“Sois ministros do nosso Deus!” (cf. Is 61,1)
“Jesus Cristo fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai” (Ap 1,6). O Reino de Deus é para todos os seres humanos. O sacerdócio comum dos fiéis é para todos os batizados, membros da Igreja. O sacerdócio ministerial é para aqueles que foram chamados, responderam com os “corações ardentes e pés a caminho” e receberam o sacramento da Ordem, pela imposição das mãos e a unção do Espírito Santo.
A Igreja é instrumento para a edificação do Reino e sinal visível de que ele está presente. Ela é, portanto, sacramento da salvação (LG). Através da Igreja, e em nome dela, os presbíteros se colocam a serviço, pois o Reino de Deus precisa da Igreja e a Igreja precisa dos presbíteros.
Deus quis que a Igreja de Jesus Cristo fosse parte fundamental do povo sacerdotal. Os sacerdotes são ungidos pelo mesmo Espírito de Deus que ungiu Jesus Cristo, conquanto atestam Suas palavras no evangelho: “o Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor” (cf. Lc 4,18-19).
Remontando a Isaías (1ª leitura), verifica-se que o profeta é ungido também “para consolar todos os que choram e dar aos que sofrem uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez da aflição” (Is 61,2-3). Isto é a base para que Isaías proclame: “vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros do nosso Deus” (Is 61,6).
O Prefácio da missa de ordenação reza que Jesus Cristo é o “Pontífice da nova e eterna aliança” e, para que “seu único sacerdócio se perpetuasse na Igreja”, o Pai “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real. E, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.
Queridos padres! A missa do crisma, celebrada na quinta-feira santa, com a Igreja diocesana e o seu presbitério, na Catedral, juntos com o bispo, constitui forte testemunho de fraternidade presbiteral e comunhão eclesial. Conforme palavras de Bento XVI: “é um momento muito importante para a vida da comunidade diocesana que, reunida em volta do seu pastor, fortalece a própria unidade e a sua fidelidade a Cristo, único Sumo e Eterno Sacerdote” (Bento XVI, Praça São Pedro, 19.03.2008).
Na missa do Crisma, realiza-se a renovação das promessas sacerdotais, assumidas no dia da ordenação, para sermos “totalmente consagrados a Cristo na prática do sagrado ministério ao serviço dos irmãos” (Papa Bento XVI, Praça São Pedro, 20.04.3011).
Cada ano, se nos apresenta esta singular e propícia ocasião de agradecer a Deus pelo chamado e pela consagração, ungidos que fomos, pela graça da ordenação sacerdotal, com o óleo do santo crisma, que logo mais será abençoado, juntamente com o do batismo e o dos enfermos.
Os santos óleos foram preparados e serão abençoados para serem utilizados na celebração dos sacramentos do batismo, crisma, ordenação presbiteral, ordenação episcopal e unção dos enfermos. Bento XVI afirma que “nisto evidencia-se como a salvação, transmitida pelos sinais sacramentais, brota precisamente do Mistério pascal de Cristo; com efeito, nós somos remidos com sua morte e ressurreição e, mediante os Sacramentos, bebemos daquela mesma fonte salvífica” (Bento XVI, Praça São Pedro, 19.03.2008).
Caríssimos padres! Rendamos infinitas graças a Deus por mais uma vez – e diversos pela primeira vez (refiro-me aos 12 que foram ordenados depois da quinta-feira santa do ano passado) – podermos renovar as promessas e os compromissos sacerdotais. Juntos, em profunda oração, intensa alegria e júbilo, vamos responder com confiança e convicção: QUERO.
Sim, eu quero conformar-me sempre mais ao Senhor Jesus. Sim, eu quero ser fiel distribuidor dos mistérios de Deus, ensinando a fé católica e celebrando a sagrada Eucaristia, que é “fonte e coroa de toda a evangelização; que é o centro da assembleia dos fiéis a que o presbítero preside” (cf. Presbyterorum Ordinis 5).
Queridos irmãos e irmãs! Neste dia da renovação das promessas sacerdotais dos presbíteros, rendamos graças a Deus pela vida e ministério dos nossos padres que, em nome e na pessoa de Cristo, estão convosco, no meio do povo, servindo os irmãos nas paróquias e nas comunidades cristãs, indo ao encontro dos necessitados e doentes, consolando as famílias enlutadas, socorrendo os pobres em suas necessidades materiais, humanas e espirituais, levando conforto e esperança a todos, sobretudo nas periferias geográficas e existenciais, como fala o Papa Francisco.
Povo de Deus, aqui reunido! Renovemos nosso propósito de rezar pelos padres, para que tenham forças diante dos desafios que enfrentam. A alegria e o sorriso que transbordam de seu semblante de pastor tantas vezes esconde tristezas, preocupações e sofrimentos de uma alma inquieta e angustiada. Carregamos dores pessoais, problemas familiares, conflitos eclesiais e não estamos alheios às dores da humanidade, golpeada pelas guerras e toda sorte de injustiças, pois “até o presente a criação inteira geme e sofre as dores de parto” (Rm 8,22).
Nós, padres, sabemos que, pelo sofrimento, assumimos nossa participação na cruz de Cristo, sabendo também que a cruz aponta para a vitória da ressurreição; por isso, a missão vale a pena e perseverar é preciso, pois a evangelização aproxima as pessoas de Deus, transformando corações e estruturas. Evangelizar é anunciar que, em Deus, está o verdadeiro sentido da vida e a verdadeira alegria, por isso, a canção popular: “na comunidade onde mora um padre, o povo vive mais feliz” (Elba Ramalho e Antonio Maria).
Particularmente, não cesso de louvar a Deus pela graça de, nesses dez anos, ordenar, aqui na diocese, 78 padres (68 diocesanos e 10 religiosos). Nossa Diocese conta com cerca de cento e cinquenta padres: os que são aqui incardinados, os que pertencem às congregações religiosas (religiosos) e os fidei donum, isto é, os que vieram de outras dioceses, como missionários, para nos ajudar. Agradecemos a Deus pelos 20 padres de nossa diocese que estão em missão Ad Gentes, isto é, em outras dioceses, no Brasil e no exterior. Saúdo aos padres que, neste ano, celebram jubileu de prata sacerdotal: Antonio Parula, Beniamino Resta, Celso Laurindo, Cláudio Delfino, João Batista Ramos Mota e Francisco Deragil (in memoriam).
Lembramos com gratidão e saudade dos falecidos: Diácono Marcos Antonio da Silva (15 de janeiro), nosso bispo emérito e terceiro bispo diocesano, Dom Paulo Mascarenhas Roxo (01 de junho) e do Pe. Jefferson Calidônio André (06 de novembro), no ano passado. E neste ano de 2023: Diácono Geraldo Tomaz Augusto (15 de fevereiro) e o diácono Márcio Hais (10 de março) e Pe. Eugênio Höfler (20.02.23). Rezemos pelo descanso e a felicidade eterna desses nossos irmãos.
Louvando e bendizendo a Deus, meus sentimentos, neste momento, são de gratidão, reconhecimento e apreço pelo nosso presbitério diocesano e por todo o clero. Queridos padres, diáconos e incluo, desde já, os seminaristas! Falo a vocês com o coração de pai, pois os tenho junto a mim como filhos espirituais, junto ao presbitério como irmãos que se amam e se ajudam, e junto ao povo de Deus como pastores segundo o coração do Pai e de Jesus Cristo, o bom pastor.
Sois Filhos! Irmãos! Pastores! Não sois órfãos. Em meio às alegrias e tristezas, acertos e erros, virtudes e pecados, o Espírito Santo age em nós e através de nós. Cristo se serve do nosso ministério para salvação de todos. O mistério escondido na oração, a beleza da eucaristia, a amizade e a poesia, alimentem nossa espiritualidade e propiciem aquele encontro profundo com a pessoa Jesus Cristo. Venha em auxílio a ternura de Maria, mãe da Igreja e mãe dos sacerdotes, o eloquente silêncio de São José, patrono da Igreja, e a sabedoria de Sant’Anna nossa padroeira. Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 06 de abril de 2023
Quinta-feira da Semana Santa