Home

Palavra do Bispo | Homilia - Corpus Christi

Homilia - Corpus Christi

DEUS ALIMENTA SEU POVO!

 

Contexto histórico. A Festa de Corpus Christi remonta ao século XIII, instituída pelo Papa Urbano IV, a 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que segue o domingo depois de Pentecostes. E antecede a comemoração do Sagrado Coração de Jesus. Corpus Christi tornou-se uma festa pública em que, por meio da celebração da Eucaristia e da Procissão do Santíssimo, os cristãos católicos adoram a presença de Cristo Eucarístico, que percorre as ruas e praças, abençoando o povo. 

 

Esse contexto litúrgico é marcado por momentos fortes que se interligam. Pentecostes marca o nascimento da Igreja sob a ação do Espírito Santo. A Santíssima Trindade é a revelação do Deus Uno e Trino, em nome de cujas Pessoas divinas, somos batizados e passamos a pertencer à Igreja de Jesus Cristo. A festa de Corpus Christi celebra com devoção o mistério da Eucaristia, o admirável sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, memorial da sua Paixão e Morte na Cruz e de sua gloriosa Ressurreição. A solenidade do Sagrado Coração é a exaltação do amor terno e compassivo do Cristo, manso e humilde de coração, que diz: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20).

 

A liturgia da Palavra ressalta, na 1ª. leitura, do Livro do Deuteronômio (Dt 8,2-3.14-16), que Deus alimenta o seu povo e o liberta da escravidão do Egito, conduzindo-o através do deserto e alimentando-o com o Maná vindo do céu, rumo à terra prometida. O Senhor instrui seu povo com a sabedoria de sua Palavra: “nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.

 

No Novo Testamento, tal revelação se realiza plenamente em Jesus Cristo, que anuncia o evangelho do Reino de Deus, cura os doentes e, no milagre da multiplicação dos pães, alimenta o povo faminto. Sua Palavra é alimento; é a Palavra da Verdade para a vida do mundo. Ele veio para salvar o ser humano em sua totalidade: corpo, alma e espírito.

 

Antes, o maná do deserto, pão que perece; hoje, o pão que perdura, “o pão da vida” (Jo 6,34.48). O sexto capítulo do Evangelho de João apresenta o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida: “eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51). Vida em abundância no tempo presente e a plenitude de vida na eternidade: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne e verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,55.56).

 

Celebrada diariamente no mundo inteiro, e especialmente no domingo, Dia do Senhor, a Eucaristia é exaltada, no entanto, em duas ocasiões especiais do ano litúrgico da Igreja: na quinta-feira santa, em que se celebra o fato histórico da sua instituição, por Jesus, na última ceia, e na festa de Corpus Christi, com característica de devoção popular, tornando visível e pública a centralidade de Jesus Cristo na vida do cristão.

 

Desde o início, na Igreja primitiva, os cristãos vivem e testemunham a presença do Senhor Jesus em suas vidas e na vida de cada comunidade. Celebram o memorial da redenção, cumprindo o mandato do Senhor “fazei isto em memória de mim”. A Eucaristia, dessa forma, se torna ‘o sacramento’ por excelência, o ponto alto da vida dos cristãos, a expressão maior da vida da Igreja, ponto de partida e de chegada, força que transforma, cria unidade e antecipa o banquete celeste. Uma realidade humana e espiritual, misteriosa e real, eclesial e escatológica torna-se presente no sacramento da Eucaristia, até que Ele venha.

 

Deus alimenta seu povo, cuja fome é o anseio de buscar o próprio Deus, sua presença e sua verdade, geradoras de vida e felicidade. Saciada essa fome, a humanidade entenderá que Deus, o Pai Nosso, nos dá o pão nosso de cada dia. E o dá a todos, indistintamente. Ninguém pode reter para si o alimento e os bens desse mundo. Tudo existe para ser partilhado, pois somos todos irmãos, na grande fraternidade universal. A justiça é a expressão maior da fraternidade. Como tal, o Senhor ensina que são “felizes os que têm fome e sede de Justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6).

 

Eucaristia é compromisso. Quem entra em comunhão com Cristo, na Eucaristia, há de viver em comunhão de amor com os irmãos. À mesa da palavra e à mesa eucarística, o Povo de Deus se alimenta e se revigora para a missão: anunciar Jesus Cristo ao mundo, para que todos o encontrem e n’Ele tenham esperança, de modo especial os que mais sofrem, os pobres e desamparados. Efeito da Eucaristia é o compromisso social do cristão na busca da justiça e da paz, empenhado em defender a vida, em cultivar e guardar a criação (Gn 2,15). A Eucaristia faz a Igreja e a alimenta continuamente na construção do Reino de Deus, cuja vinda anuncia e antecipa onde quer que ela seja celebrada, vivida e testemunhada. Nela, o cristão se reconhece nos braços, no coração e no sonho de Deus. “Tão sublime sacramento, adoremos neste altar”!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 15 de junho de 2017