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Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

HOMILIA ROMARIA DIOCESANA

03 DE JULHO DE 2021

 

São Pedro e São Paulo: atraídos pelo olhar de Jesus

 

Como nos anos anteriores, mais uma vez, a Diocese de Mogi das Cruzes realiza sua romaria no Santuário Nacional, a Basílica de Aparecida. Nossa gratidão ao sr. Arcebispo, Dom Orlando Brandes, ao reitor do Santuário, Pe. Eduardo Catalfo e a quantos nos recebem nesse momento Agradeço e saúdo a todos. Nossa Diocese está aqui representada pelos padres, diáconos, consagradas e consagrados, fiéis leigos e leigas pertencentes às nossas paróquias e comunidades eclesiais, seminaristas, os membros das pastorais, movimentos, associações, novas comunidades e tantas expressões da vida de nossa Igreja diocesana.

 

A romaria diocesana anual é um momento de ação de graças e oração por tantas intenções, particularmente, continuamos a rezar pelos doentes e falecidos da Covid-19. Em prece, trazemos aos pés da Mãe Aparecida a dor da diocese que, em menos de um ano, despediu-se de três padres: Pe. José Francisco Pacheco (setembro 2020), Pe. Francisco Deragil (dezembro 2020) e, há dez dias, Pe. Marco Aurélio Moraes de Aguiar. E do Diácono permanente Amilton Rodrigues (abril 2021). Rezamos igualmente pelos profissionais de saúde, para que tenham forças de prosseguir tão abnegado serviço de amor ao próximo.

 

Motivo especial, hoje, é o fato de celebrarmos a Vigília da Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos, conhecidos como as duas colunas da Igreja. Jesus Cristo é a pedra angular e os apóstolos são os alicerces. Simão, pescador de Betsaida (Lc 5,3; Jo 1,44), pertenceu ao grupo dos doze apóstolos de Jesus, que um dia o chamou, à beira do mar da Galileia e o escolheu para estar à frente e ser seu representante na terra. Torna-se assim o primeiro Papa.

 

Pela missão que recebe, Simão passa a se chamar Pedro. O Evangelho de João conta que “Jesus, fitando-o, lhe disse: Tu és Simão, filho de João: chamar-te-ás Cefas (que quer dizer pedra)” (Jo 1,42). E no Evangelho de Mateus: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).

 

Cristo é o pastor do seu povo, a Igreja. A imagem do pastor se refere ao amor com que Cristo ama e dá a vida pela humanidade: “o bom pastor dá sua vida pelas ovelhas” (Jo 10,11). Cristo apascenta suas ovelhas e deseja reunir as dispersas: “tenho outras ovelhas que não são deste aprisco: devo conduzi-las também” (Jo 10,16). Tudo se completa no último diálogo, antes da ascensão, quando Cristo, por três vezes, “perguntou a Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais que estes?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘apascenta os meus cordeiros’” (Jo 21,15). Da pergunta de Cristo se Pedro o ama, decorre o pedido para que cuide bem das ovelhas: amor e missão. A missão é fruto do amor. E o amor a Cristo se comprova verdadeiro quando se apascenta o povo de Deus. Cristo, sentindo a sinceridade e o amor do coração de Pedro, renova aquele convite inicial do primeiro chamado: “Segue-me” (Jo 21,19).

 

O diálogo com Pedro é exemplo para toda a Igreja, que tem no mundo uma missão pastoral, isto é, ser a presença de Cristo bom pastor, tendo os mesmos sentimentos do seu coração. De fato, “ao ver a multidão, tinha compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36), como comprovam suas próprias palavras diante da multidão faminta: “tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer” (Mt 15,32).

 

O apóstolo Paulo representa a dimensão missionária da Igreja, enquanto propagadora do Evangelho e da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Atos dos Apóstolos narram o encontro do perseguidor Saulo com Cristo Ressuscitado, sua conversão e o propósito de Jesus para com ele: “este homem é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe mostrarei o quanto lhe será preciso sofrer por causa do meu nome” (At 9,15-16). E assim, Paulo, convertido, inicia um novo caminho: parte para a Arábia, volta a Damasco e, três anos mais tarde, vai a Jerusalém e lá conhece Cefas (Pedro) e Tiago (o irmão do Senhor) (Gl 1,18).

 

Pedro, foi chamado e aceitou pertencer ao grupo dos Doze durante o ministério público de Jesus. Paulo se converteu mais tarde, a partir de um encontro profundo e forte com Cristo ressuscitado, através de uma visão, uma experiência mística. Uma luz o atingiu com tamanha força, deixando-o momentaneamente cego. Era seu encontro com a verdadeira luz e o verdadeiro amor que o liberta da cegueira. Será daqui para a frente o apóstolo dos gentios.

 

O amor de Deus que liberta e salva se manifesta no olhar e nos gestos de Jesus, que se aproxima de cada pessoa fitando-lhe os olhos com bondade e perdão. Certamente, a resposta firme e entusiasta de Simão que, ao ouvir o chamado, imediatamente seguiu Jesus, deveu-se àquele olhar amoroso e cativante. Da mesma forma, Paulo se converte e sua vida é transformada pela luz do olhar do Ressuscitado.

 

Deus liberta, converte e lança na aventura do amor aquele que é atingido por seu olhar. Pedro e João, no templo, aproximando-se do paralítico (1ª leitura), “olharam bem para ele e Pedro diz: ‘Olha para nós!’. E o homem fitou neles o olhar” (At 3,4-5). Com olhar sincero e palavras firmes, Pedro diz: “em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda” (At 3,6). Pela palavra do apóstolo, Cristo retira aquele pobre homem da imobilidade para que ele possa seguir “andando e louvando a Deus” (At 3,9). A saúde física é sinal e antecipação da saúde completa, espiritual, escatológica.

 

O olhar de Deus, em seu infinito amor, gera conversão, discipulado e missão. Pedro e Paulo, colunas da Igreja, ensinam que nossa missão pastoral consiste em lançar o olhar de Cristo amoroso e compassivo sobre as chagas da humanidade. Tais chagas só podem ser vistas por quem se aproxima dos pobres. Quem se aproxima, olha e vê, sente a dor de quem sofre. O olhar do amor é o olhar da conversão. O amor converte. Tocados pelo amor de Deus nos convertemos. Tocados pelo nosso amor, outros podem voltar-se a Deus.

 

A Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida é lugar propício para contemplar a presença de Deus que lança sobre nós seu olhar de amor. O olhar de Maria é a expressão perfeita desse olhar atraente do Pai, revelado no Filho, pela ação do Espírito Santo. Ao celebrar os apóstolos Pedro e Paulo, na casa da Mãe Aparecida, como naquele dia em que “Pedro e João subiram ao Templo para a oração” (At 3,1), nossa mente é transportada às quatro principais basílicas de Roma: a de São Pedro, no Vaticano – sede do Papa enquanto vigário de Cristo na terra –, a de São Paulo Fora dos Muros – indicando que a missão da Igreja irrompe para além de todas as fronteiras –, a de São João de Latrão – catedral do Papa enquanto bispo de Roma – e a de Santa Maria Maior – lembrando Maria, mãe de Cristo e da Igreja, presente com os apóstolos no dia de Pentecostes.

 

Estar nesta basílica, contemplar sua majestosa beleza, recordar seus três séculos de história, vívidos na veneração da pequena imagem milagrosa, destacada em seu pequeno trono lá no alto e envolvida em dourados raios, é sentir-se verdadeiramente na presença de Cristo, através de sua mãe. Quantas não foram as vezes que, bastou passarmos diante daquela imagem para sentirmo-nos olhados por Deus, refeitos em nossos passos e fortalecidos em nosso caminhar. Sim, cada peregrino já sentiu que o simples fato de lançar sobre ela seu olhar foi a melhor e mais profunda prece.

 

Do mesmo modo, cada ano, a porção do povo de Deus da Diocese de Mogi das Cruzes, acorre a esta casa de oração. Aqui, nosso olhar suplicante encontra, na pequenez da Senhora Aparecida, a grandeza de Deus que se inclina sobre aqueles que se deixam fitar e se envolver do seu amor e da glória emanada deste templo sagrado.

 

E assim, instruídos e inspirados pela Virgem Maria, pelos apóstolos São Pedro, São Paulo e São Tomé (memória de hoje), pela nossa padroeira Sant’Ana, retornamos, com alegria, cada um a seu tempo e lugar, à missão de ser os olhos, as mãos, os pés e o coração de Jesus de Nazaré no mundo, olhando a cada irmão como Deus o vê e o ama. Amém!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 03 de julho de 2021