Ordenação diaconal de Lúcio de Souza Pinho Neto
Catedral de Sant’Ana de Mogi das Cruzes – 08 de janeiro de 2022
“Fui eu que te escolhi” (Jo 15,16)
“Fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16), disse Jesus aos doze apóstolos.
Caro Lúcio! Você se inspirou nessas palavras, aplicando-as a você mesmo por meio de seu lema de ordenação diaconal: “fui eu que te escolhi”. Como você mesmo escreveu, anos atrás: “tenho meu coração cheio de esperança e de confiança no Senhor, que um dia me chamou a trabalhar em sua messe” (21.08.2019). Sim, foi para isso que o Senhor te escolheu.
Aos apóstolos Jesus diz também: “eu vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e vosso fruto permaneça”. E isso vale também para os ministros da Sua Igreja: IR em missão e PRODUZIR frutos para o Reino de Deus, frutos de caridade e de evangelização. Jesus veio para servir e nos chama para sermos servidores, isto é, diáconos (diakonoi). Servir e amar: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.
Estas palavras, tiradas do evangelho que ouvimos (Jo 15,9-17), fazem parte do testamento de Jesus, em que Ele propõe a mística de um caminho espiritual que nos envolve no Seu amor e no amor do Pai: “como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (v. 9). É o amor de Deus, o amor verdadeiro, que é fonte da verdadeira alegria: “a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”.
A alegria é dom do Espírito Santo para a sua Igreja. Alegria da fraternidade: vós sois todos irmãos (Mt 23). Alegria do serviço: a Deus, ao povo de Deus e aos pobres. Alegria de pertencer, amar e defender à Igreja de Jesus Cristo, a Igreja católica à qual pertencemos.
A espiritualidade cristã fundamenta-se no amor, expressa-se na alegria, é testemunhada na fraternidade e passa pela amizade: “já não vos chamo servos ... chamo-vos amigos”. É um salto de qualidade em que Cristo nos envolve com seu afeto e sua ternura – o afeto de sua compaixão e misericórdia, a ternura do seu manso e humilde coração!
Querido filho, Lúcio! A partir de tudo isso, entende-se a ousadia com que você tomou as palavras de Cristo aos apóstolos – “fui eu que vos escolhi” – aplicando-as a você mesmo: “fui eu que te escolhi”. Eu não tenho dúvida do quanto você sempre sentiu e experimentou em sua vida, e mais ainda experimenta neste momento, o infinito amor de Deus que acompanhou sua história de vida até aqui; e o quanto a voz de Cristo ecoa HOJE aos seus ouvidos repetindo: “fui eu que te escolhi”.
Você já é maduro, uma vocação adulta, como se costuma dizer. Sua vida foi marcada pelos mesmos sofrimentos pelos quais passam os migrantes nordestinos que deixam sua terra em busca de um futuro digno, como você mesmo escreveu anos atrás (21.08.19): “nasci numa família simples e cheia de dificuldades como toda família numerosa do nordeste brasileiro ... Trabalhei em vários ramos: escola, escritório de advocacia, comprador, auxiliar de almoxarifado, carregador de caminhão, servente de pedreiro, auxiliar de escritório e chefe administrativo de uma ONG. Quanta coisa você já fez! E valeu a pena, como você mesmo diz: “Tive essas experiências como momentos de muita riqueza para mim, e de muito aprendizado, apesar de ter passado momentos de muito sofrimento”.
Contudo, muitas pessoas apoiaram o Lúcio e estenderam a mão a ele: padres e leigos/as. A esses eu também quero agradecer. Pe. Luciano Vieira (desde 2015, na paróquia São Judas e mais adiante na paróquia N. Sra. da Piedade, em Mogi); Pe. Carmine Mosca (paróquia S. Sebastião, em Mogi) e Pe. Álvaro (no seminário propedêutico e na paróquia São Judas, em Suzano).
Pe. Luciano escreveu que se considera “um precursor de sua vocação” e que olhando a vida dele e a vida do Lúcio “percebe que Deus sempre nos olha com amor” (10.09.21). Pe. Carmine escreveu: “Lúcio guarda o chamado divino como uma espécie de eco que continuamente ressoa no seu coração” (22.10.21). Pe. Álvaro testemunhou que Lúcio “é uma pessoa de oração, meditação da Palavra de Deus, Eucaristia diária, devoção Mariana e piedade popular” (04.10.21). Tem também o depoimento do Pe. José Flávio Mamede, formador do seminário de Patos-PB (23.03.2020): “Alegro-me com a perseverança deste candidato, sobretudo após um longo processo de caminhada vocacional, possibilitando uma escolha mais firme e decidida”.
Quero expressar meu agradecimento a um casal que acolheu o Lúcio em sua casa por cerca de 3 anos. Falo da generosidade do sr. Luiz Francisco dos Santos Filho e Dona Neuza Francisca Martins dos Santos. Este casal representa todos os fieis leigos e leigas que acreditam nas vocações, rezam nessa intenção e apoiam os vocacionados e seminaristas em suas necessidades. Deus os recompense!
Caro Lúcio, Deus escolheu, chamou e consagrou! E você correspondeu! Por isso hoje você recebe o primeiro grau do sacramento da Ordem, pela imposição das mãos e invocação do Espírito Santo, assumindo os propósitos de conservar a fé, guardar o celibato por amor do Reino dos céus, perseverar e progredir no espírito de oração e, com convicção e sinceridade, fará a promessa de respeito e obediência.
Irmãos e irmãs! Depois de ordenado, o Diácono Lúcio partirá em missão, na Diocese de Brejo – MA, onde estão, nesse momento, cinco seminaristas do quarto ano de teologia. Lá, como diácono, Lúcio exercerá o SERVIÇO às três mesas: a da Palavra, a do altar e a dos pobres, contando com a graça de Deus que disse: “não tenhas medo, pois estou contigo para defender-te” (primeira leitura, Jr 1). Por tudo isso, proclamamos: “ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor” (salmo responsorial – SL 88). Sim, rendamos graças e louvores, pois “o amor de Cristo nos uniu”.
Cheios de confiança, invocando a intercessão e a proteção materna de Nossa Senhora e da nossa padroeira Sant’Ana, dizemos ao Lúcio: Coragem, siga em frente! Deus abençoe seu ministério diaconal! Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 08 de janeiro de 2022