ORA ET LABORA
Memória de São Bento Abade (11 de julho) – Patrono da Europa
Hoje, a Igreja celebra a memória de São Bento Abade (480-547). A partir do princípio: Ora et labora! Reza e trabalha!, ele torna-se “mestre de quantos se dedicam ao serviço de Deus” (oração da coleta). A liturgia da palavra apresentou, na primeira leitura (livro do Gênesis), a luta de Jacó com um ser sobrenatural (Gn 32,23-33) e o evangelho (São Mateus) narrou a cura de um mudo possuído pelo demônio e a compaixão de Jesus (Mt 9,32-38).
Jacó ficou só com Deus e lutou durante toda a noite. Deus vence e Jacó sai abençoado. Aprende que não se deve lutar contra Deus nem resistir perante seus desígnios, pois é Deus que deve vencer e, quando Deus vence, o ser humano sai vitorioso, pois “a glória de Deus é o homem vivo” (Santo Irineu). Pensar que se está lutando contra Deus é perder de vista que a luta de toda pessoa tem que ser consigo mesmo para vencer suas mazelas interiores que atentam contra a própria felicidade.
Passada a noite, finda a luta, desponta a aurora e Jacó recebe novo nome: Israel. Abençoado, dá ao lugar o nome de Fanuel, dizendo: “Vi Deus face a face e tive poupada a minha vida” (v. 31). Profundo encontro com Deus que o prepara e o impele para a missão! As trevas da noite dão lugar ao raiar de um novo dia e um novo tempo, em que Deus conduz a história do povo eleito pelos caminhos da libertação. Dos filhos de Jacó, sairão as tribos de Israel e de Judá; e do rebento de Jessé, a descendência da qual procede o Messias.
O evangelho proclamado (Mt 9,32-38) resume o ser e a missão do Messias: expulsar os demônios, ensinar como mestre verdadeiro que é, anunciar o Evangelho do Reino, curar todo tipo de doenças, ter compaixão.
O texto de hoje narra que “quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar” (v. 33). Enquanto as multidões se admiram, os fariseus contestam: “é pelo chefe dos demônios que Ele expulsa os demônios” (v. 34). Corações enrijecidos por uma prática religiosa fria e legalista não seriam de fato capazes de entender que “a letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Jesus, contudo, continuava a percorrer cidades e povoados. “Vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor (v. 36). Ele as alimenta e as consola. Mas precisa de colaboradores, missionários, pois “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (v. 37).
A Igreja, na variedade de dons e ministérios (cf. 1 Cor 12), dá continuidade à missão de Jesus Cristo e dos apóstolos. Filho da Igreja, São Bento trilha o caminho da santidade na vivência do carisma monástico. Mestre de sabedoria e oração, ele afirma: “antes de tudo, quando quiseres realizar algo de bom, pede a Deus com oração muito insistente que seja plenamente realizado por ele”. Nada de útil e bom acontece a não ser pela graça de Deus, obtida pela constância na oração. “O Senhor, na sua bondade, nos mostra o caminho da vida”, o caminho das boas ações e o zelo pelo bem “que separa dos vícios e conduz a Deus”.
Os ensinamentos e conselhos de São Bento aos monges se aplicam a cada cristão, especialmente os que se referem à caridade fraterna, temor a Deus, amor aos superiores, caridade humilde e sincera. Por exemplo: “ninguém procure o que julga útil para si, mas, sobretudo o que é útil para o outro”. Eis outro conselho: “nada absolutamente prefiram a Cristo”, isto é, “nada antepor ao amor de Cristo” (Regra, IV,21)! Ou seja: não se deve preferir nada em lugar de Cristo pois nada na vida substitui a Cristo; Ele sim é o maior tesouro e a maior alegria daqueles que o seguem e o servem. O amor a Cristo se realiza no serviço aos irmãos, especialmente os mais pobres e sofredores.
Na história da Igreja, o testemunho de santidade dos seguidores de Cristo tornou-se referência para o agir do cristão nas realidades do mundo, nas diferentes épocas e culturas. São Bento inspirou papas a escolherem esse nome como emblema para seu pontificado. Foi declarado Patrono da Europa pelo Beato Paulo VI, em 24 de outubro de 1964, considerando que “sua regra abre um caminho novo para a civilização europeia depois do declínio do império romano” (messale di ogni giorno – PIEMME).
Considere-se também que “na escola beneditina de serviço ao Senhor, ocupam lugar determinante a leitura meditada da Palavra de Deus e o louvor litúrgico, na liturgia das horas, alternados (leitura da palavra e louvor) com os ritmos de trabalho em clima intenso de caridade fraterna e ajuda mútua” (idem). Reconhecer e valorizar a presença beneditina na Igreja de hoje é ter presente os “centros de cultura e de promoção humana, a acolhida aos pobres e peregrinos” e tantos refúgios para a alma humana que são as abadias, mosteiros e casas de oração e de silêncio.
“O segredo é a oração. Deus é o amigo que nunca atraiçoa nem decepciona, e que, nesse colóquio sem palavras, anima, dá critério e nos robustece para a luta. Quantas preocupações e fardos aparentemente insuportáveis se desfazem à luz trêmula da lamparina de um Sacrário!” (Airton Luiz Sbrissa).
Segundo Edith Stein, “na eucaristia, que é a ação de graças pela criação, redenção e realização final, Cristo se oferece a Si mesmo em nome de todo o universo criado, do qual é o modelo original e ao qual desceu para o renovar a partir de dentro e o conduzir à sua realização. Mas também chama todo o mundo criado a apresentar com Ele ao Criador a homenagem de ação de graças a que Este tem direito” (cf. Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa “A oração da Igreja”).
O encontro com o Deus da vida e Senhor da História e a renovação do compromisso batismal de seguir os passos de Cristo, pastor compassivo e Senhor da Messe, se fortalecem e se solidificam com as inspirações emanadas do legado espiritual e apostólico de São Bento, atualizado na mais ampla dimensão cristã, eclesial e universal cada vez que sua memória é celebrada. Que São Bento nos defenda dos males desse século, particularmente o indiferentismo religioso, alcançando de Deus um renovado impulso no seguimento de Jesus e fidelidade à Santa Igreja.
E entre os modelos de amor, santidade e participação na missão de Cristo, destaque-se a presença materna da Virgem Maria, venerada no santuário de Aparecida como padroeira do Brasil e intercessora de graças abundantes e incontáveis derramadas durante trezentos anos que, em vibrante jubileu, neste ano se celebra. Dai-nos a bênção, ó Mãe querida, Nossa Senhora Aparecida! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 11 de julho de 2017.