Home

Palavra do Bispo | Homilia - Evangelizai 2015

Homilia - Evangelizai 2015

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

 

A Diocese de Mogi das Cruzes se une num só sentimento e numa só oração a partir de três grandes motivações: a solenidade de Cristo Rei, o ano da misericórdia, a festa diocesana da unidade. Três mensagens se unem e inspiram os fiéis de nossa Igreja: Cristo é nosso Rei; Cristo é o Rosto da Misericórdia do Pai; Cristo ordena a nós hoje: Ide e Evangelizai!

 

 

I. CRISTO REI

 

A solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual a Igreja encerra o ano litúrgico, proclama que somos a Igreja de Jesus Cristo, Igreja santa, povo de Deus, povo sacerdotal. Cristo é nosso Rei. É o soberano dos reis da terra (Ap 1,5).

 

Cristo é Rei, porque Deus é Rei e se vestiu de majestade, revestiu-se de poder e esplendor (Sl 92/93,1). A criação inteira proclame e todo ser humano reconheça, no louvor e ação de graças, a grandeza de Deus. Vós firmastes o universo inabalável, vós firmastes vosso trono desde a origem (Sl 92/93,1.2).

 

Deus é rei. Ele reina, governa e rege o mundo. N’Ele e em seu infinito amor, tudo o que existe encontra sentido, fundamento, harmonia e beleza. Em todas as criaturas, em todo ser que vive e respira, resplandecem o Ser e a presença de Deus criador. D’Ele provém toda autoridade e todo poder. A Ele todo louvor e toda glória.

 

O Pai envia seu Filho Jesus Cristo para restabelecer, restaurar e reconciliar o mundo. Imagem visível do Deus invisível, Verbo encarnado, Jesus anuncia, em sua pessoa e por suas obras, a realeza do Pai: o Reino de Deus está no meio de vós (Lc 17,21).

 

Perguntado por Pilatos: Tu és o Rei dos Judeus?, Jesus responde afirmativamente: Tu o dizes, eu sou rei (Lc 18,37). Antes, contudo, explica: O meu reino não é deste mundo ... o meu reino não é daqui (Lc 18,36). Seu trono é a cruz, sua coroa é de espinhos. Desprezado, o rei se faz solidário com os humilhados do mundo.

 

No reino de Deus e de Cristo, vigora a lei do Amor e da Verdade: vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta minha voz (Jo 18,37). É o Rei-Pastor; Ele conhece as ovelhas e estas reconhecem sua voz (Jo 10). Maior é o que serve, ensinou Jesus; os últimos serão os primeiros, os humilhados serão exaltados, os que têm fome e sede de justiça serão saciados (cf. Mt 5,6). Veio para servir e não ser servido.

 

Cristo Rei é o Filho do Homem do livro de Daniel (Dn 7,13-14), aquele que está diante do trono de Deus, de quem recebe poder, glória e realeza; um poder eterno; um reino que não se dissolverá (Dn 7,14). É o Servo Sofredor anunciado por Isaías, humilhado e desprezado, vítima imolada que carrega sobre seus ombros o peso do pecado do mundo. Ao anunciar o desfecho de sua missão, instruiu os discípulos de que era necessário que o Filho do Homem sofresse muito e fosse rejeitado e morto; e, depois de três dias, ressuscitasse (Mc 8,31).

 

A soberania de Jesus coincide com o seu amor até o sacrifício supremo da entrega da própria vida, de modo que, na cruz, se cumpre o que antes anunciara: no mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo! (Jo 16,33). Condenado e morto, a vitória é de Deus e não do mal que condenou seu Filho à morte.  

 

Ressuscitado, Cristo Rei fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1,5), um reino sacerdotal. A caridade evoca a realeza dos membros da Igreja, à luz do Cristo bom pastor; a liturgia celebra o caráter sacerdotal e escatológico do povo de Deus, que proclama: Vem Senhor Jesus! (Ap 22,20). O tempo presente aponta para a eternidade. Seu reino não terá fim (profissão de fé), pois se trata de um reino eterno e universal; reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça e da paz (prefácio da solenidade de Cristo Rei).

 

Verdade e amor se encontrarão; justiça e paz se abraçarão (Sl 84/85). Este salmo contém a profecia do “primado de Cristo sobre os reinos da terra” e da “vitória de Cristo sobre o mundo” (Cantalamessa). Cristo vive, Cristo reina, Cristo vence! Vive em sua Igreja; reina nos corações de todas as pessoas de boa vontade; vence em cada gesto de amor que afugenta as trevas da morte e faz resplandecer a luz da vida.

 

 

II. ROSTO DE MISERICÓRDIA

 

Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia de Deus Pai, afirma o Papa Francisco na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (Misericordiae Vultus), isto é, o Ano Jubilar, com início no dia 8 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, e término em 20 de novembro de 2016, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

 

Nesse tempo, a Igreja é chamada a aprofundar e vivenciar o tema da misericórdia de Deus. Expressão máxima da caridade, a misericórdia é a compaixão que o coração experimenta frente à miséria e à necessidade do próximo. Compaixão é a tradução do hebraico rahamim (entranhas), para falar do amor de Deus como aquele que vem do mais profundo do ser materno. Deus é Amor (1Jo 4,16) e a misericórdia é seu maior atributo.

 

O amor e a misericórdia trouxeram à existência o mundo e, de um modo especial, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). Depois do pecado, sua misericórdia, que é eterna (Sl 117,1) e que se renova a cada manhã (Lm 3,23), levou-o a enviar seu Filho único ao mundo, não para condenar, mas para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3,16).

 

Jesus, no sermão da montanha, proclama bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7). E ensina seus discípulos a serem misericordiosos como o Pai do céu, que faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos (Mt 5,45). Em sua misericórdia insondável, Jesus se oferece no altar da cruz como vítima pura e perfeita em expiação pelos pecados da humanidade.

 

A misericórdia do Altíssimo é derramada qual bálsamo salutar e perfumado sobre as feridas causadas pelo pecado, indo além de todo merecimento e compreensão humana. Contudo, a misericórdia não é contrária à justiça de Deus (Bula, n. 21), mas faz parte da mesma realidade do seu amor: felizes os que têm fome e sede de justiça! (Mt 5,6).

 

Nesse ano jubilar, os filhos da Igreja são convidados a buscarem assíduos o sacramento da reconciliação e a conversão pessoal. E praticarem de maneira efetiva as obras da misericórdia: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos (e refugiados), dar assistência aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos.

 

Em tempos de violência exacerbada, terrorismo, guerras, é propícia a existência de uma grande corrente planetária de solidariedade, tolerância, perdão, espiritualidade. O Papa Francisco, com inspiração e sensibilidade, vem liderando essa corrente, com a força do amor, da humildade e da oração, propondo gestos concretos que desarmem os corações e aproximem até os inimigos. Assim, fica possível acreditar que a esperança não decepciona (Rm 5,5).

 

 

III. EVANGELIZAI!

 

A missão da Igreja é evangelizar; é ser no mundo sinal do Reino. Sinal visível e sacramental, reflexo da realeza de Cristo, na vivência da caridade, na profecia transformadora, na Eucaristia celebrada e testemunhada.

 

Aos discípulos, Jesus ordenou que fossem sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13.14). Na ascensão, os enviou: Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). Fazei que todas as nações se tornem discípulos ... Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28,20). 

 

Nas realidades cotidianas e imanentes, o testemunho de esperança dos cristãos aponta para realidades transcendentes e definitivas. Aos apóstolos, o Ressuscitado recorda: Vós sois testemunhas de tudo isso (cf. Lc 24,48). Hoje, a evangelização se faz pelo testemunho dos fiéis leigos e leigas, das consagradas e consagrados e dos ministros ordenados.

 

Em cada cristão ressoa a voz do Cristo ressuscitado. Ele chama e convida: Ide, evangelizai!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 22 de novembro de 2015.