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Palavra do Bispo | Homilia Missa Crismal - O sacerdócio na Igreja

Homilia Missa Crismal - O sacerdócio na Igreja

Missa do Crismal – Paróquia Santos Apóstolos

02 de abril de 2015

 

O SACERDÓCIO NA IGREJA

 

A Missa do Crisma exalta o sacerdócio de Jesus e a participação do povo cristão ao seu sacerdócio, no Espírito Santo, pela força do batismo. O sacerdócio é o coração do dom da páscoa e da vida nova de todo o povo de Deus. Na missa dos Santos óleos, renova-se a unção sacerdotal nas diferentes dimensões do sacerdócio: o de Cristo, o dos fiéis e o dos ministros sagrados. Os bispos e os sacerdotes, constituídos na última ceia “servos do mistério”, realizam a unidade do seu sacerdócio no único grande Sacerdote Jesus Cristo.

O que no Antigo Testamento se constitui como promessa, revela-se e encontra, no Novo Testamento, o cumprimento e a plenitude. Cristo retira o véu e entra no santuário feito não por mãos humanas (cf. Carta aos Hebreus). Pelo sangue de seu Filho amado, Deus sela a nova aliança com seu povo.

Através do Profeta Isaías (1ª. leitura), o Senhor diz: Farei com eles uma aliança perpétua. Sua descendência será conhecida entre as nações, e seus filhos se fixarão no meio dos povos; quem os vir há de reconhecê-los como descendentes abençoados por Deus (Is 61,8b-9).

No Apocalipse (2ª. leitura) temos que, em Jesus Cristo, constitui-se o povo da nova aliança: por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1,5b-6a). Povo sacerdotal, nação santa! Cumpre-se plenamente a palavra do profeta Isaías: vós sois os sacerdotes do Senhor (Is 61,6a).

 

I.                   O Mistério da Igreja

 

A Igreja de Jesus Cristo realiza e visibiliza o povo de Deus da nova Aliança. Comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, conduzida pelo Espírito Santo, a Igreja congrega aqueles que fazem a experiência de um profundo encontro com o Cristo vivo, percorrem o caminho da conversão e do discipulado e vivem segundo os critérios do Evangelho do Senhor ressuscitado.

Os cristãos participam da consagração de Cristo e de sua tríplice missão: profética, sacerdotal e pastoral. O Concílio Vaticano II, na constituição dogmática Lumem Gentium, confirma a Igreja na sua vocação de ser luz do mundo e sacramento de salvação.

Evangelizar é a missão da Igreja. Tal missão decorre da missão de Cristo: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa-nova aos pobres (Is 61,1; Lc 4,18). Evangelizar os pobres implica, conforme esse texto citado, libertar os cativos e prisioneiros, curar as feridas da alma, dar vista aos cegos, proclamar um tempo novo de graça e salvação. Testemunhando a presença de Deus e de sua salvação em Cristo, torna-se sinal e instrumento do Reino de Deus no mundo.

 

II.                Os presbíteros na Igreja: ‘ministros do nosso Deus’ (Is 61,6)

 

Os sacerdotes são “ministros de Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo”. O prefácio da missa de ordenação – sacerdócio de Cristo e o ministério dos sacerdotes – proclama que “pela unção do Espírito Santo”, o Pai constituiu seu “Filho unigênito Pontífice da nova e eterna aliança”, estabelecendo que “seu único sacerdócio se perpetuasse na Igreja”. Por isso, “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real. E, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.

Pelo Sacramento da Ordem, os sacerdotes são configurados ao Cristo mestre, pastor e sacerdote. Homens escolhidos por Deus, chamados do meio do povo, são ungidos com “o óleo da alegria”, investidos de autoridade e revestidos com os dons do Espírito Santo como “ministros do nosso Deus” (cf. Is 61).

O Decreto Presbyterorum Ordinis, sobre a vida e o ministério dos presbíteros, afirma que “os presbíteros, consagrados por Deus, ... introduzem as pessoas no povo de Deus pelo batismo; pelo sacramento da penitência, reconciliam os pecadores com Deus e com a Igreja; com o óleo dos enfermos, aliviam os doentes; com a celebração da eucaristia, oferecem sacramentalmente o sacrifício de Cristo ... Com efeito, na santíssima eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ... Por isso, a eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização... é o centro da assembléia dos fiéis a que o presbítero preside” (PO 5).

Apóstolos de Cristo, os sacerdotes agem in persona Christi capitis, especialmente na celebração eucarística: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). No sacramento da Reconciliação representam o Cristo como mediadores do perdão de Deus, como “autênticos ministros da misericórdia” para que os fiéis “tenham uma experiência viva do rosto de Cristo bom Pastor”.

Na missa dos Santos Óleos, os presbíteros, diante do bispo e da comunidade reunida, renovam as promessas sacerdotais, feitas no dia da ordenação. Assim, reafirmam e reavivam a unidade da Igreja no vínculo mais profundo de comunhão eclesial. A fraternidade presbiteral e o vínculo sacramental e afetivo com o ministério episcopal, na pessoa do bispo, garantem o sentido mais profundo, ontológico, do sacerdócio e do ministério pastoral dos presbíteros na Igreja. A partir desse vínculo sagrado, encontram os ministros ordenados sua verdadeira alegria e felicidade, no serviço a todo o povo de Deus, especialmente aos pobres.

O mistério do sacerdócio de Cristo é participado pelos ministros constituídos em cada Igreja local. Pela renovação das promessas sacerdotais, os presbíteros agradecem o dom especial de Deus com que foram revestidos na ordenação, pedindo a graça da perseverança no santo serviço. É ocasião propícia em que toda a Igreja particular agradece a Deus a graça sacerdotal na vida de cada presbítero, colocado pelo Cristo bom pastor a serviço das comunidades.

 

III.             Os sacramentos na Igreja: “óleo da alegria em vez de luto”

        

Os sacramentos, na vida da Igreja, são fonte inesgotável da graça de Deus. A unção com óleo é matéria nos sacramentos de iniciação (batismo, crisma), de missão (ordem), de restauração e cura (unção dos enfermos). O óleo dos catecúmenos, no batismo, é fonte inicial da vida nova, purificação da culpa original e inserção na comunidade e na missão da Igreja (discípulos missionários). O Crisma (óleo misturado com perfumes) confere os dons do Espírito Santo no batismo, na crisma, na ordem. O sacramento da Crisma – a unção com o óleo da alegria – é a expressão da nova existência em Cristo. O óleo para os enfermos é sinal da força que liberta do mal, sustenta e fortalece na provação da doença.

 

IV.             Síntese

 

“HOJE se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). O sacerdócio renova, atualiza e torna real a presença de Cristo no “hoje” da humanidade, criando harmonia e reconciliação entre Deus, o ser humano e a criação. É o divino que se humaniza para que no humano desponte o divino. O Reino de Deus se verifica nos sinais de reconciliação, justiça, paz, em todas as dimensões em que a vida desponta.

A unção do Espírito Santo, com o óleo da alegria, gera nova criatura, nova existência em Cristo, nova humanidade. A Eucaristia torna perene, atual e eficaz o sacerdócio ministerial e o real dos cristãos, realizando a unidade e universalidade da Igreja. Em Cristo, tudo se renova e n’Ele está a graça da perseverança.

Como afirmou Bento XVI (5.3.2012), dirigindo-se aos padres, “nesta Santa Missa, o nosso pensamento se volta àquela hora em que o Bispo, através da imposição das mãos e da oração consecratória, nos integrou no sacerdócio de Jesus Cristo, para sermos «consagrados na verdade» (Jo 17, 19), como Jesus pediu ao Pai na sua Oração Sacerdotal. Ele mesmo é a Verdade. Consagrou-nos, isto é, entregou-nos para sempre a Deus, a fim de que, a partir de Deus e em vista d’Ele, pudéssemos servir”.

Cristo, sumo e eterno sacerdote, dê a cada um a graça que necessita para corresponder a tão sublime chamado. Assim seja!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 02.04.15