Ordenação Sacerdotal de Juliano Francisco Alves de Almeida
Catedral de San’Ana de Mogi das Cruzes - 07 de agosto de 2021
Revmos. Padres, diáconos, seminaristas, consagradas e consagrados, irmãos e irmãs!
“Eu vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes!”
(Ef 4,1)
Escolhi o versículo acima como tema dessa reflexão. Eu tive a alegria de conferir, em 13 de fevereiro deste ano, em Guararema, a ordenação diaconal ao seminarista Juliano Francisco; terei logo mais, alegria ainda maior ao conferir a ele a ordenação sacerdotal, pela imposição das mãos e a invocação do Espírito Santo. Saúdo a você, querido filho, Diácono Juliano, como nos exortou o apóstolo Paulo, na “unidade do espírito e no vínculo da paz” (cf Ef 4). Saúdo também sua mãe, Francisca Alves de Almeida, suas irmãs Juliana, Flávia e Cláudia e todos os familiares, numa especial recordação e prece pelo seu pai e demais parentes falecidos. Saudação aos irmãos e irmãs da Quase-Paróquia Nossa Senhora das Graças de Jundiapeba.
Caminhar de acordo com a vocação significa levar uma vida digna da vocação e corresponder ao chamado que Deus faz a cada pessoa. São Paulo afirma que “cada um de nós recebeu a graça na medida que Cristo a deu” (Ef 4,7). Caminhar segundo a vocação é um dom que dá sentido à vida do cristão. E o segredo da vocação cristã é a vida fraterna, isto é, a possibilidade de se viver, na Igreja, como irmãos e irmãs, “com toda a humildade, mansidão e paciência, no amor” (cf. Ef 4).
A fraternidade se realiza e se concretiza no serviço ao próximo. É o modo de viver na da Igreja, o corpo de Cristo: “há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados” (Ef 4,2).
A Igreja de Cristo é conduzida pelo Espírito Santo, de quem provêm todos os carismas. De Cristo, provêm os ministérios (serviços/diakonia), na medida que constitui “alguns como apóstolos, outros como profetas, outros ainda como evangelistas, outros, enfim, como pastores e mestres”.
Os presbíteros – sacerdotes – são, sobretudo “pastores e mestres”. Como mestres, são homens da palavra e da profecia, como lembrou o profeta Jeremias, na primeira leitura (Jr 1,4-9): “eu te consagrei e te fiz profeta das nações” ... irás a todos a quem eu te enviar e dirás tudo que eu te mandar dizer ... Eis que ponho minhas palavras em tua boca”.
Como pastores, o modelo do padre só pode ser Jesus Cristo, o bom pastor, conforme Ele mesmo disse: “eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas ... Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10,11-17).
Entre pastor e rebanho existe uma sintonia. Cristo conhece e é conhecido, escuta e é escutado. Isso se aplica ao padre: conhecer e ser conhecido, escutar e ser escutado, ajudar e ser ajudado. Dar sua vida, como fez Cristo. O Papa Francisco disse que muitas vezes o pastor terá que andar à frente, abrindo o caminho, orientando, defendendo; outras vezes, vai ao lado, no meio do rebanho, para animá-lo, valorizá-lo, participando de suas aventuras e desventuras, sucessos e agruras, sendo apenas uma presença; e que em outras circunstâncias, terá que ir atrás, para que as últimas ovelhas não se percam, para arrastar pela caridade as que esmorecerem.
Diácono Juliano, de fato, encontrarás as que já seguem quase por si só o caminho, outras porém terão que ser impulsionadas, corrigidas, animadas; e há também aquelas que precisarão ser levadas ao colo, curadas de suas feridas, restabelecidas em suas forças para seguirem adiante. Todas elas importam, porque te foram confiadas pelo Supremo Pastor.
O padre é alguém que, antes de ser pastor, também foi ovelha – ede certo modo continuará a ser. Somos pastores mas não heróis. Temos sofrimentos, fragilidades e crises. Nesses casos, são os fieis que reanimam nossos passos e nos impulsionam para frente, cuidando nossas feridas, sustentando-nos pela oração, amizade, generosidade e pela correção fraterna.
Cristo é cabeça e pastor da Igreja, seu rebanho. Bom pastor, Ele escolhe os apóstolos para continuarem sua missão e o seu sonho, que ele revela quando diz: “tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). E é seguindo essas pegadas que o padre irá ao encontro dos que ainda não pertencem ao rebanho, oferecendo-lhes o batismo que lhes abre as porta da filiação, da pertença e do perdão. E irá ao encontro dos que se afastaram, visitando, acolhendo, amando, tomando pela mão e trazendo de volta.
“Eu vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes!”. O verbo caminhar indica o dinamismo de um caminho novo, sublime e santo. A ordenação confere um salto de qualidade; começa um novo tempo, o kairós, tempo de Deus: “eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). O sacerdote terá como referência a estatura de Cristo, homem perfeito, em harmonia. É preciso cuidar, antes de tudo, da espiritualidade, cuja mística se expressa na liturgia, nos sacramentos e na oração pessoal. Cuidar também da dimensão presbiteral, a pertença ao presbitério, com os demais irmãos sacerdotes, e com todo o clero, incluindo os diáconos e a comunhão com o bispo. Cuidar com carinho do povo de Deus, especialmente os pobres! Cuidar da dimensão pessoal, humano e existencial. Revestir-se do Cristo eucarístico reconduzindo tudo a Cristo, cuja luz nos ilumina para sermos capazes de iluminar o mundo e dissipar as trevas da humanidade. Que Juliano e todos os sacerdotes não se cansem de surpreender no bem e marcar positivamente a vida das pessoas, deixando-lhes um rastro de beleza e o suave odor de Cristo.
Diácono Juliano, presidindo a Eucaristia e o farás “na pessoa de Cristo, o verdadeiro sacerdote, que do calvário transformado em altar renova, por tua voz e por tuas mãos sacerdotais, Sua oferta ao Pai, levando consigo, qual incenso de suave perfume e como oblação agradável, a humanidade inteira, qual povo santo e sacerdócio real. Daqui a pouco, ao receber o cálice e a patena, ouvirás: “recebe a oferenda do povo santo para ofertá-la a Deus”, nesse movimento terrestre e celeste em que “o padre colhe de Deus para ofertar ao povo e colhe do povo para ofertar a Deus” (Cardeal Tolentino).
Este ano, por inspiração do Papa Francisco, é dedicado a São José. Ele é modelo, espelho e inspiração onde reconhecer a paternidade contida na pessoa e na missão do padre. Tal paternidade, vivida por José na Sagrada Família, condensa a beleza e o caráter sublime do ser e do agir do sacerdote. Conforta olhar para José quando é preciso enfrentar crises, sofrimentos e solidão. O olhar sereno e silencioso de José é o olhar da fé que, pelo silêncio, abraça o silêncio de Deus e transforma as dores e fadigas em contemplação do Seu desígnio amoroso e salvífico.
Pela intercessão de São José, patrono da Igreja, de Maria, mãe de Cristo e dos sacerdotes, de Sant’Ana, nossa padroeira, do Santo Cura D’Ars, os santos e santas invocados na ladainha, Deus abençoe e torne fecundo o ministério sacerdotal do Diácono Juliano e de todos os padres. Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 07 de agosto de 2021