Homilia para ordenação sacerdotal (10.06.2023)
Diego Araújo Costa, Donizette Camilo Júnior, Jardel da Silva Cerqueira e Victor de Moraes Rezende
“Anunciamos Jesus Cristo, o Senhor!” (cf. 2 Cor 4,5)
“Anunciamos Jesus Cristo, o Senhor!” (cf. 2 Cor 4,5)! Anunciar Jesus Cristo é a motivação de nossa vida cristã e é por isso estamos reunidos nesta celebração. É a consequência do batismo e da crisma que um dia recebemos. Sim, para anunciar Jesus Cristo os diáconos Diego, Donizete, Jardel e Victor foram chamados, responderam à vocação, prepararam-se durante anos, receberam o primeiro grau da ordenação, o diaconado, e hoje recebem a ordenação presbiteral, tornando-se “sacerdotes do Senhor e ministros do nosso Deus” (Is 61,6).
Queridos filhos! Pela imposição de minhas mãos e pela invocação do Espírito Santo vocês se tornam sacerdotes e são enviados em missão, conforme foi proclamado na primeira leitura: “o Espírito do Senhor está sobre mim porque o Senhor me ungiu para dar a boa-nova aos humildes e curar as feridas da alma” (Is 61,1). Unção e missão! Vocês serão ungidos para, em nome de Deus, como ministros ordenados, irem ao encontro das pessoas e falar-lhes ao coração, levando conforto a quem necessita de cura para as feridas do corpo, da alma e do Espírito!
Queridos irmãos e irmãs! Os sacerdotes, também denominados presbíteros ou padres recebem de Deus a sublime missão de serem ministros da Igreja. A carta aos Hebreus afirma que todo sacerdote “é tomado do meio do povo e constituído em favor do povo nas suas relações com Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5,1). Como sacerdotes, eles servem ao altar, ao templo, ao culto, participando da missão santificadora da Igreja. Enquanto presbíteros, servem o povo de Deus, como pastores, apascentando o rebanho, do qual Cristo é o “supremo pastor” (1Pd 5,4).
Desde o Antigo Testamento, Deus já se revela como o pastor, Aquele que conduz, cuida, protege e defende seu povo. E, mais ainda, Ele faz a seguinte promessa: “dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15). É o lema escolhido pelo diácono Victor. “Pastores dabo vobis” é o título de encíclica de São João Paulo II (1992), que trata da formação presbiteral. No tempo de formação, os vocacionados e seminaristas passam por um longo período de preparação para tornarem-se, pelo caráter sagrado e indelével da ordenação, bons pastores, segundo o amoroso e bondoso coração de Deus; pastores que agem na pessoa de Cristo, o bom pastor, inspirados no que Ele mesmo afirmou, no evangelho que ouvimos: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate de muitos” (Mt 20,28).
Movidos pelos mesmos sentimentos de misericórdia e compaixão que sentiu Jesus diante da multidão faminta e sofrida, os pastores da Igreja vão ao encontro das ovelhas, especialmente daquelas que estão perdidas, feridas, cansadas, abatidas e desorientadas. A Igreja precisa, segundo o Papa Francisco, de “pastores com o cheiro das ovelhas”. Sim, é preciso ir ao encontro delas, conforme o lema do Diácono Jardel: “eu preciso ir aonde as pessoas têm maior necessidade do Evangelho”. Com esta inspiração, Jardel cita São Charles de Foucauld, de cuja fraternidade ele também participa. A humanidade precisa do Evangelho. De fato, o Evangelho de Jesus Cristo é o maior dom que se pode oferecer a uma pessoa. É o tesouro escondido e pérola preciosa de que Jesus fala em suas parábolas sobre o Reino de Deus.
A Bíblia usa ricas imagens para falar da verdade de Deus e da missão daqueles que se tornam mensageiros e testemunhas dessa mesma Verdade. Jesus evoca o tesouro e a pérola, Isaías fala do “óleo da alegria”, para Paulo, o cristão é o “bom perfume de Cristo” (2 Cor 2,15) que suavemente se espalha, tornando o ambiente agradável e acolhedor.
Cito aqui o Professor Fernando Altemeyer Júnior, no artigo intitulado "O perfume de Cristo no sacramento da confirmação". Ele afirma que “Cristo é o perfume de Deus. O amor é o perfume da Igreja. Recebemos esse perfume para espalhá-lo no mundo. Para atrair pessoas com essa fragrância. É um perfume que sai das profundezas de Deus. O frasco precisa ser aspergido. O perfume precisa ungir quem está sem perfume ou sem gosto de viver, anda desanimado, cansado e sofrido”. E aqui eu acrescento: os novos padres terão as mãos ungidas com o perfumado óleo do crisma.
Outra imagem forte é a da luz, conforme o salmo 35(36): “em vós Senhor está a fonte da vida, e em vossa luz contemplamos a luz” (v.10). Jesus disse: “eu sou luz do mundo”. E para os discípulos: “vós sois a luz do mundo”. E, na segunda leitura, Paulo afirma que Deus “fez brilhar a sua luz em nossos corações para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de Cristo” (2 Cor 4,6).
A luz de Deus que brilha em nós se reflete a partir do nosso testemunho, discípulos-missionários de Jesus Cristo que somos. “Evangelizar os pobres”! Evangelizar com alegria! Eis a missão dos ministros da Igreja. Realizá-la com ardor e entusiasmo é a razão da nossa alegria e da ação de graças que da terra sobe aos céus: “aclamai o Senhor ó terra inteira! Servi ao Senhor com alegria! Ide a Ele cantando jubilosos!” (Sl 99/100). Neste salmo, o Diácono Júnior se inspirou e escolheu seu lema “Servi ao Senhor com alegria!”, expressando, antes de tudo, a alegria que lhe é própria e que se expande do seu semblante e, sobretudo, a alegria de quem é feliz pela vocação e pela missão que abraçou: alegria de se tornar para sempre um ministro de Deus.
A alegria, dom do Espírito Santo, reflete a convicção e a felicidade dos que dedicam sua vida à Igreja e ao Povo de Deus. “Dar a vida pelos irmãos”! Este é o lema escolhido pelo Diácono Diego, extraído da 1ª Carta de São João: “nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu sua vida por nós e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1 Jo 3,16). Doar a vida sempre, em todas as situações, nas alegrias e também nas adversidades, dores e limitações.
Com os olhos fixos em Jesus que, sem reservar nada para si, tudo ofereceu, entregando sua vida, ofereçamos também nós, do muito e do pouco, da riqueza e da pobreza, fazendo frutificar os talentos e colocando os carismas “em vista do bem comum” (1 Cor 12,7). Assim caminha a Igreja, em sua missão evangelizadora: com o povo, ao lado dos pobres, “servindo ao Senhor com alegria”, doando a vida nas pastorais, nos mais diversos ambientes e situações, nos centros e nas periferias, nas universidades e nas obras sociais, com as crianças, adolescentes, jovens, famílias, idosos; no campo e na cidade, nas ruas e praças, nas prisões e nas casas de acolhida, em todos os lugares.
Nada que é humano escapa ao olhar divino de Cristo. Ele caminha conosco, ressuscitado, explicando as Escrituras, fazendo arder os nossos corações e fortalecendo-nos pela Eucaristia, que os sacerdotes diariamente presidem em nome de Cristo. A Eucaristia garante perseverança, conforme afirma o apóstolo Paulo, na segunda leitura: “não desanimamos no exercício deste ministério que recebemos da misericórdia divina” (2 Cor 4,1). A Eucaristia nos fortalece, mesmo sabendo que “trazemos este tesouro em vasos de barro” (2 Cor 4,7). “Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja. Ela é fonte e coroa de toda a evangelização; ela é o centro da assembleia dos fiéis a que o presbítero preside” (cf. Presbyterorum Ordinis 5). Louvado seja Deus pela vida e pelo ministério dos presbíteros.
Queridos filhos! Em resumo, os lemas que vocês escolheram para a ordenação sacerdotal traçam um consistente projeto para a vida e o ministério que abraçam: ser pastor segundo o coração de Deus; ir aonde as pessoas têm maior necessidade do Evangelho; servir ao Senhor com alegria e entregar a vida pelos irmãos, especialmente os pobres e sofredores.
Nossa diocese de Mogi das Cruzes se rejubila com vocês e por vocês, agradecida por tão generosa resposta e jovial testemunho. Rogando a intercessão de Maria, mãe dos sacerdotes, irrompe dos nossos corações o exultante Magnificat. Estejam certos que, de humanos e imanentes “vasos de barro”, vocês espalham e deixam exalar “o suave perfume de Cristo” inundando os corações de graça, beleza, verdade e esperança. Vocês iniciam hoje um novo, longo e promissor caminho, ao lado dos demais padres do nosso presbitério, com todo o clero e o povo de Deus, na certeza que se renova em cada novo amanhecer:
“Anunciamos Jesus Cristo, o Senhor”! Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 10 de junho de 2023