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Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE

DOMINGOS ALONSO DE JESUS E ULISSES BENEDITO RAMOS JÚNIOR

CATEDRAL DE SANT’ANA – MOGI DAS CRUZES – 12 DE JUNHO DE 2021

 

Ação de graças e compromisso: resposta de amor.

 

Queridos filhos, Domingos e Ulisses! Depois de uma longa caminhada vocacional que fizestes juntos no seminário, após terdes sido ordenados diáconos, na festa de Nossa Senhora de Guadalupe, em 12 de dezembro de 2020, vos apresentais hoje para serdes ordenados presbíteros.

 

Como diáconos, exerceram seu ministério em lugares diferentes: Diácono Domingos, na Paróquia N. Sra. Aparecida, no Distrito de Braz Cubas, exatamente no momento em que a paróquia se despedia com tristeza do saudoso Pe. Francisco Deragil; e Ulisses, na paróquia Santa Helena, de Poá, auxiliando o pároco, Pe. Helder Tadeu Almeida. Ordenados sacerdotes, Pe. Domingos exercerá seu ministério na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, colaborando com o pároco, Pe. Reginaldo Martins da Silva e Pe. Ulisses continuará na paróquia Santa Helena de Poá.

 

Queridos filhos, vossa ordenação sacerdotal é motivo de alegria para a Diocese de Mogi das Cruzes, que acaba de completar 59 anos de sua criação, quando em 9 de junho de 1962, São João XXIII assinou o decreto “Quo Christiana”, abrindo caminho para que, no mesmo ano, em agosto, fosse nomeado o primeiro bispo, Dom Paulo Rolim Loureiro, e, em dezembro, acontecesse a instalação e a posse do bispo. A data de hoje, é também de alegria, pois rendemos graças pelo aniversário natalício do nosso bispo emérito, Dom Paulo Mascarenhas Roxo (93 anos).

 

Queridos irmãos e irmãs (presentes e internautas), a ordenação que estamos celebrando representa motivo de alegria também para mim, pessoalmente, porque Domingos e Ulisses pertencem à primeira turma que eu pude acompanhar desde o início da formação, já que começaram o itinerário no seminário Propedêutico em 2013, coincidindo com o início do meu ministério aqui e o início de um novo Pontificado, já que em março daquele ano era eleito Papa Francisco. 

 

Pelos desígnios de Deus vós vos tornastes uma boa dupla, destacando-vos pelo companheirismo mútuo, pela alegria que entusiasma aos outros, como, com certeza, podem testemunhar muitos dos colegas de seminário que desfrutaram de momentos de fraternidade ou de trabalhos ao longo dos oito anos de formação.

 

Na vossa pessoa, renova-se a certeza de que Espírito Santo de Deus que ungiu tanto os profetas quanto Jesus de Nazaré, unge, hoje, vossas mãos sacerdotais, fazendo de vós, conforme o pedido da oração consecratória, “estes colaboradores de que tanto necessitamos no exercício do sacerdócio apostólico”, “cooperadores zelosos” para “que as palavras do Evangelho, caindo nos corações humanos através de sua pregação, possam dar muitos frutos”. Como se sabe, é missão da Igreja e seus ministros serem servidores da Palavra, “proclamando o Evangelho e ensinando a fé católica” (ritual de ordenação).

 

Pela vontade de Deus Pai, a força e unção do Espírito Santo, Cristo bom pastor guia o passos dos escolhidos. A história vocacional de Domingos e Ulisses revela que o chamado de Deus sempre constitui uma história de amor e eleição. Deus nos escolhe porque nos ama. A resposta, segundo o lema que escolheram, abrange duas direções: ação de graças e compromisso.

 

“Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para seu serviço” (1 Tm 1,12). Domingos escolheu esse pensamento: agradecer a confiança que Cristo nele depositou. Ação de graças é a tradução da palavra grega Eucaristia. E a ação de graças diária, por meio da celebração da Eucaristia, é o centro, a alegria e o sentido da vida do sacerdote, ou seja, é o que define o sentido profundo do indelével caráter sacerdotal do presbítero.

 

O padre é, antes de tudo, homem de oração. Toda oração é súplica, pedido e ato de render infinitas graças a Deus por sua bondade, seu amor e sua divina providência. A eucaristia é, por excelência, a ação de graças universal, a síntese da identidade católica da Igreja. É o ponto alto da presença do mistério de Cristo que abraça em si a humanidade e a apresenta ao Pai, como oferta agradável e perfeita. Daí o compromisso do presbítero, na ordenação, de “celebrar com devoção e fidelidade os mistérios de Cristo, sobretudo o Sacrifício eucarístico para o louvor de Deus e a santificação do povo cristão, segundo a tradição da Igreja” (ritual).

 

O lema escolhido pelo Ulisses: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo” (Jo 21,17) é a resposta assertiva de Simão Pedro que inspirou a resposta igualmente segura e firme do Ulisses. Jesus conhecia muito bem o temperamento impetuoso, sincero e direto de Pedro, que é, ao mesmo tempo, um jeito afetuoso e cheio de vontade de acertar.

 

Caros filhos, Domingos e Ulisses, convosco não é diferente. Deus quis contar também com vosso senso de responsabilidade aflorado, com a firmeza de temperamento, com a autenticidade marcante, tal como fez com Simão Pedro, que com arrojo e teimosia (parrhsia), soube render-se ao amor de seu mestre e confessar: "tu sabes tudo, Senhor", e, principalmente, "tu sabes que te amo".  Sim, queridos filhos, Deus nos quer inteiros, com as boas capacidades e com os limites, porque o que vale mais é Sua graça, para nunca nos esquecermos de que somos apenas instrumentos em Suas mãos; e que é Sua força que nos "designa para seu serviço".

 

Ouvimos, no Evangelho, Pedro responder por três vezes ao ressuscitado: “tu sabes que eu te amo” e por três vezes Cristo acrescentar: “apascenta minhas ovelhas”, para ainda encerrar o diálogo (concluindo o evangelho de João) com o mandado: “Segue-me”. É o diálogo do ressuscitado por ocasião de sua terceira e última aparição, segundo o evangelista João. Essa passagem é paralela a Lucas 5, quando, de modo semelhante, após uma pesca sem sucesso, Jesus pede para Pedro “lançar as redes para águas mais profundas” e ele, mesmo cansado se explica mas não hesita: “em resposta à tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5). A obediência rendeu a Pedro e aos companheiros uma pesca abundante; Simão se reconhece fraco e pecador; Jesus exorta: “Não tenhas medo! Serás pescador de homens!” ... “Eles deixaram tudo e seguiram Jesus” ...

 

É a missão que começa, quando, no ministério público, Jesus chama os apóstolos; é a missão que recomeça, quando o ressuscitado envia os apóstolos pelo mundo inteiro; é a missão que segue no tempo e que prossegue fermentando a História, que avança para águas profundas dos legítimos anseios da humanidade, que chega às periferias geográficas e existenciais, que tem a firmeza da rocha que é Pedro, a verdade e a alegria do Evangelho de Cristo, a luz e o ímpeto do Espírito Santo que fez a Igreja nascer no dia de Pentecostes. É a missão pastoral de Jesus Cristo, dos apóstolos, de toda a Igreja, de todo cristão batizado, em especial dos ministros ordenados.

 

Missão pastoral é a missão do pastor. Jesus Cristo é o bom pastor que dá a vida pelos amigos, isto é, pela salvação do mundo. Não há oferta mais agradável e culto mais perfeito do que a oblação da própria vida. Desse modo, o autor da carta aos Hebreus (segunda leitura) pode afirmar que quando Deus diz: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei” e ainda: “Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedec”, é para se concluir que, seu filho amado Jesus Cristo, “por causa de sua entrega a Deus”, “na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem” e, “de fato, ele foi por Deus proclamado sumo sacerdote”.

 

Quão profunda e bela é a missão daqueles que são chamados a serem, pelo sacramento da ordenação, profetas da palavra, sacerdotes do culto e do altar, pastores do povo de Deus, especialmente dos pobres e desvalidos. Contamos com a inspiração e a intercessão de Maria, mãe de Cristo e da Igreja, mãe das vocações dos sacerdotes; seu esposo São José, patrono da Igreja e Sant’Ana, padroeira de nossa Diocese. Deus abençoe os novos sacerdotes, Domingos e Ulisses! Amém!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 12 de junho de 2021