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Palavra do Bispo | O Tempo de Deus

O Tempo de Deus

Jesus inicia seu ministério afirmando que “o tempo se completou e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15), ou seja, “o tempo está realizado”. A chegada de Jesus significa a plenitude do tempo. Paulo afirma que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29), isto é, ficou breve, encurtado, diminuído, urgente. Jesus fala do tempo de Deus enquanto Paulo fala do tempo da Igreja. Contudo, os dois usam o termo grego kairós, e não chronós, pelo fato da missão de Cristo e da Igreja se revestir de um caráter transcendental e escatológico, apesar de realizada no tempo cronológico da história humana.

 

Paulo prossegue afirmando que “a figura desse mundo passa” (1Cor 7,31). Figura é a tradução do termo grego schema. De fato, os esquemas, estruturas, elaborações, teorias científicas, tudo é passível de correção, substituição ou caducidade. Permanecerá, contudo, o Reino de Deus, que, segundo o mesmo apóstolo, “não é comida nem bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,17).

 

A mensagem bíblica acerca do tempo de Deus apresenta, em primeiro lugar, um conteúdo espiritual, pois o cristão, cidadão do Reino, é chamado a aspirar as realidades do alto. O caráter absoluto do tempo-kairós de Deus confronta-se com o caráter transitório, provisório e limitado do tempo-chronós das atividades humanas. O primeiro está para ao segundo numa relação de incomensurável superioridade. O tempo da vida terrena é uma gota d’água no oceano da eternidade de Deus.

 

Em segundo lugar, há um conselho sapiencial acerca do kairós, propondo a virtude da vigilância, conforme as palavras de Jesus: “que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas!” (Lc 12,35). O longínquo olhar da fé e a esperança ativa do cristão impelem-no a não perder tempo, a saber viver com intensidade a preciosa dádiva do tempo que Deus concede. É sábio aquele que aprende a correr rumo ao certame que Deus propõe, escolhendo o caminho da verdade e da justiça, pois “os justos brilharão como o sol no Reino do Pai” (Mt 13,43).

 

Em terceiro lugar, há um conselho ético-moral, referente ao agir humano e ao bem a ser realizado. Em sua condição de ser temporal, espacial, finito e contingente, o ser humano foi criado, antes de tudo, para louvar o Criador. Como discípulo de Cristo, é chamado a viver as bem-aventuranças evangélicas da pobreza, mansidão, pureza de coração, misericórdia, empenho pela justiça e pela paz.  E praticar as obras de misericórdia, saciando os famintos e sedentos, visitando doentes e prisioneiros, acolhendo os peregrinos. Tais conselhos éticos seguem na linha da caridade.

 

Deus – em sua sabedoria, perfeição, eternidade e santidade – constitui-se no critério que norteia o ser humano para o bem e o torna capaz de frutificar em boas obras. A felicidade consiste em caminhar na luz e iluminar as sendas de outros caminhantes. “Brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 22 de janeiro de 2018

Memória de São Vicente, diácono e mártir