Homilia da Ordenação Presbiteral do Diácono Johnys Ferreira Dutra
27/11/2021
CONSAGRADOS NA VERDADE!
O Diácono Johnys escolheu, dentre tantos e belos aspectos da vida e ministério do presbítero, o tema da Verdade como referência e motivação para a celebração desta eucaristia onde se insere sua ordenação sacerdotal.
A liturgia da Palavra trouxe, na segunda leitura, a belíssima afirmação de São Paulo (2 Cor 4,1-7): “não desanimamos no exercício deste ministério que recebemos da misericórdia divina ... Não falsificamos a palavra de Deus. Mas, pelo contrário, manifestamos a verdade ... pregamos a Jesus Cristo, o Senhor”.
Concentremo-nos, contudo, no evangelho de João!
À luz do tema da verdade, que é o próprio Cristo, e considerando a pessoa de Jesus Cristo como profeta, sacerdote e pastor, tendo presente seu tríplice múnus de ensinar, santificar e governar, proclame-se com clareza o que segue, considerando que da missão de Cristo decorre também a missão do sacerdote, ou seja: a missão profética de proclamar a palavra da Verdade, a missão sacerdotal de celebrar o verdadeiro culto, a missão pastoral de viver a caridade na verdade, conforme encíclica de Bento XVI Cáritas in Veritate.
“Eu me consagro por eles a fim de eles também sejam consagrados na verdade”, disse Jesus no Evangelho (Jo 17,6.14-19). Cristo – caminho, verdade e vida – manifestou ao mundo a verdade, à luz da qual se compreende o sentido dessa afirmação. Acabamos de ouvir duas palavras-chaves que expressam bem o que é a Ordenação Presbiteral: verdade e consagração.
“Eu me consagro por eles.”
Logo mais, Diácono Johnys, você se deitará no chão, como sinal de entrega a Deus para sempre, porque um dia a Verdade deitou na cruz e se deixou cravar nela. Um dia, você e a verdade se encontraram; um encontro tão impactante e único que só lhe resta entregar-se a ela; mais ainda: unir-se a ela.
Mais que um produto da procura ou da reflexão pessoal, mais que uma alta ideia matemática ou filosófica, ou um profundo conceito, mais do que descobrir e pensar Deus, a grandeza do ser humano está em poder entregar-se a Ele num ato de amor rendido. A isto chamamos consagração: estar com o sagrado, deixar-se separar para o sagrado, consagrar-se a Deus e viver para ele e com ele. É isto que hoje está acontecendo nesta igreja tão bela: estamos vendo alguém entregar-se a Alguém. A verdade é uma pessoa que nos olha nos olhos e nos dá razões de viver: Jesus de Nazaré. Ele é o Cristo, o Senhor e Salvador, conforme afirmou São João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor: “a luz da face de Deus resplandece em toda a sua beleza no rosto de Jesus Cristo “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), “resplendor da sua glória” (Hb 1,3), “cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14)” (n. 2).
Contemplando o Esplendor da Verdade, a partir de hoje, o diácono Johnys não vive mais para si, na medida que vive para Cristo e Cristo viverá nele (cf. Gl 2, 20). Nossa presença e nossa prece testemunham e fomentam essa realidade. Pedimos ao Pai que desenhe no rosto desse nosso diácono os traços de seu Filho e infunda no seu coração o desejo ardente e forte de ir até às últimas consequências do amor. Que ele seja configurado inteiramente, isto é, em todo o seu ser, ao Cristo servidor e sofredor. Consagrar-se à verdade, na verdade e pela verdade é, portanto, assumir na própria vida o jeito, os sentimentos, os gestos e o ser de Jesus. É configurar-se a ele; é adquirir sua forma.
Acima de tudo, consagrar-se à verdade é também assumir seu destino: a Cruz. Por isso, diácono Johnys, não tenha medo das dificuldades, dos fracassos, da incompreensão e da perseguição que chegarem como consequências da verdade. Como dizia o teólogo alemão Karl Rahner: "com serenidade, permita que Deus seja vitorioso onde você mesmo for derrotado; reconheça a obra da graça de Deus onde você mesmo não for capaz de transmiti-la por meio da palavra (que você proferir) e do sacramento” que você celebrar. Sim, tenha a coragem de ser um homem do coração transpassado, porque foi do coração transpassado de Cristo, pendente da cruz, que brotou a salvação e o sentido da nossa existência. Aí vimos a grande verdade de Deus à humanidade: ele nos ama! E não por acaso, estamos nesse Santuário, a casa do Coração de Jesus.
"[...] Que eles sejam consagrados na verdade", disse Jesus. Quem foi encontrado pela verdade e se entrega a ela torna-se seu instrumento, porque não somos possuidores da verdade, antes, é ela que nos possui. Que profético, em tempos de pensamento líquido e fluido, em tempos de fakenews, um jovem entregar-se e consagrar-se à verdade, ansioso por iluminar o mundo com ela. Sim, caro Diácono, seja um arauto da verdade por onde estiver como presbítero. Lembre os seus irmãos que fomos amados pela verdade e que a força que salvará o mundo é a força do amor, porque o mal perde (mesmo) ganhando, enquanto o bem ganha (mesmo) perdendo. Essa é a lógica dos que estão no mundo, mas “não são do mundo”.
“Quem perder sua vida por causa de mim a encontrará” (Mt 10, 19). Esse ímpeto de entrega já se expressa na promessa de Jesus que você tomou por lema. O Papa Bento XVI sempre gostava de recordar essa realidade, principalmente aos jovens: “Quem deixa entrar Cristo na sua vida não perde nada, nada, absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. Não! [...] Cristo não tira nada do que há de formoso e grande em vós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos seres humanos e a salvação do mundo” (Homilia na Missa de Início de Pontificado, 24 de abril de 2005).
Gaste-se no labor apostólico, sem, contudo, deixar de cuidar de si mesmo, da tua própria alma, do teu coração, cultivando uma vida espiritual intensa e profunda. Junto ao sacrário, você encontrará descanso, alívio, renovação do amor primeiro que hoje se consolida. Na companhia do Senhor, encontrará meios sempre novos e melhores para se assemelhar mais a Ele. E a cada vez que você subir ao altar da Eucaristia, coloque na patena, junto com o pão, a alegria de ser padre e as intenções de tantos que se recomendam às suas orações. Na gota de água misturada ao vinho, que representa a humanidade, coloque as decepções e insucessos de hoje, mas também os projetos e as esperanças para amanhã. Assim, você nunca se sentirá só ou deprimido, porque o amor te acompanha.
Cristo continua rezando ao Pai por todos nós: “Consagra-os na verdade”, como continua garantindo: “deixo-vos a Paz, dou-vos a minha Paz, não como a dá o mundo” ... E nós continuamos a repetir: Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Maria continua recitando o louvor do “Magnificat” visto que fizemos nossa esta sua oração: “o Senhor fez grandes coisas em meu favor, olhou para a humildade de sua serva”. Mãe de Cristo, mãe da Igreja, ela é a mãe dos sacerdotes. Primeira missionária, abençoa a missão sacerdotal do Diácono Johnys e roga pela missão de cada cristão na Igreja.
Intercedam por nós a Virgem Maria, São José seu esposo e patrono da Igreja e Sant’Ana, padroeira da Diocese de Mogi das Cruzes. Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 27 de novembro de 2021
Festa de Nossa Senhora das Graças