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Palavra do Bispo | Homilia - Peregrinação Aparecida

Homilia - Peregrinação Aparecida

Peregrinação da Diocese de Mogi das Cruzes ao Santuário de Aparecida

13º TC – Ano C – 26.06.2016

 

Seguir a Cristo servindo aos irmãos

 

A peregrinação da diocese de Mogi das Cruzes e dos que de tantos outros lugares se reuniram em oração no santuário da Mãe Aparecida acontece no contexto do jubileu extraordinário da misericórdia. O Papa Francisco afirma que “a peregrinação é um sinal peculiar do Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano um peregrino que percorre uma estrada até a meta almejada ... A própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão” ...

Cristo, nos dias de seu ministério terrestre, esteve continuamente a caminho, anunciando o Reino de Deus. A Igreja é o povo de Deus a caminho, seguindo os passos de Cristo, pastor e guia do seu povo pelos caminhos da vida, rumo ao reino definitivo. Caminhamos na estrada de Jesus! Ele está no meio de nós.

E “que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor” (Sl 121/122, 1), pois “vale mais um só dia nos átrios da casa de meu Deus que milhares fora deles” (cf. Sl 83/84, 11). “Como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo! Anunciar pela manhã vossa bondade ... pois me alegrastes, ó Senhor, com vossos feitos” (Sl 91/92, 2.5).

 

1.     Felicidade em Deus – Liberdade em Cristo

Deus é a fonte da felicidade e Cristo projeta para o ser humano o horizonte da liberdade. O caminho de graça e de salvação proposto ao cristão é um caminho de liberdade. O salmo responsorial (Sl 15) recorda que só em Deus se encontra refúgio e segurança, por isso proclamamos: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado” (Sl 15,11).

A busca da felicidade em Deus é a meta do caminho a ser percorrido pelo ser humano durante toda a sua existência. Um caminho que conduz à verdadeira liberdade, como afirma o apóstolo Paulo: “é para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1) e ainda: “chamados para a liberdade” (v. 13), que tem seu fundamento na caridade, pois amar o próximo é o único mandamento (cf. v. 14).

 

2.     Seguir a Cristo: vocação do cristão

O caminho a percorrer é a resposta à vocação. Ao chamado de Deus “Vem e Segue-me”, se espera uma resposta generosa. Eliseu deixou as juntas de boi para seguir o profeta Elias; os primeiros apóstolos (Simão e André, Tiago e João) deixaram as redes e o barco, a profissão e a família. E seguiram Jesus.

Jesus, no cumprimento de sua missão, ao caminhar para o desfecho, segundo o Evangelho proclamado (Lc 9,51-62), “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém ... e puseram-se a caminho” (vv. 51-52). A palavra “Caminho” é preciosa para os cristãos. Jesus traçou um caminho de vida em nossa história e chamou a Si próprio de “caminho” – “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida” (Jo 14, 6). E “caminho” foi, também, a primeira denominação da Igreja, como lemos nos Atos dos Apóstolos (At 9, 2).

Os discípulos o seguem, mesmo sem entender tudo. Não é fácil entender, não é fácil seguir. Àquele que se propõe segui-lo, Jesus adverte: “o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9,58). A outros dois, Jesus convida – Segue-me – mas eles dão desculpas: um precisa enterrar o pai, outro quer se despedir dos familiares. Ao que Jesus logo responde: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).

Ao bom jovem que cumpria os mandamentos e buscava ser perfeito Jesus pede radicalidade: “vende o que tens, dá aos pobres, depois vem e segue-me” (Mt 19,21). E a pessoa não teve coragem, pois não é fácil ser desapegado; tem que assumir a cruz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Além do mais, partindo de critérios humanos, a tendência é buscar recompensa, conforme a afirmação de Pedro: “Deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos receber?” (Mt 19,27). O cêntuplo e mais a eternidade ...

 

3.     A serviço do Reino de Deus

A verdadeira vocação do cristão é seguir a Cristo servindo aos irmãos! Os discípulos de Jesus estão a serviço do Reino de Deus. Seguir e servir! Já no AT se lê que Eliseu “levantou-se, seguiu Elias e pôs-se a serviço” (1Rs 19,21).

Jesus ordena: “deixa que os mortos enterrem seus mortos, mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. Ele mesmo é a referência, o exemplo: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27) e também: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).

A vocação fundamental – amar e servir – é comum a todos ..., um modo de conceber a própria existência ... “o apelo que Deus fez chegar a nós em Cristo Jesus” e “através da voz de nossa consciência” (Cantalamessa). É preciso viver a vocação “em obediência, em prontidão, em vigilância, mas também em “liberdade verdadeira que é fruto do Espírito e que torna capazes de amar os outros e se alegrar” (Cantalamessa).

 

4.     Uma Igreja a serviço

O cristão realiza seu serviço – o primeiro deles é anunciar o evangelho – como membro da Igreja, portanto, membro do povo de Deus. “Nosso chamado essencial é para o ‘seguimento de Cristo’; somos chamados para ficar com ele, partilhar tudo com ele ... Esse chamado a seguir Jesus, se especifica como chamado a entrar na Igreja, que é seu corpo, o lugar da convocação ... Somos chamados para realizar, na Igreja, a nossa vocação pessoal e comunitária” (Cantalamessa).

Na Igreja e com a Igreja, o cristão tem força para prosseguir, ainda que tenha que encontrar a indiferença ou a rejeição, como foi o caso de Jesus entre os samaritanos (Lc 9, 51ss). O objetivo do discípulo não é ser aplaudido; é amar e se doar livremente e com alegria.

 

Conclusão: Às inúmeras vezes que, na Sagrada Escritura, o chamado de Deus se faz ouvir com o apelo “Segue-me”, a resposta positiva é sempre: “Eis-me aqui”. Cada um de nós também repete nesse momento: “Eis-me aqui”. Eis-nos aqui, Senhor! Queremos vos agradecer, bendizer e louvar nesta manhã (cada dia). Queremos também, inspirados pela Mãe Aparecida, padroeira do Brasil, há trezentos anos congregando, nesta cidade, vossos filhos em torno ao altar do Vosso Filho, levar vosso nome, anunciar vosso amor e testemunhar vossa presença. Acolhemos vossa palavra que exortou: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). E que disse também: “Procedei segundo o Espírito” (Gl 5,16). Sim, é pelo dom do vosso Espírito, o Espírito do vosso Filho Jesus Cristo, que permaneceremos firmes e viveremos conforme a lei perfeita da caridade. Eis-me aqui! Amém!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano de Mogi das Cruzes

Santuário de Aparecida, 26 de junho de 2016