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Palavra do Bispo | Homilia

Homilia

Homilia na Missa de Ordenação Presbiteral do

Diácono Jorge de Souza Braz

Paróquia Nossa Senhora Aparecida – 11/12/2021

 

Caríssimos irmãos e irmãs, hoje estamos vivenciando um momento de profundo significado: testemunhamos a fé de um homem que se entrega a Deus e à Igreja como sacerdote, tornando-se outro Cristo. Logo mais, pela oração consecratória, invocação do Espírito Santo e pelo gesto da imposição das mãos, o Diácono Jorge de Souza Braz será ordenado presbítero, cumprindo nele a palavra de Isaías: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ‘ministros do vosso Deus’.” (Is 61,6).

 

É um dia histórico para esta Paróquia Nossa Senhora Aparecida, um dia abençoado: é a primeira vez que aqui acontece um rito de ordenação presbiteral. Quantos motivos para rendermos a ação de graças Deus! De modo especial, é momento de gratidão a tantas pessoas que ajudaram, de tantas formas, ao Diácono Jorge a chegar até aqui; tantos padres, entre eles o saudoso Pe. Francisco Deragil de Souza.

 

“Dai-lhes vós mesmos de comer” é o lema escolhido pelo Diácono Jorge como inspiração para seu ministério presbiteral. Essa frase do evangelho que acabamos de ouvir – dita por Jesus no momento da multiplicação dos pães – faz olhar para frente, ilumina o caminho que hoje se inicia. Na verdade, faz também recordar o que já foi, até aqui, a vida do Diácono Jorge. Sim, Diácono, você, com santa ousadia, soube colocar nas mãos de Jesus os teus “cinco pães e dois peixes”, na confiança que o mais Ele faria.

 

Eis aí a maneira mais excelente de ser sacerdote: o que temos é muito pouco diante da demanda de evangelizar; somos pequenos perante a grandeza do Reino de Deus que devemos plantar; o que fazemos é quase insignificante se comparado ao que ainda se tem por fazer. Contudo, como dizia Santa Tereza de Calcutá, “o que faço é só uma gota d’água no oceano. Mas, sem essa gota, o oceano seria menor”.

 

Todos somos testemunhas de que Jorge encarnou esse mandato de Jesus descrito no seu lema. A Vila Piauí (na periferia de Ferraz de Vasconcelos) já não é a mesma depois que Jorge Braz chegou lá ainda como seminarista, já chamado de padre. Chegou apenas com “cinco pães e dois peixes”, mas soube “fazer-se fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fazer-se tudo com todos, para certamente salvar alguns”, como ouvimos na segunda leitura (1 Cor 9,22). Como disse Paulo: tudo “por causa do Evangelho!” (v. 23).

 

Caro filho, deste modo, o teu diaconato foi vivido exatamente para servir às três mesas: da Palavra, do altar e dos pobres. Quantas foram as vezes que você encheu seu carro, aquele “uninho” já bem usado, de alimentos para atender às famílias mais carentes ou então de material para deixar mais belo e orante o salão transformado em capela da Comunidade Sagrada Família. E mesmo como diácono, continuavam a te chamar de padre. Agora se concretiza o que o povo de Deus já profetizava: serás verdadeiramente padre, não só de nome, mas de fato, porque aprendeu a ter coração compassivo, e ouvidos atentos e olhos abertos ao sofrimento dos pobres.

 

Você foi capaz de perceber, como Jesus no evangelho, que a pessoas não têm fome só de pão, mas também de presença amiga, da palavra firme e do coração de pai.

 

E isto faz parte do ministério sacerdotal: saber olhar todas as pessoas como filhos e filhas de Deus, muito mais que indivíduos; saber ouvi-las, muito mais que falar-lhes; ser-lhes presença, mais até do que oferecer-lhes coisas, ainda que tão necessárias, mas não o suficiente para preencher o coração. Portanto, continue sendo o homem do pão, da palavra e da caridade. Com os olhos fitos em Jesus, seja homem de oração e homem da oração.

 

Irmãos e irmãs, logo mais, o diácono estenderá suas mãos colocando-as em minhas mãos, prometendo respeito e obediência. Esse gesto aponta para o mistério da entrega sem restrições, em que o diácono Jorge “põe as suas mãos nas mãos de Cristo, confia-se a Ele e lhe dá as próprias mãos para que sejam as d’Ele”, como frisava o então cardeal Ratzinger.

 

Sim, as mãos do sacerdote são as próprias mãos de Jesus, isto é, mãos do bom pastor, mãos que retiram dos espinheiros as ovelhas, reconduzindo-as ao bom caminho; mãos que multiplicam o pão da graça, na eucaristia, e o pão da caridade nas mesas onde falta o alimento; mãos que dão aos que “sofrem uma coroa, em vez de cinzas, o óleo da alegria, em vez de aflição”, conforme a primeira leitura.

 

Lembre-se sempre, querido filho, que ao pronunciar as palavras da consagração – “Isto é meu corpo”, “Este é o cálice do meu sangue” – você estará entregando sua vida ao povo, porque estará unido para sempre a Jesus, que, ao multiplicar os pães, utilizou palavras e gestos que prefiguravam a Eucaristia, pela qual Ele dá seu corpo como pão da vida para saciar a fome do corpo, da alma e do espírito. E como disse o canto de entrada desta missa, ponha sempre a confiança no Senhor, da esperança siga sendo um sinal.

 

Tenha sempre Nossa Senhora como tua generosa companheira. Ela, que é a Mãe zelosa dos sacerdotes, te ensine a servir como convém. Deixa que Maria vá desenhando no teu rosto os traços de seu Filho, ensinando-te a curar as feridas da humanidade com o bálsamo dos sacramentos e o perfume da solidariedade e, principalmente, te ensine a ser generoso na entrega cotidiana a todos quantos de ti se aproximarem. Amém!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Santa Isabel, 11 de dezembro de 2021