HOMILIA DA ORDENAÇÃO SACERDOTAL
Diácono Ismael Almeida Santana
Diácono Jônatas Pereira Diniz
Catedral Diocesana de Sant'Anna, 22 de setembro de 2018
UNGIDOS PELO ESPÍRITO SANTO
PARA APASCENTAR O REBANHO DO SENHOR!
Ó Senhor, eu cantarei eternamente o Vosso amor! (Sl 88/89,2). Na alegria da ordenação presbiteral dos diáconos Ismael de Almeida Santana e Jônatas Pereira Diniz, a Diocese de Mogi das Cruzes, representada por todos os que se fazem aqui presentes, ergue um hino de louvor ao Deus Altíssimo. Esse salmo proclama que Deus unge seus servidores com óleo consagrado e com eles estará sempre sua mão onipotente e seu braço poderoso (cf. vv. 21.22). E que sua verdade e seu amor estarão sempre com seus ungidos (cf. v. 25).
A Igreja recorda que, pela ordenação, os eleitos, “configurados ao Cristo, sumo e eterno Sacerdote, unidos ao sacerdócio dos Bispos, serão consagrados verdadeiros sacerdotes da Nova Aliança para pregar o Evangelho, apascentar o Povo de Deus e celebrar o culto divino, principalmente no Sacrifício do Senhor” (Homilia do Pontifical). Os diáconos Ismael e Jônatas foram preparados para isso, de modo particular pelo estudo de filosofia e teologia e na vida pastoral, nas diversas comunidades e paróquias nas quais exerceram apostolado nesses anos de formação.
A Igreja diocesana rende graças ao Senhor da messe, que não deixa o rebanho perecer por falta de pastores; ao mesmo tempo em que acolhe os eleitos e com eles se alegra, suplicando ao Pai as graças que necessitam para serem pastores segundo o coração de Cristo (cf. Jr 3,15), o bom pastor. Eles serão constituídos ministros e imitadores de Cristo, colaboradores na Igreja e servidores de todo o Povo de Deus, para evangelizar os pobres, curar os contritos de coração e libertar os oprimidos (cf. Lc 4,18).
A primeira leitura (Nm 11,11b-ss) recorda que aqueles cuja responsabilidade é anunciar a palavra, como profetas, e guiar o povo, como pastores, necessitam de colaboradores. Foi assim com Moisés, com Jesus, os apóstolos e seus sucessores. Os presbíteros são, na Igreja, colaboradores na obra da Evangelização, como profetas, sacerdotes e pastores do povo de Deus. Como outrora Moisés suplicou a Deus dizendo que já não podia “suportar sozinho o peso de todo este povo” (Nm 11,14), também os bispos imploram, na prece de ordenação, rezando: “concedei, também agora, à nossa fraqueza, Senhor, estes cooperadores, de que tanto necessitamos no exercício do sacerdócio apostólico”. E Deus lhes responde, suscitando colaboradores e derramando sobre eles o Espírito Santo, para que se ponham a profetizar (cf. Nm 11,25).
Ou seja, “para formar um povo sacerdotal, Deus estabelece, em diversas ordens, os ministros de Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo” (cf. Prece de ordenação).
A segunda leitura (At 20,17-ss), relata que Paulo, partindo para Jerusalém, mandou chamar os presbíteros da Igreja de Éfeso, e disse-lhes: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue de seu próprio Filho” (At 20,28).
A recomendação aos presbíteros: “cuidai de vós mesmos” se refere à necessária solidez da vida espiritual. Quando exorta: “cuidai do rebanho” o apóstolo está se referindo à missão dos presbíteros, isto é, à caridade pastoral a ser por eles exercida. A expressão “cuidai como guardiães” evoca a missão dos bispos, haja vista que o termo ‘guardião’ é uma possível tradução da palavra grega ‘episcopos’ (episkopoV). Portanto, a presença dessa palavra sublinha o caráter de colaboração que caracteriza a relação presbítero e bispo, isto é, os presbíteros são, antes de tudo, colaboradores dos bispos.
O mesmo Espírito Santo que conduz a Igreja, consagra e unge os eleitos, sustentando-os na missão e fortalecendo-os nas tribulações. Paulo já experimentara o quanto a missão comporta sacrifícios, renúncias, sofrimentos, incompreensões e até perseguições. E o recorda aos presbíteros de Éfeso dizendo: “o Espírito Santo atesta que me aguardam cadeias e tribulações” (At 20,23), isto é, “aparecerão lobos ferozes que não pouparão o rebanho” (At 20,29). Quantos ataques e críticas, hoje, recaem sobre a Igreja; algumas justas, grande parte delas injustas e infundadas. Só uma vida espiritual consistente, perseverante, enraizada em Jesus Cristo, pode vencer tais adversidades. Jesus mesmo já dissera: “eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3). Disse também: “se alguém quer me seguir, tome a sua cruz e me siga; ... quem perder a sua vida por causa de mim e do evangelho vai salvá-la” (Mc 8,35). Também o ministério dos presbíteros percorre esse caminho, visto que o ministro sagrado, como Cristo, veio “não para ser servido mas para servir e dar sua vida (Mc 10,45), como “o bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11).
O convite radical de Cristo aos discípulos procede do seu testemunho radical de amor, na correspondência ao amor de Deus Pai, “que amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
É assim que, no Evangelho, o desafio que Jesus propõe a Simão Pedro aparece como uma esplêndida síntese: “Tu me amas? ... Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21,15-17). O amor a Cristo se concretiza no amor aos irmãos. É o amor do supremo pastor, que disse: “dou minha vida por minhas ovelhas” (Jo 10,15). O amor do pastor é a caridade pastoral. A verdadeira alegria do bom pastor é ser modelo e guia para o rebanho, é dar a vida por amor, que se traduz em caridade, solidariedade, oblação, serviço aos pequenos e aos pobres, comunhão de vida. “Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (Jo 10,15). Pastor e rebanho se conhecem, presbítero e comunidade vivem em comunhão; tornam-se eucarísticos. E tudo o que é eucarístico rompe limites e fronteiras, abre novos horizontes, no dinamismo da missão.
O feliz acontecimento da ordenação sacerdotal destes dois irmãos oferece ocasião de particular ação de graças ao Senhor que torna sempre mais fecunda a missão evangelizadora da Igreja ao enviar novos trabalhadores para a messe. Neste ano de 2018, a Diocese de Mogi das Cruzes foi agraciada com oito diáconos permanentes e, até agora, nove novos sacerdotes. Nossa gratidão que em prece é dirigida ao Senhor, vai também a estes mesmos sacerdotes que, junto às suas comunidades, confortam os corações pela Palavra de Deus e infundem, pelos Sacramentos, as graças da redenção na alma dos fieis.
Queridos irmãos e irmãs, participando hoje da alegria desta Igreja Diocesana, rezai por estes eleitos que serão ordenados sacerdotes. Pedi constantemente a Deus pela santificação do clero diocesano e pela perseverança daqueles que o Senhor chamou a segui-lo mais de perto, como ministros sagrados.
A oração dos fieis sustenta a vida e o ministério dos sacerdotes; a proximidade espiritual do rebanho faz crescer nos pastores o zelo e a caridade. Que Sant'Ana, nossa querida Padroeira, interceda a Deus pela nossa Igreja Particular. Que a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja e dos sacerdotes, proteja o nosso clero diocesano e torne sempre mais fecundo o ministério dos novos sacerdotes. Amém.
Dom Pedro Luiz Stringhini
Mogi das Cruzes, 22 de setembro de 2018