A Doutrina Social da Igreja é uma antologia que apresenta o pensamento dos papas e a palavra do magistério da Igreja acerca da realidade social, política e econômica das nações. Tais documentos impulsionam a Igreja a dar sua contribuição na implantação da justiça e da paz no mundo, inspirando e legitimando a ação solidária dos cristãos em favor dos pobres, trabalhadores, refugiados; das vítimas da fome, das guerras, das catástrofes, do tráfico de seres humanos e de todo tipo de violência.
Tal doutrina evidencia a responsabilidade política de cada cidadão e das instituições no que concerne à organização e funcionamento da sociedade. Orienta católicos e pessoas de boa vontade a empreenderem ações eficazes na implantação do que Paulo VI chamou de ‘civilização do amor’ e João Paulo II denominou ‘globalização da solidariedade’.
O fundamento da doutrina social, antes de tudo, vem da bíblia, isto é, da tradição judaico-cristã. Os profetas do Antigo Testamento ensinam que Deus ama a justiça e o direito e que a verdadeira religião consiste não em ritos vazios, mas na defesa dos pobres, órfãos, viúvas. Denunciam com veemência a violência praticada contra os pequenos, indefesos, camponeses. Os evangelhos narram Jesus curando os doentes e socorrendo os pobres, libertando-os dos sofrimentos e humilhações, perturbações mentais e exclusão social. Nos primeiros séculos do cristianismo, tal ensinamento é propagado por teólogos como Basílio e Crisóstomo, no oriente; Ambrósio e Agostinho, no ocidente.
Contudo, foi no final do século XIX, com a publicação da encíclica Rerum Novarum (“das novas realidades”), pelo Papa Leão XIII, em 1891, que a doutrina social da Igreja começou a ser sistematizada. Nesse tempo, já se podia contar com a reflexão teórica do iluminismo e a contribuição das ciências humanas. No contexto da revolução industrial e do impacto da teoria marxista, a Igreja, tida como distante, alheia e alienada à classe trabalhadora, expressa a preocupação com a realidade social, principalmente com o mundo do trabalho e as precárias condições de vida dos operários.
A palavra de Leão XIII repercutiu na Igreja e no mundo, tornando-se ponto de partida e referência para os papas Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II, no século vinte; e para Bento XVI, no século vinte e um. Oportunamente, virá o pronunciamento social do Papa Francisco, sobre ecologia.
O documento Gaudium et Spes (1965), constituição dogmática do Concílio Vaticano II, inicia-se com a conhecida afirmação: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (n. 1), isto é, no coração da Igreja.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 15 de fevereiro de 2014