O SACERDÓCIO NA IGREJA
Na missa do Crisma, o presbitério comemora o nascimento do sacerdócio, que é a participação na consagração do Messias. Celebrada cada ano na quinta-feira santa de manhã, na catedral, a missa dos santos óleos é marcada por dois ritos de fundamental importância, significado e beleza. O primeiro, a renovação das promessas sacerdotais dos ministros ordenados no grau do presbiterado, ressalta o caráter sacerdotal da Igreja e o segundo, a bênção dos santos óleos do batismo, crisma e dos enfermos, exprime o caráter sacramental da Igreja.
Nesse ato litúrgico, em que se renova a unção sacerdotal dos presbíteros, resplandecem as dimensões do sacerdócio: o de Cristo, o do povo santo de Deus e o dos ministros sagrados. Exalta também os efeitos do sacerdócio, com destaque à santidade de vida, capaz de transformar a pessoa, a igreja e o mundo.
O infinito amor do Pai faz da Igreja o Povo de Deus, sacerdócio régio e nação santa, conforme profetizou Isaías: vós sois os sacerdotes do Senhor (Is 61,6a). Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote da nova aliança, constituiu o povo da nova aliança, visto que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1,5b-6a).
O povo cristão participa do sacerdócio de Jesus Cristo, no Espírito Santo, pela força e graça do batismo. No sacerdócio dos fiéis batizados e dos presbíteros se encontra o coração do dom da páscoa e da vida nova de todo o povo de Deus.
O Prefácio da Missa do Crisma proclama que, “pela unção do Espírito Santo”, Deus Pai “constituiu seu Filho Unigênito como Pontífice da nova e eterna aliança e estabeleceu que seu único sacerdócio permanecesse na Igreja”. E o Filho, Jesus Cristo, pela unção do mesmo Espírito Santo, “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real. E, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.
Os bispos e os sacerdotes, constituídos na última ceia “servos do mistério”, realizam a unidade do seu sacerdócio da pessoa de Cristo sacerdote. Ao renovar as promessas proferidas no dia da ordenação, os presbíteros, reunidos em torno ao bispo, agradecem o dom especial de Deus com que foram revestidos, pedindo a graça da perseverança no santo serviço.
Assim, a Missa do Crisma é celebrada como Eucaristia da unidade da Igreja diocesana. A presença do presbitério diocesano e a renovação das promessas sacerdotais conferem a esse momento de oração uma força, significado e grandeza especiais, pois é na Igreja particular que os ministros constituídos participam do mistério do sacerdócio de Cristo.
Com o presbitério – bispos, padres e diáconos –, toda a Igreja particular rende profunda e sincera ação de graças pela vida e ministério dos presbíteros, designados pelo Cristo bom pastor para o serviço do povo e de seus anseios e aspirações mais profundos. A oração do povo conforta o coração dos padres, especialmente os enfermos e idosos; oração esta que sobe aos céus também em sufrágio da alma dos padres falecidos.
A oração fervorosa da assembleia fortalece, entre os presbíteros, o vínculo sagrado e profundo de unidade e comunhão eclesial. Torna mais vigorosa a vivência da fraternidade presbiteral. No presbitério, os sacerdotes encontram alento, consolo, e alegria a fim de poderem perseverar na missão de evangelizar, realizando, em cada um deles, as palavras proféticas que Jesus Cristo se atribuiu a si e à sua missão: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor (Lc 4,18-19, cf. Is 61,1).
No sacerdócio ministerial, os presbíteros tornam presente a sublime realidade da vida nova em Cristo, sobretudo ao presidirem os sacramentos, que representam o ápice da liturgia da Igreja. Realidades sublimes da vida da Igreja – unidade, comunhão, espiritualidade, missão, acolhida, misericórdia, vida fraterna –se abraçam e se entrelaçam no sacramento da Eucaristia.
Nela “está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ... Por isso, a eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização; é o centro da assembléia dos fiéis a que o presbítero preside” (cf. Presbyterorum Ordinis 5).
“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). No “hoje” da humanidade, qual verdadeiro kairós – tempo de Deus – o sacerdócio renova, atualiza e torna real a presença de Cristo, em quem o divino se humaniza para que no humano desponte o divino. É o Reino de Deus presente nos sinais de reconciliação, justiça, fraternidade e paz. A Eucaristia é a grande expressão da harmonia entre Deus, o ser humano e a criação. Daí que, da Eucaristia decorre o compromisso de “cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15).
A gravidade do momento atual do Brasil e do mundo conclama a Igreja à oração, à santidade de vida e ao testemunho. A Igreja, à luz do Cristo bom pastor, está atenta aos sofrimentos pelos quais passa a humanidade, especialmente os pobres, os refugiados, as vítimas das guerras, injustiças, preconceitos e perseguição religiosa.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil manifestou sua preocupação em relação à reforma da Previdência que está em curso no País e que tende a retirar direitos básicos dos trabalhadores/as, conquistados com persistentes e históricas lutas. Também não é possível calar diante do grande atentado à vida humana de inocentes e indefesos que é o aborto; por isso mais uma vez os bispos se posicionam contra tal possível aprovação. É momento de rezar com Papa Francisco pela paz no mundo, diante do que vem acontecendo na Síria e no atentado que ceifou a vida de cristãos no Egito.
Diante de tantos desafios, vem em socorro a maternal presença de Maria, ainda mais forte neste ano santo mariano da celebração dos trezentos anos do encontro da imagem milagrosa de Aparecida e no centenário da aparição da Virgem em Fátima. A Maria, modelo de santidade e serviço, mãe do salvador e mãe das vocações, imploramos a intercessão em favor da juventude e todos os vocacionados ao sacerdócio e à vida consagrada, pois a vocação é o grande dom do amor de Deus e expressão do amor maior de Cristo à humanidade: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13).
Que a Igreja persevere em sua missão profética de levar ao mundo a palavra da Verdade, sem a qual não pode haver para a humanidade nem alegria nem esperança. Que o Bom Pastor envie operários para a messe, pois onde há sacerdotes há eucaristia, onde a eucaristia é celebrada está presente a Igreja. E, pela presença da Igreja, resplandeça no mundo a face gloriosa do Cristo ressuscitado. Amém.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 13 de abril de 2017
Missa do Crisma – Santos Óleos