Amor ao próximo, a melhor oferenda
A festa do Divino Espírito Santo, celebrada em Mogi das Cruzes há quatrocentos e oito anos, é uma antiga tradição religiosa, cultural, histórica e folclórica. Bem mais antiga que a diocese, que em 2022 completa 60 anos, a festa sobrevive com sua magia e encanto, mística e espiritualidade, devoção e fé. E com seu caráter multi-racial, pois certamente se inspira na devoção ao Divino enraizada no catolicismo português, se enriquece com expressões afro-brasileiras presentes nas congadas, marujadas e moçambiques e se reveste do catolicismo popular, na profunda expressão de beleza e de fé, que brota do canto dos violeiros.
No decorrer do tempo, longe de arrefecer, a festa só foi crescendo. Nas últimas décadas, cada ano, acabada uma festa, no dia de Pentecostes, e nomeados os novos festeiros, no dia de Corpus Christi, começa-se a preparação da seguinte, com a reza mensal da coroa, na sede da associação pró-festa, as visitas das rezadeiras e o trabalho de milhares de voluntários. A festa propriamente dita acontece nos últimos dez dias que precedem o Pentecostes. Aí a cidade, qual nova aurora, desperta e se transforma, revestindo-se de cores, com destaque para o vermelho das bandeiras dos devotos, as bandeirolas que enfeitam as ruas, os cantos religiosos e as devoções populares. Expressões mais fortes são a alvorada, às cinco horas da manhã, e a missa da novena, à noite, na catedral.
Em 2020, veio a pandemia do coronavírus, trazendo receios e restrições. Mas a festa aconteceu. Foi realizada dentro do que era possível, com o lema: Divino Espírito Santo, fortalecei-nos na caridade e conduzi-nos à santidade! E com os festeiros Mauro de Assis Margarido e Cícera Alecxandra de Oliveira Margarido e como capitães de mastro Maurimar Batalha e Roberta Fadoni Batalha, que continuaram à frente da festa de 2021. De fato, esse ano, apesar da pandemia ainda assolar fortemente o Brasil, já se celebra com um pouco menos de restrição. Foi possível, como é tradição, iniciar na Prefeitura, onde o Prefeito, Caio Cunha, a vice-prefeita, Priscila Yamagami, o secretariado municipal e demais funcionários, vereadores e devotos se reuniram, rezaram e iniciaram o cortejo até à praça central para a benção do mastro e do majestoso império do Divino.
Os meios de comunicação – imprensa convencional escrita, falada e televisiva, bem como as novas mídia – possibilitam a transmissão, de modo que muitos devotos acompanhem à distância. Tudo o mais vai acontecendo na catedral, que acolhe um número de pessoas correspondente a 30% de sua capacidade. Nas semanas anteriores ao início da festa, festeiros e capitães organizaram carreatas pelos bairros. A passagem dos carros e das bandeiras foi acolhida como a passagem do Espírito Santo, batendo às portas das casas e dos corações, levando luz, conforto, alegria e bênçãos. Os moradores acolhiam com fé, devoção e emoção; e retribuíam com um gesto de caridade, ofertando alimentos.
A Diocese de Mogi das Cruzes, promotora da festa, sente-se profundamente agraciada pela dádiva desse momento tão fraterno e agregador. É um tempo forte de evangelização, pois o Espírito Santo, que gerou a Igreja, no dia de Pentecostes, a sustenta e a conduz no decorrer da história.
A cadência das orações e a melodia dos cantos revestem a festa de sentido e harmonia, proclamando que “os devotos do divino vão abrir sua morada”. A súplica: “fortalecei-nos na caridade” indica que o amor ao próximo é o melhor culto e a mais perfeita oferenda: “Deus vos salve esse devoto, pela esmola em vosso nome, dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome”. A entrada dos palmitos festeja o trabalho agrícola e a produção de alimentos, pois “a bandeira acredita que a semente seja tanta, que essa mesa seja farta, que essa casa seja santa”. E assim, ano após ano, festa após festa, vencendo adversidades e sofrimentos, fortalecida na esperança, “a bandeira segue em frente, atrás de melhores dias”.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Bispo diocesano
Mogi das Cruzes, 14 de maio de 2021
Festa de São Matias Apóstolo