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Palavra do Bispo | Homilia - 22/03/2025

Homilia - 22/03/2025

Homilia para a Romaria do Divino – Diocese de Mogi das Cruzes

22 de março de 2022

Mq  7,14-15.18-20; Sl 102(103); Lc 15,1-3.11-32.

 

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor!” (Sl 102/103,1)

 

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser seu santo nome!” (Sl 102/103,1). Assim proclamamos no salmo responsorial (Sl 102/103). O salmista convida a louvar e bendizer ao Senhor, pelas graças que Deus derrama sobre nós, seus filhos e filhas, através do seu Espírito, que renova a face da terra.

 

Bendizemos ao Senhor por mais este dia e, sobretudo, por estarmos aqui reunidos, em torno do altar da Eucaristia, na casa da Mãe Aparecida, neste esplendoroso santuário que, com tanto amor, mais uma vez, nos acolhe, em especial, a romaria anual da Festa do Divino Espírito Santo da Diocese de Mogi das Cruzes. Aqui viemos implorar a intercessão de Nossa Senhora Aparecida e as bênçãos de Deus sobre nossa Festa, nossa Diocese e sobre todo o Povo de Deus.

 

A Igreja católica está celebrando o Jubileu Ordinário do Ano de 2025 do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, instituído pelo Papa Francisco, por cuja saúde estamos rezando. Em profunda comunhão de fé, neste Ano Santo, aqui viemos como Peregrinos de Esperança, para celebrar que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5). De cada coração brota uma prece e de cada olhar voltado para a pequena imagem de Maria reluz um novo brilho de esperança.

 

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor!” (Sl 102/103,1). E, depois deste louvor inicial, o salmo responsorial (Sl 102/103) proclama que “Deus te perdoa toda culpa e cura toda tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão” (Sl 102/103,3). Este salmo é oportuno, na Quaresma que estamos vivendo.

 

Sim, Deus nos cerca de carinho; pois nos envolve com sua infinita bondade, amor e compaixão. Como ouvimos, do Profeta Joel, na quarta-feira de Cinzas, Deus é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor; e se compadece da desgraça. (Joel 2, 13).

 

Na primeira leitura (Mq 7,14-15.18-20), o Profeta Miqueias apresenta o Senhor nosso Deus como Pastor que “apascenta o seu povo com o cajado da autoridade” (v. 14). Ele é o Deus que apaga a iniquidade e esquece o pecado daqueles que são o resto de sua propriedade (v. 18), o Deus que “ama a misericórdia” (v. 18) e o Deus que “voltará a compadecer-se de nós, esquecerá nossas iniquidades e lançará ao fundo do mar os nossos pecados” (v. 19). Assim, contemplamos que Deus nos guia e nos perdoa.

 

O evangelho (Lc 15,1-3.11-32) narra a parábola do Pai misericordioso, conhecida também como a história do filho, que deixa o aconchego da casa do Pai e se torna, no mundo, o filho pródigo em esbanjar. Esta maravilhosa história, Jesus a conta, segundo São Lucas, para dar uma resposta aos fariseus e aos mestres da Lei. Pessoas de coração duro e sem misericórdia, apegados à letra da Lei, eles estavam sempre contestando as atitudes de Jesus: “este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (v. 2). Na parábola, estes fariseus e mestres da Lei são representados pelo filho mais velho, que não é capaz de se alegrar com a volta do irmão.

 

A estória conta que um pai tinha dois filhos. O filho mais novo deixou a casa do pai e esbanjou a parte que lhe competia da herança. Quando “caiu em si” (v. 17) e se arrependeu, partiu de volta ao seu pai (v. 20). Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão (v. 20). Sim, o Pai sentiu compaixão e, por isso, correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos (v. 20). O gesto de amor do pai –grandioso, sincero, comovente e forte – tornou nobre a humilde e envergonhada confissão do filho: Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados” (v. 21).

 

O pai, que já tinha perdoado e se alegrado antes que o filho dissesse alguma coisa, somente desejava, como outrora, vê-lo restabelecido e revestido de dignidade, com a melhor túnica, anel no dedo e sandália aos pés (v. 22). Pensemos na veste da dignidade batismal, no anel da realeza sacerdotal e na sandália da intimidade a proteger os pés no peregrinar da vida, ao encontro com que Deus que acalenta e abraça. Com as palavras de uma antiga oração, clamemos: “Senhor! Sobre a rocha sólida da fé, fortalecei a determinação da minha alma e fortificai-me; porque sois, Senhor, socorro, refúgio e fortaleza” (Livro das Horas do Sinai, século IX, Cânone 2, SC 486).

 

O filho mais velho relutou em se alegrar e participar da festa. Não sabemos se abrandou o coração e entrou, ou não. Mas era preciso festejar e se alegrar (v. 32).

 

Pela intercessão da Virgem Maria, a Mãe Aparecida, o Espírito Santo derrame seus dons sobre nós e sobre a humanidade inteira, sedenta de Paz. Conceda-nos a graça de um profundo encontro com Deus Pai, pródigo em amor, misericórdia e compaixão.

 

Como acolheu Gabriel, o anjo mensageiro da vontade de Deus e da ação do Espírito Santo em sua vida, Maria acolhe hoje, com ternura materna, em sua casa, o Santuário Nacional, romeiros dos mais diversos recantos do Brasil, entre eles os peregrinos da Cidade e da Diocese de Mogi das Cruzes, devotos do Divino Espírito Santo, na preparação da grandiosa e tradicional Festa, lá celebrada há 412 anos.  

 

Nossa Festa do Divino é um modo profundo e comovente de expressar publicamente a fé, a devoção e a religiosidade, enraizadas na alma do nosso povo. A fé transformada em celebração torna colorida a cidade de Mogi das Cruzes, com os símbolos, as bandeiras vermelhas e a imagem do Espírito Santo nelas estampada. É a expressão da mais pura alegria e ação de graças. A oração, os cantos e o grito de “Viva o Divino Espírito Santo” são sons que ressoam e ecoam em todos os rincões, levando pelas ruas da cidade bênção às famílias e a paz social tão almejada.

 

A Festa de 2025 está em sintonia com a Campanha da Fraternidade e seu tema: Fraternidade e ecologia integral: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31). Tema e lema que providencialmente vieram em sintonia com o lema que escolhêramos para a nossa Festa: Divino Espírito Santo e São Francisco nosso irmão! Ensinai-nos contemplar o esplendor da criação!

 

Esta romaria, cada ano, anuncia a novena que antecede o ponto alto, no dia de Pentecostes. Serão nove dias, numa jornada que se inicia às 5 horas da manhã, com o povo na reza da Alvorada, a Missa da Novena à noite, na Catedral, a confraternização na Quermesse beneficente e as rezadeiras com suas preces de um lugar a outro.

 

São tantos os motivos para exclamar: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser seu santo nome!” (Sl 102/103,1). Ao Divino, a adoração; à Virgem Santíssima, o louvor e veneração; aos que nos acolhem no Santuário, gratidão!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano de Mogi das Cruzes

Aparecida, 22 de março de 2022