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Palavra do Bispo | A Transfiguração do Senhor

A Transfiguração do Senhor

A Transfiguração do Senhor

 

A gloriosa transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo é a manifestação da glória de Deus para além das realidades que se vêem, ou seja, uma experiência, ainda que por reflexos lampejantes, da grandeza e beleza dos profundos e insondáveis mistérios da fé.

 

A Transfiguração é uma manifestação do ser e do reinado de Deus Pai. “Deus é rei, a terra exulta de alegria, todos os povos podem ver a Sua glória; Ele é o altíssimo Senhor”. (cf. Sl 96). A profecia de Daniel, na primeira leitura, em forma de visão apocalíptica, enuncia tal realidade ao descrever a figura do ancião de muitos dias e seu misterioso trono (Dn 7,9), diante do qual se encontra o Filho do Homem – figura do Messias que um dia viria a este mundo. O apóstolo Pedro afirma que Cristo recebeu “honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplendida glória fez-se ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer’” (2Pd 1,17).

 

A Transfiguração desvela também a inefável transcendência, preexistência e esplendor do filho de Deus, até então escondidos sob as aparências do servo sofredor, cuja imagem é retratada de forma impressionante pelo profeta Isaías e também na popular imagem do Senhor Bom Jesus. De fato, o hino cristológico de Filipenses proclama que Cristo, sendo de condição divina, esvaziou-se, assumindo nossa pobre condição humana (Fl 2,7).

 

Segundo o Profeta Daniel, Deus Pai confere ao Filho do Homem, imagem e figura do Filho Messias, o poder, a glória e a realeza. “Seu poder é eterno e não lhe será tirado; seu reino é um reino que não se dissolverá” (Dn 7, 14). E, do mesmo modo que o de Deus Pai, seu trono se apoia na justiça e no direito (Sl 96).

 

A Transfiguração atesta que em Jesus, em seus apóstolos e em toda a Igreja neles alicerçada, dá-se o cumprimento da lei e dos profetas, isto é, do Antigo Testamento, simbolizado em Moisés e Elias. “Na perspectiva de Mateus, Jesus transfigurado se apresenta como o novo Moisés, que encontra Deus sobre o novo Sinai no meio da nuvem, com o rosto reluzente, no alto de um monte porque, num monte, tanto Moisés, quanto Elias experimentaram a presença de Deus” (Pe. Claudionir Braga do Carmo).

 

E mais: a realidade divina, misteriosa e vitoriosa que se manifesta resplandecente na Transfiguração, apesar de ter um caráter transitório, prefigura e anuncia a ressurreição de Jesus Cristo. “A Transfiguração é uma inesperada transparência externa da realidade de Jesus” (Cantalamessa), que, naquele momento, “manifestou sua glória e fez resplandecer seu corpo igual ao nosso, para que os discípulos não se escandalizassem da Cruz” (Prefácio).

 

Nesse sentido, o episódio da transfiguração tem também uma palavra, um ensinamento e uma mensagem para cada ser humano, cada cristão e para toda a Igreja, visto que os cristãos, discípulos do Senhor ressuscitado, são peregrinos que caminham nesse mundo com olhos e corações voltados para as realidades do alto. Como afirma Santo Agostinho: o coração humano permanece inquieto enquanto não repousar em Deus. Imerso nos sofrimentos de toda sorte, o ser humano é destinado, como imagem e semelhança do criador e redimido pelo sangue do redentor, a superar a figura deste mundo e atingir a plenitude da glória dos filhos de Deus.

 

A beleza e esplendor daquele momento feliz tocam vigorosamente o coração dos discípulos. E a experiência mística por eles vivida adquire a força de um anúncio que continua ressoando nas comunidades dos primórdios da Igreja e nos cristãos de todos os tempos.

 

A Eucaristia celebrada e vivida proclama que, naquele momento, Cristo, “cabeça da Igreja, manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos” (Prefácio). E que “um dia, cada um de nós, e todo o universo, será transfigurado; deverá ser como Jesus, deverá assumir seu modo de ser, glorioso e espiritual” (Cantalamessa). A vida e a missão do cristão apontam continuamente para a radiante condição transfigurada de Cristo, que será a escatológica condição dos filhos da Igreja e da humanidade, quando e “para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15,28).

 

“Senhor, é bom ficarmos aqui”!

Que a Paz de Cristo reine em nossos corações!

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 05 de agosto de 2017