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Palavra do Bispo | Homilia - Missa do Crisma

Homilia - Missa do Crisma

Missa do Crisma – Santos Óleos

24 de março de 2016

 

O SACERDÓCIO NA IGREJA

 

 

A missa do Crisma é marcada por dois ritos de fundamental importância, significado e beleza: a bênção dos Santos Óleos e a renovação das promessas sacerdotais. A bênção dos óleos do batismo, crisma e unção dos enfermos exprimem o caráter sacramental da Igreja. A renovação dos compromissos por parte dos ministros ordenados na ordem do presbiterado ressalta o caráter sacerdotal da Igreja.

 

A celebração dos sacramentos representa o ápice da vida litúrgica da Igreja. No sacerdócio ministerial dos presbíteros, torna-se presente a sublime realidade da vida nova em Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote da nova aliança. Cristo sacerdote é também fundamento do sacerdócio real do povo de Deus. De fato, em Jesus Cristo, constitui-se o povo da nova aliança: por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1,5b-6a). O infinito amor do Pai faz da Igreja o Povo de Deus, sacerdócio régio e nação santa: vós sois os sacerdotes do Senhor (Is 61,6a).

 

Contudo, a missão pastoral dos presbíteros, configurados ao Cristo cabeça e pastor da Igreja, decorre de sua intrínseca identidade e do sentido mais profundo, ontológico, existencial e espiritual dos ministros ordenados. É a força essencial do que representa ser outro Cristo e agir na pessoa de Cristo.

 

O Prefácio da Missa do Crisma proclama que tudo isso se realiza “pela unção do Espírito Santo”, pela qual o Pai constituiu seu “Filho Unigênito como Pontífice da nova e eterna aliança” e estabeleceu “que seu único sacerdócio permanecesse na Igreja”. E o Filho, Jesus Cristo, pela unção do mesmo Espírito Santo, “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real. E, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.

 

A Missa do Crisma exalta o sacerdócio de Jesus Cristo e a participação do povo cristão em seu sacerdócio, no Espírito Santo, pela força e graça do batismo. O sacerdócio é o coração do dom da páscoa e da vida nova de todo o povo de Deus. Na missa dos Santos óleos, renova-se a unção sacerdotal nas suas diferentes esferas: o sacerdócio de Cristo, o dos fiéis e o dos ministros sagrados. Os bispos e os sacerdotes, constituídos na última ceia “servos do mistério”, realizam a unidade do seu sacerdócio da pessoa de Cristo sacerdote.

 

Assim, a Missa do Crisma é celebrada como Eucaristia da Unidade da Igreja diocesana, em que a presença completa do presbitério diocesano e a renovação das promessas sacerdotais conferem a esse momento de oração uma força, significado e beleza especiais. É em cada Igreja particular que os ministros constituídos participam do mistério do sacerdócio de Cristo.

 

Ao renovar as promessas proferidas no dia da ordenação, os presbíteros, reunidos em torno ao bispo, agradecem o dom especial de Deus com que foram revestidos na ordenação, pedindo a graça da perseverança no santo serviço. E, com eles, toda a Igreja particular rende profunda e sincera ação de graças pela vida e ministério dos presbíteros, designados pelo Cristo bom pastor ao serviço do povo e seus anseios e aspirações mais profundos. O povo sabe como é bom rezar pelo seu padre, pelo padre de sua paróquia, pelos padres enfermos, idosos, os falecidos.

 

A oração fervorosa da assembleia fortalece entre os presbíteros o vínculo sagrado e profundo de unidade e comunhão eclesial. Torna mais vigorosa a vivência da fraternidade presbiteral, pois no presbitério encontram alento, alegria e perseverança. Evangelizar é a missão da Igreja, decorrente da missão de Cristo: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa-nova aos pobres (Is 61,1; Lc 4,18), isto é, libertar os cativos e prisioneiros, curar as feridas da alma, dar vista aos cegos, proclamar um tempo novo de graça e salvação.

 

Comunhão, missão, espiritualidade, fraternidade presbiteral são realidades que se abraçam no sacramento da Eucaristia. Ao celebrá-la, “os presbíteros, consagrados por Deus, oferecem sacramentalmente o sacrifício de Cristo. Com efeito, na santíssima eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ... Por isso, a eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização; é o centro da assembléia dos fiéis a que o presbítero preside” (cf. Presbyterorum Ordinis 5).

 

É o ano da misericórdia! Misericórdia e compaixão, atributos do coração de Deus, são também marcas dos ministros ordenados. Ungidos pelo Espírito Santo, eles são ministros do perdão e da reconciliação dos pecadores com Deus e com a Igreja. No sacramento da confissão, os sacerdotes representam o Cristo como mediadores do perdão de Deus, como “autênticos ministros da misericórdia” para que os fiéis “tenham uma experiência viva do rosto de Cristo bom Pastor”.

 

Papa Francisco disse que os sacerdotes “serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus ... Serão sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia ... sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, ‘sumo sacerdote misericordioso e fiel’ (Hb 2,17)” (Misericordiae Vultus, 18). 

 

Possa toda essa assembléia – fiéis leigos e leigas, ministros ordenados, consagradas e consagrados – sair fortalecida dessa celebração, que aponta para o dom do tríduo pascal e para a vitória da ressurreição.

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 24 de março de 2016