Home

Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

HOMILIA PARA A ORDENAÇÃO DIACONAL

 

Anderson Lima Pereira – Felipe Vichi Yaguinuma – Jefferson Calidônio André – João Lucas dos Santos – Leonardo de Souza Godoy – Luiz Felipe Cruz – Vinicius Teodoro Vilela

 

04 de dezembro de 2021

 

1. Irmãos e irmãs, estamos muito felizes nesta celebração, em nossa catedral de Santana, com a ordenação de sete diáconos transitórios que oportunamente serão ordenados presbíteros. É uma grande graça vivenciar toda esta fertilidade vocacional. Deus tem abençoado nossa diocese com vocações e ordenações. Por tudo, demos graças a Deus, especialmente por este momento, tão esperado. 

 

Tenho acompanhado, há anos, a preparação desses jovens e, mais ainda, estive muito perto deles nesses últimos tempos, testemunhando com que esforço e entusiasmo prepararam esta celebração. Experimento um sentimento profundo de amizade, afeto e paternidade para com eles. Às vezes estou próximo a eles, outras vezes, os observo à distância, como um pai que vê os filhos firmando seus passos e aprendendo a caminhar por si. Assim, foram se preparando. Hoje, vejo que a expectativa tornou-se realidade; e vejo que este momento se transforma em esperança: para mim, para eles e para o povo de Deus. Esperança da Igreja de poder contar com novas forças, com mais trabalhadores na vinha do Senhor.  

 

Sete novos diáconos que sobem ao altar do Senhor! O número sete na Bíblia é o número de Deus, um simbolismo perfeito. Tal qual os sete primeiros diáconos – o mártir Santo Estêvão e seus companheiros (como ouvimos na 2ª leitura), teremos estes sete novos diáconos. Deus os ajude a frutificar o ministério que logo mais recebem e para o qual foram escolhidos por Jesus Cristo que diz: “fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais frutos e o vosso fruto permaneça”.

 

Queridos filhos! Vocês são chamados por Deus! O profeta Jeremias, na 1ª. leitura, ensinou que Deus nos conhece, elege e consagra desde o seio materno. É a vocação! Hoje, vocês respondem a Deus no primeiro grau do sacramento da Ordem. Que assim seja e que em nossa Igreja de Mogi das Cruzes cada vez cresça a diversidade dos carismas. Tudo na Igreja brota do coração trinitário de Deus que é fonte da vida, das vocações e dos ministérios no seio da Igreja.

 

Cada um desses sete diáconos eleitos escolheu um lema. Três deles se inspiraram na Virgem Maria. ANDERSON fez referência ao coração materno de Maria que nos conduz ao Filho Jesus Cristo: per cor Mariae ad Iesum. FELIPE VICCHI lembra que seguimos Jesus Cristo como discípulos, a Ele servimos como missionários e à sua vontade nos submetemos para não errar, conforme as palavras de Maria: “fazei tudo o que Ele vos disser”. VINÍCIUS recorda que cultivar uma grande devoção a Maria (e eu sou testemunha dessa sua devoção) significa sermos “conduzidos por ela”. Sim, conduzidos por ela: por Maria e pela Igreja.

 

LEONARDO concentrou-se na dimensão mais sublime e oblativa do amor de Deus que é o amor de Cristo, único e referencial parâmetro para se conhecer o verdadeiro Amor: “como o Pai me amou, eu vos amei: permanecei no meu amor”. JEFFERSON, nessa mesma linha, completa com o pensamento do apóstolo Paulo: “o amor de Cristo nos impele”. JOÃO LUCAS cita o pensamento de Santa Tereza D’Ávila: “É justo que muito custe o que muito vale”. É o tesouro escondido a ser buscado, a pérola valiosa a ser encontrada (citando imagens de Jesus nas parábolas do Reino de Deus); é a beleza sempre antiga e sempre nova (Santo Agostinho). LUIZ FELIPE, recorrendo ao Gênesis, na passagem da provação de Abraão, exalta que tudo é providência de Deus: “O Senhor providenciará todas as coisas” (cf. Gn 22,14). Confiar na providência divina é a grande sabedoria da mística cristã, especialmente dos ministros da Igreja. Confiar na Providência e seguir as palavras de Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20, 28).

 

Jesus Cristo é a primeira e maior referência como homem do amor-caridade-solidariedade-serviço, o servidor por excelência. E o amor de Cristo se desdobra no amor fraterno, na comunidade cristã. A segunda leitura narra que as viúvas gregas estavam desamparadas na comunidade de Jerusalém, ou seja, havia acepção de pessoas. Por isso, os Apóstolos instituíram os diáconos para que a Igreja nunca deixasse de servir às três mesas: a da Palavra, do altar e dos pobres.

 

O diácono é homem da caridade; seu coração é o do bom samaritano, presença do Deus “rico em misericórdia” e do Filho que veio para curar as feridas do coração. Olhos fitos em Jesus os têm aqueles que não desviam o olhar dos que padecem sofrimento e injustiça. Sim, “a caridade de Cristo nos impele”, aquece o coração e move os pés na direção do próximo. Com mãos generosas os diáconos se esforçam por plantar, cuidar e colher frutos de evangelização e de missão: “fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”.

 

Caros diáconos eleitos, a história de vida e a vocação de vocês se inspiram na mística do infinito amor do Pai, na oblação do seu Filho Jesus Cristo, no exemplo de Maria, a serva do Senhor e no testemunho de uma Igreja samaritana, movida de compaixão e misericórdia. Recordo nesse momento um pouco da história de vocês, considerando que, nesses últimos anos, eu pude conhecê-los com suas qualidades e carismas. De coração, quero lhes agradecer pelos laços de amizade que fomos estreitando, pela convivência, colaboração e por tudo o que vocês representam. 

 

ANDERSON, veio do Pará: traços indígenas, alma de poeta, chegou e foi marcando presença entre nós. Foi acolhido pelo Pe. Carlos Duarte, residiu um tempo com Pe. Dioclécio e depois foi para o seminário. Pe. Dioclécio o acompanha até hoje e a ele somos profundamente agradecidos. FELIPE mistura italiano (VICCHI) com japonês (YAGUINUMA). Ele me acompanhou durante um ano nos fins de semana, sempre disponível, piedoso, atento e silencioso ao modo nipo-brasileiro. Seu auxílio foi-me de grande valia e por isso lhe agradeço de coração. JEFFERSON veio de Itaquaquecetuba, motivado pela vibração daquelas comunidades. Enfrentou tratamento de saúde, esforçou-se, venceu e agora marca viva presença pastoral em Ferraz de Vasconcelos. JOÃO LUCAS veio de Minas, ficou um tempo conosco, fez experiência em outra comunidade missionária e retornou à nossa diocese, sempre se destacando no canto litúrgico com sua bela voz e, nos últimos tempos, auxiliando Pe. Rafael Xavier, em Itaquaquecetuba. LEONARDO, mais introvertido, tem ouvidos mais atentos e olhar mais aguçado. Pude conversar com ele algumas vezes e perceber sua preocupação com a família, o seminário, a diocese. LUIZ FELIPE veio do Rio de Janeiro, apresentado e encaminhado pelo Pe. Waldecir Gonzaga, exegeta e professor na PUC do Rio. Com a vivacidade e a perspicácia que lhe são peculiares, e a experiência adquirida anteriormente, logo se entrosou. VINÍCIUS é filho espiritual do Pe. Carmine Mosca, que o batizou, fez sua primeira comunhão e encaminhou para a crisma com Dom Airton. Percorreu sua última etapa de formação, de um ano e meio, morando comigo e auxiliando em tudo, com muita destreza, talento e habilidade. Em Vinícius, não é difícil perceber sua inteligência, versatilidade e aquele seu jeito alegre e mais incisivo de ser. Contudo, convivendo com ele, pude perceber também sua sensibilidade, capacidade de se emocionar e de expressar gestos simples de carinho, amizade e afeto. Vinicius, você me ajudou muito; obrigado por sua agradável companhia e preciosa amizade.

 

Irmãos e irmãs! Desses sete filhos muito queridos, digo que, de par em par, passei a olhar olhá-los com grande admiração e ver neles sinais de generosidade e disponibilidade para servir. São pessoas de personalidade e temperamento diferentes, mas todos com capacidade, criatividade e profunda espiritualidade.

 

A eles, deixo três indicações para a vida espiritual e ministerial: 1. Ter confiança em Deus, ter convicção e acreditar no que Deus disse pelo profeta Jeremias: “não temas, estou contigo para defender-te” (1ª leitura); 2. Cultivar amizade com todos, especialmente com os irmãos, no clero, do qual passam a pertencer. Quando Jesus disse: “Vós sois meus amigos”, além de declarar sua amizade por nós, está interpelando a que sejamos verdadeiramente amigos uns dos outros. Vale a pena o esforço nesse sentido. A amizade leva a querer o bem do outro, a alegrar-se com a felicidade dos outros, pois a amizade e o amor são sempre causa de alegria: “Eu vos disse isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. 3. Que não se esqueçam dos pobres, conforme a orientação que Paulo recebeu dos apóstolos: “o que nos recomendaram foi somente que nos lembrássemos dos pobres. E isso procurei fazer sempre, com solicitude”, disse Paulo (Gl 2,20).

 

Queridos filhos, que vocês perseverem e continuem de fato, “firmes na fé, alegres na esperança e solícitos na caridade”. Deus os ampare e lhes conceda (cf. pedimos na oração da coleta) “solicitude em sua tarefa, mansidão no trabalho e constância na oração”. Contem com a graça de Deus, a amizade dos irmãos e irmãs e a intercessão Maria, ela que se une completamente a Cristo, da encarnação à cruz.

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 04 de dezembro de 2021