Home

Palavra do Bispo | Missa do Crisma – Santos Óleos

Missa do Crisma – Santos Óleos

VÓS SOIS SACERDOTES DO SENHOR (Is 61,6)

 

A Missa Crismal, celebrada na manhã da quinta-feira santa, reúne, na catedral, o presbitério, unido ao bispo, para comemorar a instituição do sacerdócio. Esta celebração exalta a participação do povo cristão no sacerdócio de Jesus Cristo, pela graça do batismo na força do Espírito Santo. O sacerdócio é o coração do dom da páscoa e da vida nova de todo o povo de Deus.

 

Na missa dos Santos óleos, a Igreja ressalta as diferentes dimensões do sacerdócio: o de Cristo, o dos fiéis e o dos ministros sagrados. Os bispos e os sacerdotes, constituídos na última ceia “servos do mistério”, ao concelebrarem juntos, renovam a unção e a consagração, significando a unidade do seu sacerdócio ao de Jesus Cristo, Pontífice da nossa fé.

 

A missa dos santos óleos é marcada por dois ritos de fundamental importância, significado e beleza. O primeiro é a renovação das promessas do dia da ordenação que fazem os padres, ressaltando o caráter sacerdotal da Igreja. O segundo é a bênção dos santos óleos do batismo e dos enfermos e a consagração do santo crisma, exprimindo o caráter sacramental da Igreja.

 

O antigo testamento se refere ao Povo de Deus como povo sacerdotal (Ex 19,6). Esta mesma referência, no novo testamento, se aplica a Jesus Cristo e ao povo sacerdotal da nova aliança, visto que por seu sangue [Ele] nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai (Ap 1,5b-6a; cf. 1Pd 2,9).

 

O Sacerdócio

 

Sobre o sacerdócio, o Profeta Isaías afirma: Vós sois os sacerdotes do Senhor (Is 61,6a). A Carta aos Hebreus aprofunda essa teologia, afirmando que Jesus Cristo é o sumo sacerdote “misericordioso e fiel” (Hb 2,17) e que, por isso, temos um sumo-sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus o Filho de Deus. Ele é capaz “de se compadecer de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo, com exceção do pecado” (Hb 4,15).

 

Os sacerdotes são “ministros de Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo”. O prefácio da missa de ordenação – com o título: “sacerdócio de Cristo e o ministério dos sacerdotes” – proclama que “pela unção do Espírito Santo”, o Pai constituiu seu “Filho unigênito Pontífice da nova e eterna aliança”, estabelecendo que “seu único sacerdócio se perpetuasse na Igreja”. Por isso, “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio real. E, com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.

 

De fato, Jesus Cristo escolhe ministros para governar sua Igreja como pastores e serem sacramento de salvação para a humanidade. Assim, o sacerdócio ministerial é exercido, na unidade e na obediência, para o bem do povo sacerdotal congregado na Igreja, que é a assembleia dos discípulos do Senhor.

 

A celebração dos sacramentos – especialmente a Eucaristia, a Confissão e a Unção dos Enfermos, cuja presidência é reservada aos presbíteros – constitui a marca da identidade sacerdotal do padre. Por isso, os dois ritos inseridos na missa do crisma – a renovação das promessas sacerdotais e a bênção e consagração dos santos óleos – estão intrinsecamente ligados.

 

Os sacramentos na Igreja: “óleo da alegria em vez da aflição”! (Is 61,3)

 

Na vida da Igreja, os sacramentos são fonte inesgotável da graça de Deus e sinais visíveis e eficazes de sua presença e de seu amor. São canais dos bens espirituais que a Igreja transmite aos fiéis por meio dos seus ministros, conforme o mandado de Jesus Cristo aos Apóstolos, ao serem enviados ao mundo inteiro para evangelizar e salvar.

 

O óleo é a matéria utilizada na celebração de vários sacramentos. O óleo dos catecúmenos é matéria que faz do batismo fonte inicial da vida nova, purificação da culpa original e inserção na comunidade e na missão da Igreja, como discípulos missionários. O Crisma é o óleo misturado com perfumes, o óleo da alegria e é a expressão da nova existência em Cristo, conferindo os dons do Espírito Santo no batismo, na crisma e na ordem. O óleo dos enfermos, com referência já no novo testamento, é sinal da força que liberta do mal, sustenta e fortalece na provação da doença.

 

Os presbíteros na missão da Igreja: ‘ministros do nosso Deus’! (Is 61,6)

 

O Decreto conciliar Presbyterorum Ordinis afirma que “os presbíteros, consagrados por Deus, ... introduzem as pessoas no povo de Deus pelo batismo; pelo sacramento da penitência, reconciliam os pecadores com Deus e com a Igreja; com o óleo dos enfermos, aliviam os doentes; com a celebração da eucaristia, oferecem sacramentalmente o sacrifício de Cristo ... Com efeito, na santíssima eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ... a eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização ... é o centro da assembleia dos fiéis a que o presbítero preside” (PO 5).

 

No sacramento da Reconciliação representam o Cristo como mediadores do perdão de Deus, como “autênticos ministros da misericórdia” para que os fiéis “tenham uma experiência viva do rosto de Cristo bom Pastor”.

 

Pelo Sacramento da Ordem, portanto, os sacerdotes são configurados ao Cristo mestre, sacerdote e pastor. Homens escolhidos por Deus, são chamados do meio do povo, ungidos com “o óleo da alegria”, investidos de autoridade como “ministros do nosso Deus” (cf. Is 61,6). 

 

O presbitério diocesano

 

No que se refere aos presbíteros e sua pertença ao presbitério, a Missa do Crisma é celebrada como Eucaristia da unidade da Igreja diocesana. Pela ordenação, os ministros constituídos participam do mistério do sacerdócio de Cristo em cada Igreja particular. E, ao renovar as promessas sacerdotais, reafirmam e reavivam a unidade da Igreja no vínculo mais profundo de comunhão eclesial.

 

A fraternidade presbiteral e o vínculo sacramental e afetivo com o ministério episcopal garantem o sentido mais profundo – ontológico – do sacerdócio e do ministério pastoral dos presbíteros na Igreja. A partir desse vínculo sagrado, os ministros ordenados encontram sua verdadeira alegria, no serviço a todo o povo de Deus, especialmente aos pobres.

 

Pela renovação das promessas sacerdotais, os presbíteros agradecem o dom especial de Deus com que foram revestidos na ordenação, pedindo a graça da perseverança no santo serviço. Com o clero – bispos, padres e diáconos –, toda a Igreja particular agradece a Deus a graça sacerdotal na vida de cada presbítero, colocado pelo Cristo bom pastor a serviço das comunidades eclesiais e de todo o povo, com seus anseios e aspirações mais profundos.

 

A diocese de Mogi das Cruzes rende graças a Deus pelos cerca de 85 padres nela incardinados e outros 25 pertencentes a diversas congregações e institutos religiosos, sem esquecer os padres Fidei Donum. Faz-se grata memória dos dois padres que faleceram em 2017: Pe. João Rosa aos 22 de março e Pe. Atílio aos 3 de setembro. Faço-me também portador do reconhecimento e gratidão do povo católico da diocese pela apostólica dedicação de cada pároco, administrador, vigário paroquial. Os padres dão verdadeiros e edificantes testemunhos de desprendimento e amor e dedicação ao rebanho confiado a eles, seus pastores. É momento de rezar pelas vocações e reforçar o compromisso para com o seminário diocesano, as obras das vocações, a pastoral vocacional, e que cresça sempre mais o número de amigos do seminário. Com os ministros ordenados, com os vocacionados, as consagradas e consagrados, com todos os fiéis batizados, a Igreja diocesana se empenha em crescer cada vez mais no espírito missionário, continuando sua presença e testemunho na diocese de Brejo – MA e, a partir de agora, em Pemba – Moçambique, África.

 

A alegria de ser padre corresponde à alegria de servir e dar a vida na imitação de Cristo, alegria por exercer o ofício sacerdotal na Igreja, em favor da humanidade e alegria na cooperação com o ministério do bispo no serviço aos irmãos.

 

Os ministros ordenados participam da consagração de Cristo e de sua tríplice missão: a profética, como anunciadores de esperança, especialmente para os pobres; a sacerdotal abençoando e santificando o povo de Deus; e a pastoral enquanto configurados ao Cristo bom pastor no exercício da caridade.

 

Evangelizar é a missão da Igreja decorrente da missão de Cristo: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa-nova aos pobres (Is 61,1; Lc 4,18). Conforme esse texto de Isaías, retomado por Lucas, evangelizar os pobres implica, libertar os cativos e prisioneiros, curar as feridas da alma, dar vista aos cegos e proclamar um tempo novo de graça e salvação. Testemunhando a presença de Deus e de sua salvação em Cristo, o cristão torna-se sinal e instrumento do Reino de Deus no mundo.

 

Venha em auxílio dessa Igreja diocesana, a proteção de Sant’Anna, nossa padroeira e a intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja e dos sacerdotes. Amém!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo diocesano

Mogi das Cruzes, 29 de março de 2018.