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Palavra do Bispo | Festa do Divino 2021

Festa do Divino 2021

Amor ao próximo, a melhor oferenda

 

A festa do Divino Espírito Santo, celebrada em Mogi das Cruzes há quatrocentos e oito anos, é uma antiga tradição religiosa, cultural, histórica e folclórica. Bem mais antiga que a diocese, que em 2022 completa 60 anos, a festa sobrevive com sua magia e encanto, mística e espiritualidade, devoção e fé. E com seu caráter multi-racial, pois certamente se inspira na devoção ao Divino enraizada no catolicismo português, se enriquece com expressões afro-brasileiras presentes nas congadas, marujadas e moçambiques e se reveste do catolicismo popular, na profunda expressão de beleza e de fé, que brota do canto dos violeiros.

 

No decorrer do tempo, longe de arrefecer, a festa só foi crescendo. Nas últimas décadas, cada ano, acabada uma festa, no dia de Pentecostes, e nomeados os novos festeiros, no dia de Corpus Christi, começa-se a preparação da seguinte, com a reza mensal da coroa, na sede da associação pró-festa, as visitas das rezadeiras e o trabalho de milhares de voluntários. A festa propriamente dita acontece nos últimos dez dias que precedem o Pentecostes. Aí a cidade, qual nova aurora, desperta e se transforma, revestindo-se de cores, com destaque para o vermelho das bandeiras dos devotos, as bandeirolas que enfeitam as ruas, os cantos religiosos e as devoções populares. Expressões mais fortes são a alvorada, às cinco horas da manhã, e a missa da novena, à noite, na catedral.

 

Em 2020, veio a pandemia do coronavírus, trazendo receios e restrições. Mas a festa aconteceu. Foi realizada dentro do que era possível, com o lema: Divino Espírito Santo, fortalecei-nos na caridade e conduzi-nos à santidade! E com os festeiros Mauro de Assis Margarido e Cícera Alecxandra de Oliveira Margarido e como capitães de mastro Maurimar Batalha e Roberta Fadoni Batalha, que continuaram à frente da festa de 2021. De fato, esse ano, apesar da pandemia ainda assolar fortemente o Brasil, já se celebra com um pouco menos de restrição. Foi possível, como é tradição, iniciar na Prefeitura, onde o Prefeito, Caio Cunha, a vice-prefeita, Priscila Yamagami, o secretariado municipal e demais funcionários, vereadores e devotos se reuniram, rezaram e iniciaram o cortejo até à praça central para a benção do mastro e do majestoso império do Divino.

 

Os meios de comunicação – imprensa convencional escrita, falada e televisiva, bem como as novas mídia – possibilitam a transmissão, de modo que muitos devotos acompanhem à distância. Tudo o mais vai acontecendo na catedral, que acolhe um número de pessoas correspondente a 30% de sua capacidade. Nas semanas anteriores ao início da festa, festeiros e capitães organizaram carreatas pelos bairros. A passagem dos carros e das bandeiras foi acolhida como a passagem do Espírito Santo, batendo às portas das casas e dos corações, levando luz, conforto, alegria e bênçãos. Os moradores acolhiam com fé, devoção e emoção; e retribuíam com um gesto de caridade, ofertando alimentos.

 

A Diocese de Mogi das Cruzes, promotora da festa, sente-se profundamente agraciada pela dádiva desse momento tão fraterno e agregador. É um tempo forte de evangelização, pois o Espírito Santo, que gerou a Igreja, no dia de Pentecostes, a sustenta e a conduz no decorrer da história.

 

A cadência das orações e a melodia dos cantos revestem a festa de sentido e harmonia, proclamando que “os devotos do divino vão abrir sua morada”. A súplica: “fortalecei-nos na caridade” indica que o amor ao próximo é o melhor culto e a mais perfeita oferenda: “Deus vos salve esse devoto, pela esmola em vosso nome, dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome”. A entrada dos palmitos festeja o trabalho agrícola e a produção de alimentos, pois “a bandeira acredita que a semente seja tanta, que essa mesa seja farta, que essa casa seja santa”. E assim, ano após ano, festa após festa, vencendo adversidades e sofrimentos, fortalecida na esperança, “a bandeira segue em frente, atrás de melhores dias”.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano

 

Mogi das Cruzes, 14 de maio de 2021

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