celebração da Missa do Crisma reúne, cada ano, na catedral, em torno ao bispo, o presbitério para render graças a Deus pelo dom do sacerdócio. Realiza-se a renovação das promessas sacerdotais e a bênção dos santos óleos usados pela Igreja na celebração dos sacramentos do batismo, crisma, ordenação sacerdotal e episcopal e unção dos enfermos. Por isso são abençoados os óleos dos catecúmenos, dos enfermos e se procede à consagração do santo crisma. O rito da unção com óleo, frequente nos textos bíblicos, já no Antigo Testamento, e atualizado no Novo Testamento, fundamenta tal uso ritual na Igreja.
O óleo de oliveira é um exemplo de como a liturgia judaica e, em decorrência, a cristã, está ligada à beleza da criação e à dignidade do ser humano e o trabalho que lhe dá sustento. Ou seja, os produtos da natureza e o trabalho do ser humano que os transforma (ex.: trigo em pão, uva em vinho, etc) tornam-se oferenda agradável a Deus e sinais da presença e ação salvíficas de Deus, que deseja “consolar os que choram, reservar e dar aos que sofrem uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez da aflição” (Is 61,2-3).
Na bênção do óleo dos enfermos, reza-se a oração: “enviai do céu o vosso Espírito Santo Paráclito sobre este óleo generoso”, que por bondade divina “a oliveira nos fornece para alívio do corpo”, de forma que os que com ele forem ungidos recebam “proteção do corpo, da alma e do espírito”. É o “óleo da alegria” que alivia as dores, alimenta do ser humano e evoca a harmonia do ser humano com Deus e com a criação, nas dimensões da dignidade humana e espiritualidade.
No Antigo Testamento, são abundantes os relatos de como a unção com o óleo selava a escolha de Deus de seus representantes: reis (ou pastores), sacerdotes e profetas. O salmo responsorial (Sl 88/89) descreve a unção do Rei Davi: “encontrei e escolhi a Davi, meu servidor, e o ungi para ser rei, com meu óleo consagrado”. E hoje, na consagração do crisma, a Igreja reza: “infundi a força do Espírito Santo ao santo crisma, com o qual ungistes vossos sacerdotes e reis, vossos profetas e mártires”.
O texto de Isaías, na primeira leitura, citado por Jesus no evangelho de Lucas, afirma que “o Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu” (Is 61,1).
A ORAÇÃO desta missa evoca a unção e a consagração de Cristo e a participação do cristão como suas testemunhas: “Ó Deus, que ungistes o vosso Filho único com o Espírito Santo e o fizestes Cristo e Senhor, concedei que, participando da sua consagração, sejamos no mundo testemunhas da redenção que ele nos trouxe”. Com beleza e inspiração, essa oração resume o sentido do que HOJE se celebra. E o Prefácio completa: “pela unção do Espírito Santo, constituístes vosso Filho unigênito Pontífice da nova e eterna aliança”.
No batismo, o novo cristão recebe uma dupla unção. A primeira, com o óleo dos catecúmenos, que é “força aos que com ele forem ungidos”, a fim de que, “dignos da adoção filial, alegrem-se por terem renascido e viverem na Igreja” de Cristo. A segunda unção é com o santo crisma, na certeza de que “este óleo seja sacramento de salvação e vida” para os que recebem o batismo. No batismo, o cristão é ungido para a vida nova e na crisma o Espírito Santo o reveste com carismas com que para o bem de todos.
A unção sacramental alimenta, fortalece e consolida a vocação humana e cristã, e torna o cristão membro da Igreja, sinal visível do povo da aliança, povo sacerdotal, sacerdócio régio e nação santa. É a dimensão profética do povo de Deus que anuncia a libertação: o Senhor me ungiu e me enviou “para dar a boa nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos” (Is 61,1). Lucas acrescenta: “enviou-me para proclamar aos cegos a recuperação da vista” (Lc 4,18).
Isaías indica o caráter sacerdotal do povo de Deus quando afirma: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros do nosso Deus” (Is 61,6). E o Apocalipse: Cristo “fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai” (Ap 1,6). Ao serem batizados, os cristãos são “cumulados da honra de reis, sacerdotes e profetas”.
Jesus Cristo é “a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra” (Ap 1,5). Como tal, os cristãos: “participando da consagração de Cristo, são testemunhas da redenção que Ele nos trouxe” (oração). Crismados, os cristãos se tornem “testemunhas do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Sobre os sacerdotes, conforme o prefácio “o sacerdócio de Cristo e o ministério sacerdotal”, reza-se que DEUS estabeleceu que o único sacerdócio de seu Filho se perpetuasse na Igreja (através do ministério dos sacerdotes). E JESUS CRISTO “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real e, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem de seu ministério sagrado. ESTES, em nome de Cristo, renovam o sacrifício da redenção humana, servindo aos fiéis o banquete da Páscoa. Presidindo o povo na caridade, eles o alimentam com vossa palavra e o restauram com vossos sacramentos”.
HOJE, celebrando a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, é “o dia em que o Senhor Jesus comunicou o seu sacerdócio aos Apóstolos e a nós” (ministros ordenados) e fez dos sacerdotes “distribuidores dos mistérios de Deus pela missão de ensinar, pela sagrada Eucaristia e demais celebrações litúrgicas, seguindo o Cristo Cabeça e Pastor”.
Enquanto os padres fazem a renovação das promessas sacerdotais, os fieis, aos quais me uno, louvam a Deus, bendizendo a vida, o ministério, a presença, o serviço e tudo o que constitui o testemunho através do qual os padres atualizam a presença de Cristo, o bom pastor.
Rezamos também pelos presbíteros falecidos. O ano de 2020 acrescentou, em nossa diocese, em meio à tristeza e saudade, os nomes dos padres José Francisco Correa Pacheco (falecido em setembro) e Francisco Deragil Souza (dezembro). Dai-lhes Senhor o descanso eterno! Nossa oração aos que se encontram enfermos (entre eles Pe. Sidnei Kenji) e gratidão aos que estão em missão em outros lugares do País e do mundo. Testemunhos edificantes não faltam, como o de alguns padres de Poá que, nesses dias, percorreram os corredores de um hospital levando Jesus Cristo sacramentado para conforto nesse tempo assustador de pandemia.
Desejo ser portador da gratidão, oração e carinho dos fieis leigos e leigas de nossa diocese aos padres, pastores do rebanho de Cristo, nesse dia em que a Igreja celebra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Rezemos pelos diáconos, pelo seminário diocesano, pelas vocações sacerdotais, obra das vocações, pastoral vocacional e amigos do seminário. Rezemos pelas consagradas/os e todos os fieis leigos e leigas e seus respectivos ministérios e pastorais.
Invocamos a intercessão de Maria, mãe da Igreja e mãe dos sacerdotes, de São José, patrono da Igreja, neste ano a ele dedicado, e da nossa padroeira Sant’Anna. Cristo, sumo e eterno sacerdote, sustente nossa fraternidade presbiteral e dê a cada um a graça que necessita para corresponder a tão sublime chamado. Assim seja!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 01 de abril de 2021
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