Homilia para a Ordenação diaconal de Luiz Felipe de Souza
27 de abril de 2024
O amor de Cristo nos impele! (2 Cor 5,14)
“O amor de Cristo nos impele” (v. 14), em latim: Caritas Christi urget nos! Palavras do apóstolo Paulo, que ouvimos na 2ª leitura (2 Cor 5,14-21) e que Luiz Felipe escolheu como lema de sua ordenação diaconal.
Dizer que o amor de Cristo nos impele é o mesmo que dizer: o amor de Cristo nos impulsiona, atrai, conduz, pressiona. Impelir significa também urgir, pois, para o apóstolo, e para toda a Igreja, evangelizar é uma urgência: ai de mim se eu não anunciar o evangelho! (1Cor 9,16), diz Paulo em outra passagem.
O apóstolo sabe que o amor de Cristo sustenta, anima, motiva, faz caminhar, ajuda progredir e prosseguir na missão e não deixa desanimar nem desistir; pelo contrário, leva a evangelizar sempre com mais empenho: o amor jamais passará (1 Cor 13,8).
Ainda que em meio a muitos sofrimentos, o amor de Cristo traz ânimo, alegria, coragem e capacita a “estarmos sempre prontos a dar as razões de nossa esperança” (1 Pd 3, 15), pois, como ouvimos, “se alguém está em Cristo é uma nova criatura” (2 Cor 5, 17).
Como ouvimos nas leituras proclamadas, a Palavra da Escritura vai, passo a passo, revelando a sabedoria de Deus, com mensagens que fazem “arder o coração” (cf. Lc 24,32) e alargam o horizonte da fé. São mensagens que falam da profundidade do amor de Deus, em suas diversas dimensões, dentre as quais destaco quatro: o amor é fonte de conhecimento, o amor é reconhecido pelas obras, o amor é fonte de reconciliação, o amor sustenta a missão.
Que o amor é fonte de conhecimento e de revelação de Deus, São João o afirma em sua carta, quando diz: “todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7.8). Jesus Cristo é a expressão visível, carnal e humana do Pai e de seu amor: aquele que nós vimos, contemplamos e nossas mãos apalparam (cf. 1 Jo 1,1).
Na carta aos Romanos, Paulo afirma: “se quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte de seu Filho, quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida ... É por Cristo que já, desde o tempo presente, recebemos a reconciliação” (Rm 5,10).
No princípio, Deus revela seu amor na obra da criação e, na plenitude dos tempos, na obra da redenção, enviando Seu Filho ao mundo. Por isso, dizemos que Cristo é o missionário do Pai, pela ação do Espírito Santo. A missão da Igreja tem seu fundamento no amor trinitário, isto é, o Pai, por amor, envia o Filho; o Filho, por amor dá sua vida; e o Espírito Santo, por amor, conduz a missão da Igreja. E, desde os primórdios, com Pentecostes, “a palavra do Senhor difundia-se por toda a região” (At 13,42).
Os frutos da missão são a verdadeira recompensa do missionário. Quando viram que os pagãos abraçavam a fé, “os discípulos ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13,52). O salmo responsorial sintetiza a mensagem do amor que se desdobra em missão: “o Senhor recordou o seu amor sempre fiel e os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus” (Sl 97,).
Irmãos e irmãs! O diácono Luiz Felipe, como os demais diáconos, estará a serviço da Palavra, do altar e da caridade, à imitação de Cristo que “não veio para ser servido mas para servir e dar a vida” (Mc 10,45). Em nome da Igreja, ele irá presidir o culto e proclamar a Palavra de Deus; administrar o Batismo, distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o matrimônio, conferir os sacramentais e presidir exéquias. Agirá com “solicitude nas tarefas, mansidão no serviço e constância na oração” (cf. oração da coleta).
Na radicalidade da resposta ao chamado, fará livremente a promessa de “guardar para sempre o celibato por amor ao Reino dos Céus” e o voto de obediência ao bispo e à Igreja. Ordenado, passará a fazer parte do clero diocesano. No Prefácio, vamos proclamar que os ministros ordenados, “em nome de Cristo, precedem o povo na caridade, alimentam-no com a Palavra e o restauram com os Sacramentos” (Prefácio da ordenação).
Querido diácono eleito Luiz Felipe! O lema que você escolheu – o amor de Cristo nos impele – tem grande significado em sua vida. Seus pais – Luiz José de Souza e Irene Rodrigues Eroles –, impulsionados pelo amor de Cristo, o levaram para receber o sacramento do batismo, inserindo você nos caminhos da Igreja. Atraído pelo amor de Cristo, você, desde cedo, sentiu a inquietude de um chamado vocacional na Igreja: fez uma experiência de consagração na vida monástica, os estudos filosóficos e teológicos, até ingressar no seminário diocesano, sempre com muita dedicação nos trabalhos da Igreja. Conquistando o bacharelado em teologia, passou a morar em minha casa, onde continua. Só tenho a agradecer sua cordial companhia e sua colaboração. Recebeu os ministérios de leitor e acólito e fez uma experiência missionária no Maranhão, angariando também lá a estima das pessoas. Hoje, “mediante a imposição das minhas mãos e a graça do Espírito Santo”, você recebe o primeiro grau do sacramento da ordem, sendo ordenado diácono.
Querido filho! Por seis meses, você servirá à Igreja e ao povo de Deus como diácono transitório; depois será ordenado sacerdote. Perseverando neste caminho, a chama do amor de Deus, acesa em seu coração, jamais se extinguirá. Repito agora, especialmente para você, os ensinamentos que extraímos da Palavra de Deus que foi proclamada: o amor é fonte de conhecimento, o amor é reconhecido pelas obras, o amor é fonte de reconciliação, o amor sustenta a missão.
Com efeito, em sua vida, “tudo agora é novo” (2 Cor 5, 17), podendo, com Santo Agostinho, exclamar: “Então me chamaste e tua meiga voz abriu-me os ouvidos. Então me tocaste e a tua luz amiga meus olhos clareou”. Ao final do rito da ordenação, meu abraço de acolhida, que se prolonga no abraço dos irmãos diáconos, anunciará que você estará sacramentalmente unido a mim e a esse povo que lhe apoia e a quem você promete servir. É por isso que eu direi: “A Paz esteja contigo” e você responderá: “o amor de Cristo nos uniu”. E que se cumpra em você o doce propósito de Sta. Terezinha: “no coração da Igreja, serei o amor”.
Tudo pela intercessão da Virgem Maria, mãe das Vocações, São José, patrono da Igreja, Sant’Ana nossa padroeira e seu esposo São Joaquim! Tudo para a maior glória de Deus! Amém!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 27 de abril de 2024