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Palavra do Bispo | Homilia - 23/03/2024

Homilia - 23/03/2024

Romaria diocesana da Festa do Divino Espírito Santo da Diocese de Mogi das Cruzes ao Santuário de Aparecida – 23 de março de 2024

 

“Vendo o que Jesus realizava, muitos creram n’Ele”

(cf. Jo 11,45)

 

Irmãos e irmãs, Deus nos concede a graça e a alegria de, mais uma vez, nos encontramos neste Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Viemos à casa da Mãe como peregrinos, em Romaria. De cada coração brota uma prece e de cada olhar voltado para a pequena imagem reluz um brilho novo de esperança.

 

Somos devotos provindos de diferentes lugares, dentre os quais romeiros da Diocese de Mogi das Cruzes, em sua romaria anual, em preparação à Festa do Divino Espírito Santo.

 

A devoção ao Divino Espírito Santo, na Diocese de Mogi das Cruzes, na Região do Alto Tietê, remonta ao período colonial, há quatrocentos e onze anos. E, a partir de então, a fé cristã foi se consolidando nos povoados, hoje cidades que, no decorrer do tempo, foram preservando e celebrando esta devoção.

 

Estamos encerrando o tempo da Quaresma, às vésperas do início da Semana Santa, que se inicia amanhã, com a celebração do Domingo de Ramos, e se conclui com a celebração do Tríduo Pascal. No domingo de Ramos, todos somos chamados a contribuir com a coleta da solidariedade, como gesto de caridade, fruto da Campanha da Fraternidade.

 

A Quaresma é tempo de buscar o sacramento da confissão e, através dele, a graça do perdão de nossos pecados. Aqui, na casa da Mãe, também pedimos a cura das enfermidades para nós e para nossos irmãos e irmãs doentes.

 

Peregrinar rumo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida é a oportunidade de uma peregrinação interior, para que, do mais íntimo dos nossos corações ardentes brotem propósitos de conversão e gestos de reconciliação e solidariedade. Rezamos, de modo especial, pela Paz, para que cessem os conflitos e os horrores das guerras.

 

A Romaria anual do Divino ao Santuário nacional de Nossa Senhora Aparecida exprime nossa devoção a Maria Santíssima, aquela que, de modo perfeito, acolheu a Palavra de Deus, fez do seu coração morada e templo do Espírito Santo e esteve presente em Pentecostes, quando se deu a primeira grandiosa efusão dos seus dons sobre a Igreja. Supliquemos, em primeiro lugar, os sete dons: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Supliquemos também, na diversidade de dons, outros frutos do Espírito: “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, paciência” (Gl 5,22).

 

Nesse sentido, é que a Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes, neste ano de 2024, traz o seguinte lema: “Divino Espírito Santo, derramai em nossos corações o dom da Misericórdia”. Sim, “Deus, rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, quando ainda estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos a vida com Cristo” (Ef 2,4.5).

 

A liturgia da Palavra desta Santa Missa quaresmal nos ajuda a meditar, compreender e viver segundo “esta graça pela qual fomos salvos” (cf. Ef 2,5), pois, “é pela graça que fomos salvos, mediante a fé” (cf. Ef 2, 8). O evangelho de hoje (Jo 11,45-56) narra que muitos “viram o que Jesus fizera e creram n’Ele” (Jo 11,45). Porém, os sumos sacerdotes, os fariseus, o Conselho dos Anciãos e autoridades judaicas, constatando que Jesus realizava muitos sinais e o povo ficava admirado, e sem argumentos para contestar a sabedoria e a autoridade de Jesus, tomaram a decisão de matá-lo. O texto explicita, pelas palavras de Caifás - é necessário que um morra pelo povo -, que a rejeição e o sofrimento que Jesus iria enfrentar seria uma profecia para anunciar que Jesus iria morrer “para reunir os filhos de Deus dispersos” (Jo 11,52).

 

A primeira leitura (Ez 37,21-28), também trata de uma profecia que seria realizada em Cristo, pois Ezequiel fala sobre o sentido da aliança de Deus com seu povo. Ezequiel revela como Deus anuncia a libertação dos filhos do seu povo: “vou reconduzi-los para a sua terra” (v. 21); “farei deles uma nação única ... apenas um rei reinará sobre todos eles” (v. 22). Trata-se do Rei Davi, que já havia anteriormente reinado, e do seu descendente que viria para reinar, isto é, Jesus Cristo.

 

Ezequiel continua e, por duas vezes, insiste: “eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus”. E ainda: “haverá um único pastor” (v. 24). Como Davi fora pastor, seu legítimo e universal descendente, Jesus Cristo, virá como bom pastor e dará sua vida pelas ovelhas do seu rebanho. Por isso rezamos no salmo que “o Senhor qual pastor guardará a seu rebanho” (Jr 31,10).

 

E ainda, segundo Ezequiel, Deus fala: “farei com eles uma aliança de paz, que será uma aliança eterna”. E, “no meio deles colocarei meu santuário para sempre” e assim, do santuário, todos saberão que o Senhor santifica seu povo” (cf. v. 28). Toda esta promessa se realiza em Cristo.

 

A história da salvação tem seu ponto alto na expressão máxima da misericórdia de Deus que amou tanto o mundo que entregou seu Filho amado (Jo 3). E assim, conquanto se viva, na história humana, a plenitude dos tempos, continuamos clamar: “Divino Espírito Santo, derramai em nossos corações o dom da misericórdia”.

 

A misericórdia perdoa as ofensas, dissipa as discórdias, supera o ódio e a vence a violência. É tempo de fraternidade! Ter um coração misericordioso é estar em sintonia com o coração de Deus, isto é, a bondade do Pai, a compaixão do Filho, Jesus Cristo, e o amor do Espírito Santo.

 

No sermão da montanha, Jesus declarou “felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). A Igreja, em nome de Jesus, acolhe a todos com misericórdia, socorrendo os pobres, movida de compaixão.

 

Em romaria, e com Maria, proclamemos a misericórdia e o amor de Deus, do hino do Magnificat: “o Senhor fez em mim maravilhas e santo é seu nome; sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,49-50). E que Ela, a mãe de Misericórdia, interceda sempre para que haja união nas famílias, paz e concórdia entre os povos e empenho na defesa da vida do ser humano e da criação.  

 

Somos agradecidos à Nossa Senhora por mais uma vez ter-nos acolhido com tanta ternura.

 

Nossa Senhora Aparecida! Rogai por nós!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

23 de março de 2024