“Respondei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor”! (Sl 68/69). Esta prece sai do coração de todo ser humano ao se colocar diante de Deus, apresentando-lhe suas necessidades e angústias. É a prece que fala do sofrimento e renova a coragem dos profetas. Incompreendido e rejeitado ao proclamar a palavra de Deus, o salmista afirma: “Por vossa causa é que sofri tantos insultos e o meu rosto se cobriu de confusão; tornei-me um estranho a meus irmãos” (Sl 68,8.9).
Jeremias, por exemplo, recebe de Deus a seguinte ordem: “Põe-te de pé no átrio da casa do Senhor e fala todas as palavras que eu te mandei dizer. Não retires uma só palavra” (Jr 26,2). Ou seja, Deus lhe pede que, em seu nome, exorte o povo a viver segundo a Lei e escutar as palavras proféticas; caso contrário, recairia sobre a cidade a devastação. Jeremias cumpre a ordem do Senhor, mas os sacerdotes, seus profetas e o povo, contudo, o rejeitaram e o colocaram na prisão.
Com Jesus não foi diferente; em Nazaré, sua terra, admiraram-se de sua sabedoria e dos milagres que realizava (Mt 13,54), mas ao mesmo tempo ficaram escandalizados por causa dele, ao que, Jesus reage dizendo que “um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família” (Mt 13,57).
Os cristãos e, sobretudo, os ministros da Igreja, são revestidos da missão profética de anunciar a Palavra de Deus, proclamando a verdade de Jesus Cristo e seu evangelho. Um aspecto fundamental dessa missão é a defesa da Vida e da Família. A vida, maior dom de Deus, banalizada e desvalorizada pela violência crescente na sociedade, encontra-se igualmente fragilizada pela militância em favor da legalização do aborto, para o que, lamentavelmente, se conta até com a anuência de setores importantes dos poderes constituídos: “quer-se mudar a lei mediante o poder judiciário” (Nota da Comissão da Vida e Família, 25.07.2018). A palavra da Igreja continua clara e firme em defesa da vida dos inocentes.
Outro campo da atuação profética da Igreja que, do mesmo modo, atrai incompreensão, crítica, rejeição, perseguição e sofrimento aos cristãos, é a luta pela justiça social e a transformação da sociedade. Contudo, em nome do Evangelho, a Igreja se coloca ao lado dos pobres, na conquista de seus direitos e na defesa da dignidade de todo ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
A perseverança dos profetas se sustenta na mística e na espiritualidade do pastoreio. Vale a pena estar com o povo, colocar-se a seu serviço, sofrer com e por ele, a exemplo de Jesus, o Bom Pastor, que conhece suas ovelhas e por elas dá sua vida.
A Eucaristia, fonte, centro e ápice da vida da Igreja e de cada cristão, é o maior dom de Cristo em sua vida terrena, visto que, na Última Ceia, antecipou e deixou como memorial o gesto máximo da entrega de seu corpo e sangue na cruz. A Eucaristia une a comunidade eclesial em torno ao altar de Cristo, para celebrar o mistério da fé, centralizado na paixão, morte e ressurreição do Senhor. A consequência da participação na Eucaristia é o testemunho de amor ao próximo, serviço da caridade, que se traduzem na solidariedade e no compromisso social, particularmente com os pobres.
O testemunho profético da Igreja no mundo, isto é, na sociedade, acontece pela participação ativa de todos os cristãos: leigos, consagrados e ministros ordenados, na vivência da diversidade de carismas e ministérios. É o Espírito Santo que conduz a Igreja, em cuja ação, o impetuoso vento de Pentecostes continua, no decorrer da História, renovando a face da Terra.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 03 de agosto de 2018