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Palavra do Bispo | Ecologia humana e ambiental

O cristianismo professa que Deus é o criador do universo e do ser humano. N’Ele se compreende o que existe, por que e para que existe. Desse modo, a defesa e a preservação do meio ambiente não se embasam em critérios meramente técnicos e econômicos, mas em pressupostos decorrentes da ética, estética e espiritualidade.

 

Ética tem a ver com os valores humanos, o reto agir, a justiça social e o direito de cada ser humano, especialmente os pobres. Estética evoca beleza e harmonia, atributos divinos presentes na criação: “e Deus viu que isso era bom!” (Gênesis 1,10.25). Espiritualidade é termo cristão para falar de mística, isto é, do anseio de todo ser humano ao almejar o transcendente e absoluto. 

 

A teologia é o fundamento racional da espiritualidade cristã e da mística. Da contemplação do amor de Deus, revelado na dignidade do ser humano e na beleza da criação, decorre uma visão ecológica da espiritualidade, que se desdobra na defesa do meio ambiente. O universo, em sua grandeza, harmonia e beleza, reflete o amor de Deus aos seres humanos, criados a sua imagem e semelhança. Amar, cuidar, admirar e contemplar a natureza é reconhecer a presença de Deus e defender a vida, no contexto de uma estética ampla e holística, da ética do cuidado, da responsabilidade social e da sustentabilidade do Planeta Terra.

 

A evangélica opção preferencial pelos pobres e a luta pela justiça passam, atualmente, pela preservação ambiental. Requer-se um olhar atento e sensível para o que está ao redor, distinguindo o que é relativo do que é essencial. Os bens materiais e o ato de consumir são relativos; as relações humanas, o bem comum, a felicidade, são essenciais. Ser vale mais que ter. A flor encontra o sentido de sua existência ao oferecer gratuitamente seu perfume, sua cor e sua frágil beleza; ela não se diminui por ser efêmera; ao murchar e fenecer faz outra desabrochar, numa dança contínua de variedade e encanto.

 

O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, recorda que Deus, criando o mundo, preparou um jardim para o ser humano, homem e mulher, conferindo-lhe a missão de cultivar e cuidar. Para isso “requer captar o ritmo e a lógica da criação”, captar “o ritmo da história de amor de Deus com o ser humano”, como recordou Bento XVI. Por isso, a Igreja fala da ecologia humana ligada à ecologia ambiental.

 

Francisco de Assis, no longínquo início do século XIII, já ensinava a não separar o amor a Deus, aos pobres e à criação. No seu cântico de louvor, proclama irmão e irmã todas as criaturas – o sol, a lua, as estrelas, o vento, as nuvens, a água, o fogo (belo, alegre, vigoroso e forte), a terra: “louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, produz frutos diversos, flores e ervas”.

 

Mogi das Cruzes, 02 de julho de 2013

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano