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Palavra do Bispo | Ordenação Diaconal - Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo

Ordenação Diaconal - Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo

HOMILIA NA ORDENAÇÃO DIACONAL

FRATERNIDADE DOS POBRES DE JESUS CRISTO

Frei Anawin Sentinela da Cruz

Frei Servo do Amor Chagado

Frei Tarcísio da Santíssima Virgem Maria

 

Catedral Diocesana de Sant'Ana, 20 de janeiro de 2018

 

Estimados irmãos no sacerdócio,

Queridos irmãos e irmãs,

 

Pela terceira vez, em menos de um mês, a Igreja Particular de Mogi das Cruzes se reúne nesta Igreja Catedral, em torno do Altar do Senhor, para uma Ordenação Diaconal. A cerimônia reveste-se também de especial significado para a Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, também conhecida como Fraternidade Missionária O Caminho, à qual pertencem os três eleitos, há pouco apresentados. Deste modo, Diocese e Fraternidade unem-se pela mesma feliz ocasião: a ordenação de três jovens religiosos que hoje serão particularmente consagrados como diáconos, isto é, servidores, da Palavra, do Altar e da Caridade.

 

O ministério diaconal que estes irmãos irão abraçar pertence ao patrimônio da Tradição Apostólica. Conforme está escrito no livro dos Atos dos Apóstolos, foi o Colégio Apostólico que escolheu sete homens de bem para servirem às mesas (cf. At 6,1-7b). A iniciativa dos Apóstolos transformou em realidade aquilo que, na Antiga Aliança, foi prefigurado pelo serviço dos levitas, conforme ouvimos na primeira leitura: “Faze com que a tribo de Levi se aproxime, e apresenta-a ao sacerdote Aarão para que o sirvam. Os levitas se encarregarão de tudo o que diz respeito a Aarão e a toda a comunidade, diante da Tenda da Reunião, no serviço da morada de Deus” (Nm 3,6-7).

 

Deus Onipotente, na sua infinita sabedoria, dispôs a divisão das responsabilidades relativas ao culto divino e ao serviço do antigo santuário. Inspirada pelo Espírito Santo, a Igreja, na pessoa dos Apóstolos, dispôs que os sacerdotes da Nova Aliança fossem também contemplados com um grupo de solícitos servidores que os auxiliassem não apenas no que diz respeito ao culto, mas também, no serviço às mesas.

 

Queridos filhos! Estais para ser admitidos à Ordem do Diaconado! Lembrai-vos, pois, deste dever precípuo de vosso novo estado: o serviço, isto é, a diaconia. Aliás, não se trata de mero dever ou tarefa, mas da natureza íntima e constitutiva do vosso ministério. Sois chamados a servir o Senhor Jesus na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue consagrados para a salvação da humanidade e naqueles para os quais Ele reservou um lugar tão especial no seu plano de amor: os pobres.

 

A perícope evangélica que foi proclamada recolhe uma parábola assaz propícia para esta cerimônia solene e que deve tornar-se hoje para vós um conselho do próprio Cristo: “Sede como homens que estão esperando seu Senhor” (Lc 12,36). Esta é uma marca da Igreja: a vigilante  e ativa esperança na volta do Senhor. A Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, da qual fazeis parte, é um sinal claro desta consciência da Igreja de que somos apenas servos d'Aquele que virá. Virá, baterá à porta do nosso mundo e fará felizes aqueles que Ele encontrar acordados e vigilantes (cf. v. 37).

 

“Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35)! Aqui, queridos irmãos e irmãs, encontramos dois aspectos da espiritualidade da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo sobre os quais convém meditar, uma vez que coincidem perfeitamente com duas características importantes do diaconado transitório: a castidade e a disponibilidade. Com efeito, a castidade é um dos três votos tradicionais emitidos pela Família Franciscana. A disponibilidade, por sua vez, é um quarto voto que a inspiração do Fundador, Pe. Gilson Sobreiro, colocou na espiritualidade da Fraternidade.

 

O diácono transitório – diversamente do que ocorre com o diácono permanente – destina-se ao sacerdócio ministerial na Igreja Latina. Assim sendo, abraça a realidade do celibato “por amor do Reino dos céus, a serviço de Deus e da humanidade”, conforme reza o Ritual da Ordenação. A sociedade nem sempre compreende e valoriza o dom sobrenatural do celibato. Contudo, o celibato é uma graça concedida por Deus aos seus eleitos em favor da humanidade. O ministro celibatário é justamente um sinal daquelas realidades futuras para as quais acenou Cristo no Evangelho de hoje.

 

O outro elemento que se destaca indiretamente no Evangelho é a disponibilidade, sugerida pela atitude de espera dos servos, convidados a manterem acesas as suas lâmpadas. Cristo vem a nós diariamente na Eucaristia, de um modo real e substancial, mas vem também de outras formas, especialmente na pessoa dos pobres. A virtude da disponibilidade, quarto voto emitido pelos membros da Fraternidade, indica que, para ir ao encontro e ao serviço dos pobres, não importa a hora, se “à meia-noite ou às três da madrugada” como disse o Evangelho, o que importa é que o servo – o diácono – esteja disponível.

 

Queridos filhos, na bimilenar história da Igreja, encontramos vários exemplos de disponibilidade, mas é útil acenar a um todo particular testemunho dado por um diácono. Sabe-se que São Lourenço, diácono do Papa São Sisto II, recebeu dele a administração dos bens materiais da Igreja e foi encarregado de cuidar dos pobres de Roma. Durante a cruel perseguição que a comunidade cristã sofreu naquela cidade, o diácono Lourenço foi intimado pelo Prefeito a apresentar o tesouro da Igreja. O Santo reuniu os pobres, os aleijados e toda sorte de necessitados e apresentou-os ao Prefeito dizendo: eis aqui os grandes tesouros da Igreja! Esse gesto de São Lourenço despertou a ira do Prefeito que mandou queimá-lo vivo.

 

É um episódio modelar para vós, queridos filhos, que hoje sereis especialmente encarregados desses tesouros da Igreja que são os pobres. Essa foi a intuição primeira do Pe. Gilson Sobreiro, Fundador da Fraternidade, colocando o zelo para com os pobres como ponto fundamental da espiritualidade da nova associação. E aqui se fala dos pobres de hoje, pobres reais nas mais diversas e gritantes realidades de exclusão produzidas pelas injustiças da sociedade.

 

Filhos, a Igreja que hoje vos escolhe para o ministério diaconal reconhece também os esforços que cada um de vós já tendes testemunhado no serviço diário aos pobres. Com efeito, desde sua fundação, a Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo tem se esmerado sempre mais para promover atividades de assistência e acompanhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade social: moradores de rua, dependentes químicos, encarcerados, menores da Fundação Casa e tantos outros necessitados que encontram nos irmãos e irmãs da Fraternidade o apoio espiritual, psicológico e material de que tanto carecem. Destaca-se nesse sentido o trabalho que tendes realizado na Cracolândia num testemunho de amor concreto e verdadeiro pelos irmãos mais necessitados. Deus vos recompense, queridos eleitos, bem como a todos os irmãos e irmãs da Fraternidade, pelo sinal maravilhoso que ofereceis ao mundo, em nome da Igreja.

 

Este amor pelos mais pobres aliou-se à disponibilidade antes mencionada e levou um grupo significativo de membros da Fraternidade a se colocar a serviço da Igreja de Deus que está na África. No próximo dia 17 de março, será celebrada a Missa de envio de um grupo de irmãos e irmãs, incluindo o Frei Boaventura, será enviado para a Diocese de Pemba, em Moçambique, como discípulos missionários, àquele povo sofrido e necessitado. Atendendo uma vez mais ao chamado da Igreja, através do Regional Sul 1 da CNBB, a Fraternidade dá mostras de serviço e disponibilidade. Aí tendes, queridos eleitos, mais um edificante exemplo de serviço abnegado. Imitai-o!

 

Por fim, irmãos e irmãs, elevemos a Deus nossa gratidão por estes três irmãos – Anawin, Servo e Tarcísio – que Ele chamou para servirem ao Seu povo como diáconos. Rezemos sempre para que o Senhor envie trabalhadores para a Messe que é tão grande e que carece de tantos e bons operários (cf. Lc 10,2). A Virgem Maria, modelo de servidora e missionária, seja para todos exemplo de total abandono à vontade d'Aquele que em nós realiza maravilhas (cf. Lc 1,39). Amém.

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo Diocesano

Mogi das Cruzes, 20 de janeiro de 2018