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Palavra do Bispo | Homilia - 05/03/2025

Homilia - 05/03/2025

CF 2025: FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL

“Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1, 31)

 

A Campanha da Fraternidade de 2025 traz como tema: Fraternidade e ecologia integral e o lema “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1, 31). Anterior a esta, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou oito versões da Campanhas da Fraternidade com temas relacionados à Criação ou à Casa Comum, isto é, a ecologia.

 

A primeira foi em 1979, com o tema “Por um mundo mais humano” e o lema “Preserve o que de todos”. Depois houve outras edições: terra (1986), povos indígenas (2002), água: “Água, fonte de vida” (2004), Amazônia (2007), vida no planeta: “A criação geme em dores de parto” (cf. Rm 8,22) (2011), Casa Comum (2016), biomas brasileiros: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15) (2017).

 

A CF 2025 é fruto das seguintes motivações: os 10 anos da encíclica Laudato Si’; o Sínodo da Amazônia (2019); os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis e o Jubileu da Esperança – um convite à reconciliação com Deus, com os irmãos, consigo mesmo e com a criação. Tem presente também o agravamento da crise climática e as catástrofes sempre mais frequentes, nos dias atuais, e a realização da conferência anual dos países-membros (ou partes) signatários da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), a COP 30 que será no Brasil, em Belém do Pará. [COP significa “Conferência das Partes” (em inglês Conference of the Parties).]

 

Fraternidade e ecologia integral. A expressão “integral” decorre do fato que o cuidado com a Terra está intrinsecamente ligado ao cuidado com a pessoa humana. “Tudo está interligado”, ensina o Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’ (2015).

 

Ao conceito de Ecologia Integral, soma-se o de Ecologia Social, Ecologia Espiritual e Ecologia Profunda. Interligados, tais conceitos visam promover uma mudança de paradigma que possibilite superar os males que ameaçam gravemente nossos ecossistemas (cf. artigo Ecologia integral: Fraternidade como mudança de paradigma, de Eraldo Medeiros Costa Neto, Ana Cecília Estellita Lins, Luciano Rodolfo de Moura Machado).

 

De fato, “a Ecologia integral é também espiritual. Professamos, com alegria e gratidão, que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, Deus viu que tudo era muito bom (1,31)” (Texto-base n. 12).

 

Neste sentido, há que se agir com “projetos de espiritualidade e educação” (ibid, 40). Na encíclica Laudato Si’ (n. 10), Papa Francisco “reconhece a conexão entre a preocupação com a natureza, a justiça social, o engajamento na sociedade e a paz interior” (Texto-base, n. 50).

 

A CF 2025 tem como objetivo geral promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral (que inclui a conversão ecológica), ouvindo o grito dos pobres e o grito da Terra.

 

Esta campanha quer chamar atenção para os impactos negativos do estilo de vida atual, marcado pelo consumismo. A sociedade precisa identificar as causas da crise climática e buscar soluções, promovendo a Ecologia Integral. Cada pessoa é chamada a inserir-se num processo de conversão ecológica que leva a buscar novas relações com o próximo e com a natureza, fomentando a solidariedade e a partilha. Daí decorre o empenho em defender as vítimas de desastres naturais e de crimes ambientais.

 

Há uma relação intrínseca entre ecologia e fé, isto é, uma estreita conexão entre a espiritualidade cristã e a responsabilidade de proteger o meio ambiente, promovendo justiça social e ambiental. Ecologia integral comporta amor às criaturas, responsabilidade e cuidado da casa, em vista do bem pessoal, familiar e social; e um novo modo de pensar a cidade e o Planeta Terra, de forma mais integral.

 

Como diz o lema da CF, Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). É preciso VER com o olhar divino, que é o olhar da beleza, da bondade e do amor que gera vida. O olhar egoísta e mercantilista vê apenas o modo de se obter lucro, isto é, os interesses econômicos que são colocados acima de tudo (Laudate Deum, n. 71). O modelo econômico vigente está baseado na exploração e na desigualdade social. Daí a necessidade urgente de tomada de consciência dos problemas da nossa realidade, tais como as catástrofes climáticas (derretimento das geleiras, aquecimento global, insegurança alimentar e hídrica) e eventos climáticos extremos; o desenfreado uso de combustíveis fósseis; a mineração ilegal e predatória. E que a tomada de consciência gere novas atitudes em vista da Casa Comum.

 

O primeiro passo é VER a realidade. Um segundo passo é ILUMINAR esta mesma realidade com a luz da Palavra de Deus. As narrativas da criação (Gn 1-2) ensinam que, pela Palavra, Deus cria e faz aparecer a vida, imersa na bondade e na beleza da criação. Pelo pecado, as ações humanas ameaçam e destroem a vida. Quando Deus permite ao ser humano submeter e dominar a terra, Ele o faz no sentido de cuidado, cultivo, pastoreio e guarda, para que a terra continue a ser um jardim e um paraíso. Reler a Sagrada Escritura em perspectiva ecológica permite ao ser humano sempre redescobrir o desígnio original do criador.

 

Diante do pecado, Deus sempre propõe uma ALIANÇA (Gn 9, 12-17). Após o dilúvio apareceu arco-íris e a voz de Deus: “Este é o sinal da aliança que estabeleço entre mim e vós e todo ser vivo que está convosco”! (Gn 9,12b). O arco-íris que aparece nas nuvens é um sinal de paz e representa um laço entre céu e terra, isto é, a aliança de Deus selada com os seres humanos e com todos os demais seres vivos.

 

Na Nova Aliança, selada pelo sangue de Cristo, destaca-se a ligação entre ecologia integral e Eucaristia. O corpo de Cristo é o pão, fruto da terra e do trabalho humano que transforma a mesma terra. “A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e envolve toda a criação. O mundo, saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração. Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações com o meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira” (Laudato Si, n. 236).

 

VER (1º passo), ILUMINAR (2º passo) e AGIR (3º passo). Agir segundo o que Deus ordena: “O Senhor Deus tomou o ser humano e o colocou no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15). Sim, “cultivar e guardar a criação!”, agindo em favor da vida, segundo a sabedoria de Deus que, na criação, proveu o ser humano de tudo o que é necessário para a vida e a felicidade, mas, colocando limites: podeis comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás ... (Gn 2,16.17). Sem limites o ser humano se perde, destruindo a natureza e destruindo a si próprio. Respeitando os limites, há o suficiente para o sustento de todos e a criação é preservada. É preciso inteligência, sabedoria e espiritualidade ecológica, como afirma o Papa Francisco.

 

É tempo de esperança, fortalecido pelo Jubileu do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que conclama a sermos peregrinos de esperança, anunciando que a “esperança não decepciona” (Rm 5,5).

 

Com seu cântico – Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas ... – São Francisco de Assis, amigo de Deus, dos pobres e da natureza, continue suscitando, nos cristãos e na humanidade, “um renovado encantamento pelo mundo e inspirando o mesmo fascínio pela sinfonia do universo” (cf. Leonardo Boff).

 

Com solicitude pastoral, desejo às irmãs e aos irmãos da diocese de Mogi das Cruzes abençoada Quaresma e frutuosa Campanha da Fraternidade!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano

Mogi das Cruzes, 05 de março de 2025

Jubileu da Esperança