Home

Palavra do Bispo | Homilia - 09/07/2022

Homilia - 09/07/2022

Homilia para a Ordenação Diaconal do seminarista Maiki Leonardo Silva

09 de julho de 2022 – Catedral de Sant’Ana – Mogi das Cruzes

 

Para a maior glória de Deus (Ad maiorem Dei gloriam)!

 

 

Para a maior glória de Deus (em latim: Ad maiorem Dei gloriam)! Esse pensamento é de Santo Inácio de Loyola, que, ao fundar a Ordem dos Jesuítas, deixou claro que o fazia não por outro motivo senão “para a maior glória de Deus”.

 

E é bom lembrar que para serem fieis a este propósito de Santo Inácio, os missionários jesuítas já enfrentaram perseguições e martírio. No século XVIII (1759), eles foram expulsos do Brasil. Também nos tempos atuais, ofereceram mártires à Igreja. Em 1989, seis jesuítas foram assassinados em El Salvador (Pe. Ignácio Ellacuría e companheiros). Há um mês, no México, dois sacerdotes jesuítas – de 79 anos e 81 anos – foram baleados e mortos enquanto tentavam acolher alguém que buscava refúgio em sua paróquia. E, em 2013, os jesuítas ofereceram à Igreja o Papa Francisco. Para a maior glória de Deus!  

 

Os cristãos, membros da Igreja e, mais ainda, os que respondem à vocação ao ministério ordenado – diáconos, padres, bispos – entendem que tudo muda, quando a vontade de Deus e a manifestação da sua glória são colocadas como opção fundamental da vida. O seminarista Maiki também sabe disso e certamente teve tudo isso em mente ao escolher, como propósito de seu ministério diaconal, fazer tudo para a maior glória de Deus.

 

A primeira leitura, do Profeta Jeremias, permitiu ao Maiki recordar que “antes de ser formado no ventre materno” era já conhecido por Deus; e que a semente da vocação fora plantada em seu coração “antes de sair do seio de sua mãe” (Jr 1,4). Plantada por Deus e germinada por Sua graça, a vocação é passo a passo cultivada por aquele que descobre e responde ao chamado.

 

Foi deste modo que, desde o início de sua trajetória na Igreja, na Diocese de Campanha-MG, ao realizar os estudos e nos caminhos que percorreu durante o tempo de formação para o sacerdócio, que Maiki aprendeu, não sem sofrimentos, mas com persistência e perseverança, que na Igreja – também na família e na sociedade – para aquele que busca a glória de Deus, descortina um largo e luminoso horizonte de liberdade. Ao contrário, quando a glória pessoal se torna meta, tudo fica estreito, limitado, triste, ilusório e sem futuro.

 

Deus é Amor; Deus é Luz! Jesus Cristo, Filho de Deus, é a face humana do amor e da luz de Deus. Como proclama a Carta aos Hebreus Ele é o “resplendor da glória de Deus e a expressão do Seu ser” (Hb 1,3), conforme Jesus já tinha ensinado aos discípulos: “eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). E mais ainda, Jesus oferece aos seus apóstolos e a todos os cristãos o privilégio de participar dessa sua missão (como ouvimos no evangelho): “vós sois a luz do mundo! ... brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem (doxaswsin) o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

 

Cristo glorifica o Pai e a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, glorifica o Filho. Ou seja, a Igreja reflete no mundo a luz de Cristo. Santo Irineu afirma que “a glória de Deus é o homem vivo” o que equivale a dizer que, quando o ser humano é respeitado em sua dignidade, nele reflete a glória de Deus. Para os cristãos, a dignidade inerente a toda pessoa humana adquire, pelo batismo, o caráter de filiação divina, além de conferir a pertença à comunidade dos discípulos de Cristo.

 

O testemunho dos cristãos – e aqui, caro Maiki, se mencione especificamente o serviço dos diáconos – são enviados como instrumentos para iluminar o mundo com a glória de Deus. Santo Agostinho afirma que João Batista é a voz, enquanto Cristo é a Palavra. Da mesma forma, é possível dizer que o cristão é a lâmpada, porém Cristo é a luz. Nossa vocação consiste em ter e manter nas mãos essa lâmpada acesa para que a luz de Cristo dissipe as trevas da mentira e do erro e o mundo proclame a glória de Deus.

 

Deus não depende do nosso reconhecimento, enquanto ao ser humano é salutar glorificá-lo. É assim que, nos evangelhos, diante dos prodígios que Jesus realizava, curando doentes e expulsando espíritos impuros, a multidão extasiada irrompia em louvor e glória a Deus, por exemplo, quando Jesus curou dez leprosos, um deles, “vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus” (Lc 17,15) e agradecendo a Jesus (v. 16). Todos viram a glória de Cristo. Outro exemplo: nas bodas de Caná, quando Jesus transformou a água em vinho – e vinho melhor – o relato de João conclui dizendo que: “manifestou sua glória e seus discípulos creram n’Ele” (Jo 2,11).

 

A glória de Deus consiste em AMAR; a glória de Cristo consiste em SERVIR. Colocar-se a serviço é ser luz do mundo! Um dia Cristo disse: “o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). A missão dos seus ministros da Igreja é servir: evangelizar, ir ao encontro, acolher, consolar, socorrer, a exemplo do bom samaritano, curar as feridas do corpo e da alma!

 

Nos Atos dos Apóstolos, os sete primeiros diáconos – Estevão e seus companheiros (cf. At 6) – foram escolhidos para servir às mesas. Mais ainda, para servir a três mesas: da Palavra, do Altar e dos Pobres: servir a mesa da Palavra pelo anúncio e pela pregação, servir a mesa do Altar pela liturgia e servir a mesa dos pobres pela caridade. Nisto consiste, caríssimo diácono eleito, Maiki, a razão do seu ministério e da alegria que dele você poderá haurir, dia a dia, em cada gesto de amor dedicado aos irmãos e irmãs, especialmente aos pobres e sofredores. Posso dar o testemunho de que presenciei gestos assim de sua parte, desde que você chegou em nossa diocese e, particularmente, no tempo em que viveu em minha casa.

 

São Paulo, na segunda leitura, recorda que São muitos os carismas: “temos dons diferentes, de acordo com a graça dada a cada um de nós: profecia, serviço, ensino, exortação, caridade, presidência” (cf. Rm 12,6-8); e tantos outros carismas a serem colocados a serviço do bem comum (cf. 1Cor 12,7), com “simplicidade e com alegria” (Rm 12,8). E eu acrescentaria: com o coração aquecido de bondade e de esperança, com perseverança e contando sempre com a intercessão de Maria, a serva do Senhor! Tudo para a maior glória de Deus! Amém!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 09 de julho de 2022