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Palavra do Bispo | Homilia - 03/12/2022

Homilia - 03/12/2022

Homilia de Ordenação Diaconal: Diego Araújo Costa, Donizete Camilo Júnior, Jardel da Silva Cerqueira e Victor de Moraes Rezende

 

Catedral de Sant’Ana de Mogi das Cruzes – 03 de dezembro de 2022

 

 

FAZEI DE NÓS UMA PERFEITA OFERENDA

(Oração Eucarística 3)

 

Fazei de nós uma perfeita oferenda! Este pensamento, retirado da oração eucarística 3, é o lema escolhido pelo seminarista DIEGO. A mais perfeita oferenda a Deus Pai é o próprio Cristo. Com Ele, por Ele e n’Ele, também a nossa vida pode se tornar uma oferta agradável a Deus. E assim, com a Igreja rezamos: “aceitareis o verdadeiro sacrifício, no altar do coração arrependido” (cf. Sl 50,21).

 

A vocação é o chamado de Deus; a resposta é a missão, e esta se concretiza na oferta da própria vida a Deus, no serviço aos irmãos, sobretudo aos pobres. O seminarista Diego, que logo mais será diácono, nos últimos anos, enfrentando delicado tratamento de saúde, tem feito uma forte experiência do que significa ser uma oferta confiante nas mãos providentes do Pai, por intercessão de Maria, como tantas vezes ouvimo-lo testemunhar. Não resta dúvida que a provação e sofrimento pelo qual ele passou contribuíram para consolidar mais e mais sua resposta ao chamado de Deus, até chegar a esse momento abençoado da ordenação. Todos sabemos o quanto somos frágeis e o que significa a exclamação do apóstolo Paulo: “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).  

 

Sim, o Senhor nos fortalece e “o Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza” (cf. Rm 8,26). O seminarista JÚNIOR, através do seu lema, nos recordou que cada pessoa é “como barro na mão do oleiro” (Jr 18,6). São palavras do profeta Jeremias, quando disse: “como barro na mão do oleiro, assim sereis vós na minha mão”, isto é, nas mãos de Deus. O barro é frágil mas a mão do Senhor é firme; o barro é informe mas a mão do Senhor o modela; o barro é inerte mas o Espírito do Senhor o vivifica. Da mesma forma que, pela habilidade do artista, o que é frágil, informe e inerte se torna vaso majestoso, assim também a Palavra do Senhor renova nosso espírito, converte o nosso coração e nos capacita para a missão.

 

Posso testemunhar, sem sombra de dúvida, que Donizete Camilo Júnior sempre se deixou modelar pela graça de Deus. E continuará, daqui para frente, sendo guiado pelas mãos do criador, burilado por Cristo sumo sacerdote e purificado pelo fogo do Espírito Santo, que aquece e ilumina. Há dez anos, quando aqui cheguei, na primeira vez que celebrei na Paróquia São Pedro Apóstolo, em César de Souza, lá estava um jovem, com grande vivacidade e destreza, servindo ao altar como cerimoniário. Pensei: que beleza de seminarista seria esse rapaz! Mas eu soube que ele tinha intenção de ingressar numa outra comunidade da Igreja. Fez também uma experiência de trabalho profissional, mas, passado um tempo, amadureceu seu ideal e ingressou no nosso seminário, percorrendo as etapas da formação: propedêutico, filosofia e teologia. Nesse tempo, passou pela dor da perda de seu pai Donizete Camilo.

 

Por fim, este ano, depois de passar o mês de janeiro em missão, no Maranhão, com outros seminaristas, tive a graça de tê-lo residindo em minha casa, durante todo este ano, me ajudando em tudo. Sempre disponível, ágil, com sorriso no rosto, transmitindo alegria e entusiasmo a todos. Em diversas paróquias onde passamos, pude constatar o quanto ele é conhecido e admirado. Júnior! Você foi para mim um grande apoio; agradeço de coração sua colaboração, amizade e fidelidade. Deus abençoe a nova missão. Força e coragem, Júnior!

 

Força e coragem, queridos novos diáconos! É o que proclama o lema do JARDEL: “Sê firme e corajoso! Não temas e não te apavores, porque o Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes” (Js 1,9). São palavras de encorajamento ditas por Deus a Josué, sucessor de Moisés, que recebeu a missão de conduzir o povo à terra prometida. Também Jardel, na vida, passou por momentos de dificuldades, sobretudo pelo falecimento da mãe Maria da Glória da Silva Cerqueira. Contudo, com serenidade e determinação, aqui está ele, pronto para ser ordenado diácono, com seu jeito simples e espontâneo, sorriso nos lábios, confiante na divina providência e um certo senso de curiosidade e aventura, que o remete à pureza das crianças e à bem-aventurança dos puros de coração.

 

Afeito aos estudos, atento aos problemas sociais, ansioso por valorizar a cultura brasileira, JARDEL contribuirá, no clero, para que a ação pastoral contemple essas múltiplas e importantes dimensões da vida humana, eclesial e social. Sabendo que não faltarão desafios pela frente, é bom sempre recordar que o Deus disse a Josué: “o Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes”. Olhar para a frente e contar com a graça de Deus!

 

O ministério ordenado (diaconado, presbiterado e episcopado) é um serviço a Deus e aos irmãos, na Igreja. Diácono significa “servidor”, conforme as palavras de Cristo: “aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve” (Mt 20,26). Em Lucas, Jesus completa: “estou no meio de vós como aquele que serve!” (Lc 22,27). E em João, depois de lavar os pés aos apóstolos, completa: “dei-vos os exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes” (Jo 13,15.17).  

 

Este espírito de doação e serviço está contido no lema do VICTOR, que tomou as palavras do apóstolo Paulo, quando fala de sua missão evangelizadora, no capítulo 9 da primeira carta aos Coríntios: “Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo” (1Cor 9,22). Antes disso, Paulo afirmou: “para mim, anunciar o evangelho não é título de glória; é antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho! (1Cor 9,16).

 

Victor deixa claro que a motivação de sua vida e sua vocação é colocar-se a serviço da missão evangelizadora da Igreja, em suas três dimensões: o anúncio da Palavra, a celebração do culto divino e o serviço da caridade. Recordo-me também que, logo que cheguei na diocese, há dez anos, na primeira vez que fui celebrar crisma na Paróquia São Bento, no Distrito do Parateí, Guararema, vários coroinhas e acólitos me ajudaram. Um deles era o Victor, sobre quem o pároco, Pe. Odair, ao apresentá-lo a mim, disse: este quer ser padre. Não demorou, Victor iniciou os encontros vocacionais e ingressou no seminário. Neste tempo, passou pelo sofrimento que foi a morte do pai, Marco Antonio de Rezende, mas continuou firme e perseverou, com grande esforço e com seu testemunho de serenidade, dedicação e alegria, deixando profundas marcas onde fez pastoral.

 

Na verdade, o exemplo de perseverança destes quatro diáconos eleitos muito enriquece essa celebração, neste ano vocacional, cuja abertura se deu há quinze dias, na solenidade de Cristo Rei, com o tema: Vocação: Graça e Missão e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho”. Eles abraçaram com coragem a vocação, sabendo escutar e acolher o chamado de Deus. Corações ardentes pela graça da ordenação, pés a caminho rumo à missão que os espera. Quais bons samaritanos, movidos de compaixão e misericórdia, irão ao encontro de cada pessoa ferida e de cada irmão/ã necessitado do pão da palavra, do pão da eucaristia e do pão da caridade fraterna.

 

Cristo é “a luz do mundo” e quem o “segue não andará nas trevas mas terá a luz da vida” (cf. Jo 6,12). E como proclamou o Evangelho (Mt 5,13-16) nesta liturgia, Cristo chama os discípulos a participarem desta missão: “vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo”. Sem o testemunho dos cristãos, o mundo fica sem sabor e sem claridade, as pessoas ficam sem sentido na vida, tateando como cegos na escuridão. Por isso, Jesus completa: “brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem (doxaswsin) o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

 

Ser sal e luz! Esta é a nossa missão, motivada ainda mais pela memória que a Igreja hoje celebra, a do presbítero São Francisco Xavier, um dos patronos da missão, tendo ele doado sua vida como missionário na China. Sua festa recorda que somos missionários, aqui onde estamos, mas também ad gentes, em outros lugares: Bahia, África, Amazônia etc, onde se encontram irmãos sacerdotes e diáconos de nossa diocese. Louvamos a Deus Pai que nos chamou como operários para a messe do seu Filho Jesus. Invocamos a luz do Santo Espírito para sermos dignos trabalhadores da vinha do Senhor. Contamos com a intercessão de Maria, mãe de Jesus, da Igreja e das vocações. E de nossa padroeira Sant’Ana, caminhando que estamos para o encerramento do Jubileu de 60 de criação e instalação de nossa Diocese.

 

“Oferecendo um sacrifício de louvor e invocando o nome do Senhor” (cf. Sl 116/115,17), mais uma vez suplicamos: “fazei de nós uma perfeita oferenda”. Amém!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 03 de dezembro de 2022

Memória de São Francisco Xavier